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Zona Azul rende mais de R$ 21 milhões

Cada vaga opera 10 horas, mas arrecada R$ 5,49 ao
dia, valor que coloca em xeque a quantia acumulada

Por Daniel Macário
do Diário do Grande ABC
21/12/2015 | 07:07
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André Henriques/DGABC


 Empresas responsáveis por estacionamentos rotativos da região, as famosas vagas de Zona Azul, embolsaram entre janeiro e novembro deste ano aproximadamente R$ 21,2 milhões em cinco municípios do Grande ABC. Apesar de significativo, o montante indica que cada espaço da região foi responsável por receita de R$ 5,49 por dia. Sem vagas ociosas e com preço médio de R$ 1,50 a R$ 2 por 60 minutos, o valor informado pelas prefeituras coloca em dúvida o ganho real do serviço.

Na sexta-feira, a equipe do Diário percorreu três estacionamentos rotativos, localizados em Santo André, São Bernardo e Diadema, nos períodos da manhã e tarde, e confirmou o que motoristas enfrentam todos os dias: vagas de Zona Azul são disputadas carro a carro e dificilmente ficam vazias.

Ao todo são 13.957 espaços rotativos espalhados por cinco cidades da região. Rio Grande da Serra não possui o serviço e Ribeirão Pires não retornou a demanda até o fechamento desta edição.

Cada vaga do rotativo, que opera durante a semana das 8h às 18h e aos sábados, das 8h às 13h, em uma conta hipotética, deveria, no mínimo, lucrar em torno de R$ 15 por dia, quase R$ 10 a mais que o montante divulgado pelas empresas e prefeituras.

Segundo comerciantes, encontrar uma vaga de Zona Azul desocupada é algo difícil. “É raro isso acontecer. Até porque são rotativas. As pessoas usam por período muito curto para gerar fluidez nesses espaços”, relata a comerciante de Diadema Marisa Mosquita, 58 anos.

Mesmo faltando a arrecadação referente ao mês de dezembro – um dos mais lucrativos em decorrência das festas de fim de ano – o valor arrecadado já é 39,36% superior aos R$ 15,2 milhões de 2014. Segundo levantamento das prefeituras, dessa quantia, cerca de 41% (R$ 8,8 milhões) foram destinados para os cofres municipais.

Santo André, que neste ano instalou 1.200 vagas por seu território, é o município com maior arrecadação na região. Ao todo, a Hora Park, concessionária que administra as vagas de Zona Azul andreenses, teve faturamento bruto de R$ 7,9 milhões, sendo que, dessa quantia, R$ 1,1 milhão foi repassado à administração municipal, que encaminha o valor para o Fumcad (Fundo Municipal dos Direitos das Crianças e do Adolescente).

Único município da região que não tem concessão do serviço público de estacionamento rotativo para empresas privadas, São Bernardo arrecadou neste ano R$ 6,2 milhões. Segundo o Executivo, toda verba obtida com as 3.200 vagas da cidade, exceto custos da Autarquia Rotativo, é transferida para programas sociais realizados pela Fundação Criança por meio de convênio.

Após ficar durante quase todo o ano de 2014 sem o serviço de estacionamento rotativo pago, São Caetano lucrou R$ 4,3 milhões. O Consórcio Estacionamento Rotativo São Caetano, formado pelas empresas Assistpark e Autophone, responsável pela Zona Azul na cidade, repassou 17% (R$ 1,1 milhão) para os cofres públicos. Segundo a Prefeitura, essa quantia é aplicada em melhorias do trânsito, retornando em benefícios aos motoristas e pedestres.

Responsável pelo serviço em Mauá, a Cello Park teve faturamento líquido de R$ 1,8 milhão de janeiro a novembro. Ao todo, 6,5% (R$ 118,3 mil) deste valor foi repassado para a Prefeitura e incorporado ao Fundo Municipal de Transporte, que utiliza o recurso em itens como tapa-buracos, terraplanagem, sinalizações horizontal e vertical, radar e educação do trânsito.

Diadema, por sua vez, arrecadou com suas 1.755 vagas total de R$ 811,6 mil. Dessa quantia, R$ 130 mil foram repassados para a administração municipal.

Questionados sobre a discrepância no valor da arrecadação diária dos sete municípios, Santo André foi o único a se posicionar. Em nota, a Prefeitura disse que os números são contabilizados por relatório mensal, o que indica que não há valores não informados.


Estacionamento rotativo é visto como alternativa para trânsito

Apesar de ser bastante questionada por usuários do serviço, a cobrança de vagas de estacionamento rotativo na região é vista como algo positivo por especialista e representante de comerciantes.

Segundo o professor da área de Mobilidade Urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC) Humberto de Paiva Júnior, apesar de ser um custo a mais para quem opta pelo uso do veículo individual, a cobrança da Zona Azul diminui o risco de congestionamento na região central dos municípios. “Se formos analisar, sem a existência dessas vagas os motoristas iriam ficar horas concentrados no Centro buscando por locais para estacionar. Hoje, com o serviço, as pessoas optam por parar em locais distantes dos comércios, impactando diretamente na melhor fluidez dessas áreas.”

O especialista ainda ressalta que, com a cobrança do estacionamento rotativo, muitos munícipes acabam optando por se locomover por meio do transporte público. “Isso impulsiona o uso de outros modais em momento crítico das grandes metrópoles, que veem o número de veículos aumentar a cada ano.”

Após a cidade ficar sem o serviço durante alguns meses do ano passado, o presidente da Aciscs (Associação Comercial e Industrial de São Caetano), Mauro Laranjeira, também vê como positiva a presença do estacionamento rotativo. “Em 2014, as pessoas fugiam dos comércios por falta da Zona Azul. Um exemplo mesmo foi o aniversário do município. Nenhum comércio estava aberto, mas todas as vagas rotativas da região central, como a Rua Manoel Coelho, estavam lotadas, pois moradores que trabalham em São Paulo deixaram seus carros nesses locais. Isso evidenciou o quanto o serviço é necessário e precisa ser bem administrado.”

Para o vendedor de Santo André Oswaldo de Abreu, 37 anos, as vagas de estacionamento rotativo impulsionam ainda mais as vendas do comércio de rua. “A presença delas facilita muito a locomoção dos consumidores. Sem essas vagas, quem iria parar seriam trabalhadores, o que não reverteria em lucro para nós.”




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