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Lula: de tese biográfica a roteiro de cinema
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
11/12/2004 | 11:00
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De tratado acadêmico a biografia e, por fim, roteiro adaptado de cinema. A jornalista Denise Paraná mudou o rumo de sua tese de doutorado em História pela USP (Universidade de São Paulo) ao perceber que a vida do personagem que tinha em mãos daria uma biografia e um filme. Ela propôs mudar tudo o que tinha feito até então se ele e sua família concordassem com uma entrevista. O tal personagem topou, mas desde que ela não lhe "puxasse o saco". Era mais uma tirada popular de Luiz Inácio Lula da Silva, feita durante um encontro ocorrido após a primeira campanha presidencial disputada por Lula – na ocasião ganhou Fernando Collor –, em 1989.

O resultado foi o livro Lula, o Filho do Brasil (Fundação Perseu Abramo, 528 págs., R$ 35) lançado em 1996, com entrevistas feitas com familiares e conhecidos, e relançado em 2002 com novos depoimentos. "Como ele confiou em mim, transmitiu confiança a seus irmãos e irmãs. Eles me receberam e abriram seus corações. Todos choraram nas entrevistas. Lula também. Sempre quis mostrar o livro a ele antes de lançar, mas ele disse que não queria ver antes de jeito nenhum". Sua tese, abandonada a princípio, seria sobre operárias da indústria têxtil no início do século XX. Trabalhando próximo a Lula durante o chamado "governo paralelo" de oposição, viu que a vida de seu biografado se confundia com a história recente do país – sindicalismo, abertura política, movimento Diretas Já...

O passo seguinte de Denise foi levar a cabo o roteiro para um filme, que será produzido no ano que vem, sobre a família de Lula, enfocando a mãe do presidente, dona Lindu, como personagem principal. Após a publicação do livro, houve contatos com produtores do exterior até fechar com Luiz Carlos Barreto, o Barretão, o maior produtor nacional de cinema, responsável por Dona Flor e Seus Dois Maridos, O Quatrilho e outros sucessos de público. O olhar brasileiro sobre essa história brasileira era fundamental para ambos, e desse encontro surgiu a proposta de um documentário sobre a trajetória de Lula e sua família – sobretudo dona Lindu –, de Pernambuco até o Grande ABC.

Denise será roteirista e participará da elaboração do filme, que tem lançamento previsto no Brasil antes das eleições de 2006. "A história da família Da Silva, simples, sofrida, complexa e, ao mesmo tempo, grandiosa traduz o espírito brasileiro. Dona Lindu foi o pilar da família, a formadora da personalidade do Lula. Foi para ela o primeiro agradecimento do ex-sindicalista ao vencer a eleição. Ela era uma humanista: não via o mundo a partir de esquerda ou direita. Para ela, o ser humano valia mais que tudo. O sonho de sua vida era que as filhas não virassem prostitutas e os filhos, marginais. Viveu no limite da miséria, mas manteve bom humor vendo a vida pelo lado positivo. Era pobre, mas ajudava muita gente", diz Denise, que voltará ao sertão de Pernambuco para entrevistar novos personagens.

O recorte cronológico são os "dois nascimentos" de Lula, o físico e o político nos anos 1980. "Mas o filme não será político. Queremos mostrar o barro do qual Lula foi formado. O ideal é que, como no meu livro, todo mundo veja nele o que quiser ver, pois terá todos os elementos".

Barreto afirma que pretende revelar a alma de Lula em um documentário com encenações, ou docudrama. Convidou Fernanda Montenegro para narrar o filme como a voz de dona Lindu. Haverá cenas de arquivo e cenas recentes, e outros atores não estão confirmados. A produção custará de R$ 3 a R$ 4 milhões e não terá patrocínio estatal nem de leis de incentivos fiscais. Terá financiamento privado e será negociada com canais de TV europeus. Um dos mercados do filme para 2005, provavelmente estreando em outubro, é a França, que será palco do ano cultural dedicado ao Brasil. Junto com Entreatos, de João Moreira Salles, e Peões, de Eduardo Coutinho, o filme de Barreto e Denise formará uma "trilogia não combinada" sobre Lula.




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