Política Titulo Aniversário
PT completa 35 anos afundado em sua maior crise institucional

Pivô do atual esquema de desvio de dinheiro na Petrobras, partido fala em refletir atuação; no Grande ABC, berço da sigla, não haverá atividades

Por Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
08/02/2015 | 07:02
Compartilhar notícia
Celso luiz/DGABC


Criado sob preceito de sustentar e defender a classe trabalhadora em sua vida política e social, o PT completa terça-feira 35 anos de existência afundado na maior crise institucional de sua história. Há pouco mais de 12 anos no comando do Palácio do Planalto, a sigla é pivô do esquema investigado na Operação Lava Jato, deflagrada pela PF (Polícia Federal), que teria desviado em torno de R$ 10 bilhões da Petrobras.

A saída da verba teria ocorrido por contratos superfaturados acertados, ironicamente, em parceria com ‘patrões’, donos de grandes empreiteiras, sempre colocados como “inimigos dos mais pobres” pelos petistas. O momento reflexivo da atuação do PT, inclusive, esvaziou as comemorações em seu próprio berço, o Grande ABC e no Estado de São Paulo. Se as greves do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, então liderado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos anos 1980, que alavancaram a identificação da sigla com ideais de esquerda – ao levantar bandeiras da redistribuição de renda, reformas agrária, tributária, política e do judiciário – atraiam milhares de adeptos, hoje o cenário é de silêncio.

“O PT no País inteiro está comemorando esse aniversário e cada diretório se organiza sozinho. Estamos focados e organizando o processo da próxima eleição municipal, em 2016. Teremos disputas duras no Grande ABC e precisamos planejar os grupos”, disse o coordenador regional do PT, Claudinho da Geladeira, ao justificar a ausência de eventos.

Minas Gerais foi o estado escolhido pela direção nacional do PT para sediar a principal comemoração alusiva ao aniversário, na sexta-feira. “Não estamos fugindo do berço, de forma alguma. Minas Gerais foi onde ganhamos o governo (com Fernando Pimentel, no ano passado). Tem estrutura grande e maior. Mas já comemoramos antes em outros estados, como no Rio Grande do Sul. O PT é nacional, de todo o Brasil, não só do Grande ABC e São Paulo”, minimizou Claudinho.

No evento mineiro, Lula e a presidente Dilma Rousseff defenderam medidas impopulares de aumento de juros, corte de receita a benefícios sociais, como o seguro-desemprego, e redução do crédito ao trabalhador. O cacique petista ainda pediu que a militância vá às ruas defender o PT contra a tentativa de criminalização da sigla pela oposição e imprensa.

Ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco disse, em depoimento à PF, que o PT arrecadou cerca de US$ 200 milhões em propina por meio de João Vaccari Neto, tesoureiro do partido. Liderada pelo PSDB, a oposição tenta usar dados da investigação para legitimar eventual impeachment sobre o governo Dilma.

“Não podemos esquecer que foi o governo Lula que deu autonomia para a PF e criou mecanismos de investigação para acabar com a corrupção. Não temos que ter vergonha de nada. É inegável que o PT vem contribuindo com o avanço do País. Agora, nesse momento, vamos ter que refletir sobre o próximo período. Precisamos nos reaproximar dos movimentos sociais. Essa sempre foi a força do PT”, defendeu o mandatário do PT de Santo André, o deputado estadual eleito Luiz Turco.

Sigla vai enfrentar desgaste nas urnas

No processo eleitoral de 2016, o maior desafio do PT no Grande ABC será enfrentar o próprio desgaste nas urnas causado, principalmente, após as quatro gestões consecutivas no Palácio do Planalto. Nos âmbitos municipais, Santo André, São Bernardo, Mauá e Diadema tendem a atrair maiores esforços do alto comando do partido na disputa.

O prefeito andreense, Carlos Grana, que impediu a continuidade da gestão Aidan Ravin (PSB) em 2012 e retomou o Paço para os petistas, colocará sua administração à prova no próximo páreo. O governo ainda não decolou na cidade, com nota 4,6 do eleitorado, conforme estudo do DGABC Pesquisas divulgado no início do mês.

Prefeito de Mauá, Donisete Braga (PT) vive situação semelhante a de Grana. Chegou ao posto em 2013, substituindo o correligionário Oswaldo Dias, que era mal avaliado pela população, e agora faz gestão de recuperação. O DGABC Pesquisas identificou nota 4,8, a segunda melhor da região. O petista faz boa costura política e cooptou apoio de potenciais adversários, no entanto, está longe de ser unanimidade no PT de Mauá.

O chefe do Executivo de São Bernardo, Luiz Marinho, tem a difícil tarefa de controlar os ímpetos para evitar racha no PT, do deputado estadual eleito Luiz Fernando Teixeira e do secretário de Serviços Urbanos, Tarcisio Secoli, que disputam a indicação de seu mentor para corrida contra nomes fortes da oposição. Marinho está no segundo mandato e tem administração avaliada com nota 5,6, segundo DGABC Pesquisas.

O ex-presidente Lula determinou que o secretário de Saúde da Capital, José de Filippi Júnior, tente retornar ao comando do Paço de Diadema no ano que vem. O atual prefeito Lauro Michels (PV) venceu Mário Reali (PT) em 2012 e colocou fim a ciclo de 30 anos de governos ligados ao PT.

Dilma Rousseff é reprovada na região

A imagem do governo da presidente Dilma Rousseff é fator que atrapalha as pretensões eleitorais dos prefeitos petistas do Grande ABC. Segundo identificou o levantamento do DGABC Pesquisas, encomendado pelo Diário, o primeiro mês de administração da petista à frente do Palácio do Planalto é reprovado por 65,8% dos moradores da região, sendo que 47,3% avaliam como péssimo e outros 18,5% que veem o desempenho como ruim.

Contabilizando os munícipes que consideram com bons olhos o governo de Dilma, o índice de aceitação é de 17,4%, sendo apenas 3,2% que analisam como ótimo. Outros 16,2% do eleitorado classificam a gestão em nível regular.

Em todas as cidades os dados de reprovação são altos: Santo André (69,7% contra 14,2% de aprovação), São Bernardo (65,3% contra 18,8%), São Caetano (71,7% rejeitam e 12,2% aprovam), Diadema (60% contra 21,1%), Mauá (67,8% contra 15,5%), Ribeirão Pires (66,8% contra 14%) e Rio Grande da Serra (21,4% contra 54,8%).

O resultado apertado da eleição do ano passado, quando Dilma foi reeleita em disputa acirrada contra o senador Aécio Neves (PSDB), provocou panorama instável. No segundo turno da concorrência, a petista só ficou à frente do tucano em Diadema (53,85% contra 46,15%) e Rio Grande da Serra (50,62% a 49,38%). Considerando os sete municípios, a derrota da presidente teve placar de 58,05% a 41,92%.

Vale destacar que o candidato do PT ao governo paulista em 2014, o atual secretário de Relações Governamentais da Capital, Alexandre Padilha, foi derrotado pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em todas as cidades do Grande ABC.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;