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Vila Linda, em Santo André, tem vendedor de discos na rua

Vital Macedo Rocha possui 7.000 vinis e comercializa suas raridades nas vias do bairro

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
03/10/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Vias importantes de Santo André, como a Rua Carijós e a Avenida Brasília, passam pela Vila Linda. Apesar de também ter muitos comércios, o local concentra pracinhas, igrejas e diversas residências, o que traz clima de cidade pequena e antiga.

Quem também colabora para essa sensação é Vital Macedo Rocha, 57 anos. Na esquina entre a Avenida Brasília e a Rua Bauru, seu veículo chama a atenção de quem passa. Rocha vende diversos discos de vinil na calçada às quintas-feiras e é conhecido dos moradores do bairro.

Ele possui cerca de 7.000 LPs, mas afirmou que, mesmo assim, não se considera colecionador. Os seus estilos preferidos vão desde MPB até o rock clássico.

“Sempre fui apaixonado pelo vinil e, com o tempo, fui comprando muitos discos. Quando me casei, acabei vendendo tudo e me arrependo até hoje porque logo depois comecei a comprar de novo. Agora tenho tanta coisa, que vai desde trilha sonora de novela até infantil”, contou.

Entre as raridades, Rocha já teve um LP da banda Bango, gravado em 1970. Foram produzidos poucos exemplares e a venda arrecadou R$ 700, valor considerado barato por ele.

Outra relíquia que ainda está em posse de Vital é o álbum do cantor Miguel de Deus, datado do mesmo ano. O artista, que trabalhou com grandes nomes da música brasileira como Gal Costa, só gravou o álbum homônimo sozinho. Esse, Rocha não vende. “É uma música bem ao estilo black, só que brasileira. É o álbum preferido da minha coleção e vale em torno de R$ 600.”

Ele, que é de Santo André, nunca pensou que um dia ia trabalhar vendendo discos. Começou a carreira como operador de máquina em uma indústria. Os colegas faziam piada de seu nome por causa da música Vital e Sua Moto, da banda Paralamas do Sucesso. “Sofri muito quando saiu essa música, porque o pessoal só ficava cantando ela para mim. Hoje vendo os discos do Paralamas e, quando falo o meu nome, as pessoas pensam que é brincadeira, às vezes tenho que mostrar o RG”, contou, aos risos.

Depois que ficou desempregado, Rocha começou a fazer carreto, atividade que ainda realiza hoje. Foram os amigos que o incentivaram a trazer mercadorias para aproveitar a viagem e vender. Foi aí que veio a ideia dos LPs. “Fez muito sucesso. E já faz 14 anos que estou nesse ritmo. No começo o pessoal comprava um que gostava muito e recordava do seu tempo. Um cliente ia falando para o outro, no boca a boca.”

Segundo ele, hoje é diferente e a maioria do público é de jovens. Rocha, que também expõe na Feira do Vinil da cidade, disse que os discos mais procurados são os de rock. “Voltou a ficar na moda. Tenho dois filhos que até brincavam comigo, falando que isso era coisa de velho, mas não é o que acontece hoje. As pessoas realmente gostam da sonoridade e perceberam que é muito diferente dos CDs”, explicou.

Eletrônica resiste no local há 40 anos

Quem passa apressado pela Rua Carijós pode não notar a pequena porta da TV Técnica Gomes. O comércio responsável pelo conserto de eletrônicos, principalmente aparelhos televisores, resiste no bairro há 40 anos.

O proprietário é José Ferreira Gomes, 66 anos, conhecido por todos na Vila Linda como seu Gomes. Nenhum morador tem dúvidas sobre onde levar a TV com algum defeito. Prova disso é a média de dez serviços por semana mantida há tempos.

Nascido em São Caetano,seu Gomes sempre foi apaixonado pela caixinha que transmitia imagens, inicialmente em preto e branco e depois a cores. Segundo ele, sabia de sua vocação desde pequeno. “Eu e um colega íamos para a escola juntos e, no caminho, quando via as TVs nas lojas, dizia: ‘Ainda vou trabalhar nisso.’ Ele falava a mesma coisa sobre os carros. No fim, virei técnico de eletrônica e ele, mecânico”, contou, bem-humorado.

Inicialmente seu Gomes trabalhou em fábrica de televisores, a antiga GE, que funcionou entre 1931 e 1940 na Avenida Industrial, no Centro da cidade. Maravilhado com a realização de um curso, não parou mais e tem várias especializações.

Após trabalhar em outras fábricas e montar o próprio negócio, veio a aposentadoria e a certeza de que não conseguiria se manter longe do ofício. Seu Gomes afirmou que não consegue ficar em casa apenas desempenhando a função de telespectador. “Hoje as coisas mudaram bastante. Não têm mais aqueles aparelhos de tubo, é o LED bem fininho e o trabalho mais minucioso. Mas isso não me abalou, mesmo gostando de mexer nas mais antigas, me atualizei e hoje estou feliz com o meu trabalho”, afirmou.

Apesar do protesto da mulher e dos filhos, ele não pensa em parar tão cedo. Na telinha, seu programa preferido é o jogo do time do coração, o Corinthians. É a única programação que assiste quieto no sofá. “De resto vou ficar em casa fazendo o quê? Amo meu trabalho e esse bairro. Todo mundo me conhece e faz parte do meu dia.”

Padre angolano comanda paróquia

A Paróquia Cristo Operário é um local de tranquilidade e oração para os moradores da Vila Linda. O pároco, padre Carlos Cerpa, 61 anos, é imigrante da Angola e descobriu sua vocação no Brasil. Ele é responsável pela igreja há 14 anos.

Cerpa chegou ao Brasil em 1975, quando ainda trabalhava no ramo hoteleiro. Foi no País que decidiu seguir a carreira religiosa. Segundo ele, hoje considera Santo André a sua casa e, se não fosse pelo leve sotaque, não seria perceptível sua nacionalidade. “Gosto muito daqui. O povo me lembra o da Angola porque, apesar das dificuldades, todos estão sempre felizes e com um certo otimismo em relação ao futuro. Fui recebido de braços abertos e sou muito grato. É um ótimo lar”, disse.

O padre se dedica aos afazeres da igreja, principalmente à caridade. A paróquia recebe doações e distribui aos mais necessitados por meio do Grupo dos Vicentinos.

O padre afirmou que atualmente a religião católica vem sendo cada vez mais procurada pelos jovens. “Acredito que isso aconteça porque eles perceberam que as respostas para diversas inquietudes da idade podem ser encontradas na religião. Isso é muito bom e, para atendê-los, temos, além da Crisma, grupo de jovens para quem já passou pelo sacramento”, destacou.

Além disso, o padre também acredita que a liderança do papa Francisco, que é argentino, também contribua para a união dos fiéis. “O papa é uma luz que faz com que a Igreja caminhe para rumos mais atuais, de maneira cativante”, afirmou.

Atualmente a paróquia realiza campanha de reforma com doações e trabalho voluntário. Quem contribui com qualquer valor tem o seu nome colocado em um mural.

Com a atual crise e o aumento no número de desempregos, padre Carlos acredita que o número de pessoas que procuram a religião irá aumentar. “Acho que ainda está no começo, mas quanto mais pessoas forem atingidas, o refúgio vai ser a igreja. É importante nos apegar à fé para passar por este momento.”
 




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