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Nunca é tarde para se conectar
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
16/08/2009 | 07:01
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Se para você é inimaginável não ter acesso à internet, celular, videogame, DVD, MP3, iPod, máquina digital, para os pais e, principalmente, avós essa parafernália não era tão essencial. Até agora!

"Tenho MSN, Orkut, e-mail e celular e apago as fotos que não ficaram boas na máquina digital. Essas tecnologias são maravilhosas", diz Izilda Morone, 57 anos, de São Bernardo.

A avó de Gabriela Morone, 13, faz parte de um grupo de idosos que cada vez mais se interessa por novas tecnologias. Segundo pesquisa do Ibope, dobrou o número de usuários acima de 65 anos com acesso à internet no Brasil entre 2006 e 2008, passando de 12% para 25%. "Sinto-me mais independente", afirma Izilda.

Gabriela curte ver a avó interessada nas mesmas coisas que ela. "Hoje tudo gira em torno do computador e da tecnologia. Se ela não aprendesse, se sentiria deslocada." A garota confessa que não suportaria viver sem celular e net. "Tenho amigos que são só de MSN. Não teria paciência de esperar uma carta."

Paciência é essencial para quem se dispõe a ajudar os mais velhos a superar o medo inicial. "Eles têm limitações porque não tiveram o mesmo contato dos jovens com esse universo", explica o psicólogo Guilherme Ohl, do Núcleo de Psicologia e Informática.

Mas quem se propõe a ensinar garante que vale a pena. "Eles prestam muita atenção e fazem a lição direitinho", conta Daniela Brito, 16 anos. "É bom trocar informações com os mais velhos", completa Geovane Souza, 17. Eles são monitores do programa Oldnet, da Cidade Escola Aprendiz, que propõe interagir o jovem e o idoso por meio da tecnologia.

"O curso mudou minha vida. Hoje faço pesquisas e converso com os filhos que moram longe pelo Skype. Isso só a tecnologia possibilita", diz Percival Vigneron, 79. Para a esposa, Diva Vigneron, 76, a net significa uma passagem para desbravar o mundo. "Tenho pavor de viajar de avião. Com a internet, posso conhecer países maravilhosos, que antes só estavam na minha imaginação.

Faz bem para tudo
Não é à toa que pais e avós não têm a mesma facilidade que você de fazer funcionarem programas e aparelhos eletrônicos. São gerações separadas pela evolução da tecnologia. De um lado estão os nativos digitais (ou geração do tudo-ao-mesmo-tempo-agora) que nasceram a partir dos anos 1980 e estão 24 horas conectados. De outro, estão os imigrantes digitais, que conheceram essas tecnologias quando adultos.

"A falta de conhecimento tecnológico em um mundo de tecnologia exclui, afasta. Por isso a importância do aprendizado do idoso que busca criar novas perspectivas para sua vida", explica o antropólogo Paulo Sérgio Temoteo, autor do artigo Alfabetização Digital na Terceira Idade. Para ele, não há ninguém melhor para ensinar do que os nativos digitais. "Além de exercer a cidadania, o jovem acaba entendendo melhor a riqueza da experiência da maturidade."

A inclusão digital na terceira idade tem impacto positivo em todos os aspectos, segundo o geriatra Luiz Antônio Gil Jr. "Aumenta a rede social e melhora a autoestima. Ele se sente valorizado, atualizado e se aproxima da nova geração. Isso beneficia a saúde do idoso."

De acordo com uma pesquisa realizada pelo neurocientista Gary Small, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, o uso moderado da internet por pessoas de 55 a 76 anos resulta em um aumento significativo da atividade cerebral. Por outro lado, os jovens que passam muito tempo na net (mais de dez horas) perdem um pouco as habilidades sociais, ou seja, o contato pessoal e direto com os outros.

Todo mundo conectado
Alguns nasceram na era digital, mas tiveram pouco ou nenhum acesso à tecnologia. São os excluídos digitais, grupo que diminui a cada ano graças aos programas do governo, como o Computador para Todos, em que o aparelho pode ser comprado por baixo preço.

Até nesse caso, os adolescentes viram monitores. Na casa de Rafael Silva, 13, de Santo André, é ele quem ensina o pai, Ivaniz Silva, 29. "Não tive a mesma oportunidade. Meu filho tem aula de computação na escola e não sai da lan house. Eu jogava bola."

Rafael ajuda em tudo: programa o DVD, ensina a usar o celular, a máquina fotográfica e já pagou conta para ele pela net. "Ele não consegue porque é mais velho e não tem paciência. Fuço até descobrir como funciona", diz o garoto, que terá mais trabalho. A empresa onde o pai trabalha vai se informatizar.




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