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Quarteto nem tão Fantástico estréia nesta quinta
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
07/07/2005 | 08:36
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Depois de uma onda de exemplares do cinema-catástrofe, o momento é das adaptações de histórias em quadrinhos protagonizadas por super-heróis. Pode parecer que não, mas talvez haja uma relação entre essas duas febres sem coincidências muito aparentes. O Quarteto Fantástico, o mais novo filme de supers a chegar ao circuito, constitui boa oportunidade para analisar o que há de conceitual por trás desse tipo de produção. A nova aventura - inspirada em personagens criados pela editora Marvel em 1961, antes mesmo de Homem-Aranha e X-Men - pré-estréia nesta quinta-feira em seis salas da região; nesta sexta-feira será o lançamento nacional de fato, com 12 salas no Grande ABC.

Não se trata de adaptação audiovisual pioneira de O Quarteto Fantástico, embora seja a primeira com real fôlego comercial. Existe uma versão proibida, de 1994, dirigida por Oley Sassone e produzida por Roger Corman, o Dartagnan do filme B que décadas atrás revelou gente como Coppola e Peter Bogdanovich. A lenda é de que esse Quarteto desconjurado, realizado com US$ 1,5 milhão, é de tal modo horripilante que lançá-lo comercialmente não passaria sequer pela cabeça de Norman Bates.

Um tanto de exagero, um tanto de lenda, um tanto de intolerância possivelmente, já que a versão de Corman não tem à disposição o orçamento nem o aval do grande mecanismo hollywoodiano como este Quarteto lançado nesta quinta-feira. E que não pode ser registrado como obra-prima tampouco. O diretor Tim Story, o mesmo do Táxi que revelou Gisele Bündchen no ramo cinematográfico, apenas surfa na onda do cinema super-heróico, nada faz para diversificar o perímetro do gênero.

Criado por Stan Lee e Jack Kirby, o quarteto do título é formado pelo cientista Reed Richards (Ioan Gruffudd), por sua namorada, Sue (Jessica Alba), e o irmão dela, Johnny (Chris Evans), além do piloto e amigo Benjamim Grimm (Michael Chiklis). Enviados ao espaço, atravessam uma tempestade cósmica e adquirem habilidades sobrehumanas: Richards (Senhor Fantástico) manifesta uma elasticidade extrema do corpo; Sue (Mulher-Invisível) é brindada com o poder da invisibilidade e a capacidade de criar campos de força; Johnny (Tocha Humana) pode inflamar sua anatomia e atirar projéteis de fogo; e Ben (O Coisa) tem a pele revestida por grossas rochas e ganha uma força incomum.

Não coincidentemente, temos aí quatro diferentes deformações do corpo, quatro projeções de poderes que alteram a anatomia drasticamente. Uma transformação salientada pelo vilão, Doutor Destino (Julian McMahon), que precisa valer-se de uma armadura para esconder o próprio corpo sacrificado.

Não há uma insinuação precisa de Story nesse caminho, um possível diferencial entre os filmes de super-herói, a não ser na óbvia figura do Coisa, personagem que lamenta sua posição intermediária entre monstro e herói e descobre em si uma ultrasensibilidade emocional.

Falta a Quarteto o ping-pong bem jogado entre o frágil e o superlativo que singulariza os poucos filmes interessantes dessa recente safra de supers, como os Homem-Aranha de Sam Raimi e sua crônica da insegurança juvenil e os X-Men de Bryan Singer, que sintonizam a histeria instalada no atrito entre o consensual e o marginal. Com Story, a coisa - sem nenhum trocadilho com o personagem pedregoso - perde eira e beira, torna-se tão-somente uma maneira diversa de ser ordinário.

E é nesse aspecto que Quarteto representa um estado de coisas sem aparentemente sabê-lo. Há teorias que afirmam ser o cinema-catástrofe uma projeção do desespero da humanidade, do pessimismo de uma espécie que não enxerga comunhão possível a não ser quando todos os seus espécimes são desafiados com uma ameaça de extermínio exterior - naves alienígenas, tempestades continentais, meteoros homicidas. Nos filmes de super-heróis, os poderes que transcendem os limites humanos podem ser igualmente encarados como única possibilidade de futuro da existência e de cura para os males do globo, providencialmente concentrados em um só ser, o tal Doutor Destino. O homem - nesses séculos de mútuos desaforos gerados por diferenças territoriais, religiosas, políticas e sociais - já não é capaz de livrar a própria cara.




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