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O mundo do jazz vai muito bem, obrigado
Por Joao Marcos Coelho
Especial para o Diário
16/09/2000 | 15:21
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Alguns lançamentos nacionais e outros importados indicam que o jazz, às vésperas de mais um festival internacional a ser realizado em Sao Paulo, vai muito bem, obrigado. Mostram ainda uma surpreendente vitalidade, capaz de deglutir as mais diversificadas fontes musicais do planeta, eruditas e/ou populares.

Assim, por exemplo, trios de piano, contrabaixo e bateria europeus vao beber no songbook da lendária cantora francesa Edith Piaf com a mesma sem-cerimônia com a qual jazzificam as obras do maior compositor erudito de todas as épocas, Johann Sebastian Bach. Um surpreendente par de CDs de piano solo assinado por Chick Corea, duas antologias e uma nova cantora completam o primeiro pacote de novidades jazzísticas desta primavera.

Para começar, Chansons d'Édith Piaf, um CD importado da Winter & Winter, com Tethered Moon, um trio formado por Masabumi Kikuchi (piano), Gary Peacock (contrabaixo) e Paul Motian (bateria). Nos últimos 20 anos, Peacock e Motian integraram, ao lado do pianista Keith Jarrett, o trio Standards e gravaram, ao vivo e em estúdio, mais de uma dezena de notáveis álbuns.

Jarrett, porém, está há cerca de quatro anos afastado dos shows e dos estúdios de gravaçao, acometido por uma síndrome da fadiga. Com isso, o pianista Kikuchi o substituiu, nao com o mesmo brilho, mas com competência. O repertório é que é muito interessante, pois eles mergulham no songbook da célebre cantora francesa Edith Piaf. O clima é introspectivo, mas é delicioso ouvir clássicos como Sous le Ciel de Paris ou La Vie en Rose em versoes refinadas como estas.

Jacques Loussier Trio gravou para o selo Telarc e pode-se encontrar nas lojas The Bach Book, que comemorou, em 1999, 40 anos do primeiro Play Bach. Desde entao, o pianista francês vendeu mais de 6 milhoes de cópias de seus discos que poem swing nas obras eruditas de Bach.

O mais recente lançamento, Variaçoes Goldberg, faz um tributo ao compositor que propiciou a Loussier fama e dinheiro. Mas ele é competente e, se a gente esquece o original, fica com as melodias superconhecidas na cabeça por causa de um balanço inegavelmente agradável. Também se encontram nas lojas de discos outros CDs de Loussier pelo selo Telarc, como As Quatro Estaçoes, de Vivaldi, e o original Play Bach.

De Chick Corea, as sugestoes sao os importados Originals e Standards, da Stretch Records. Depois de uma ambiciosa e mal-sucedida caixa megalomaníaca de seis CDs com o registro dos seis primeiros shows de sua banda Origin, Corea retorna a um alto patamar de qualidade com estes dois CDs gêmeos de piano solo.

Os álbuns captam interpretaçoes de sua última turnê-solo pelos Estados Unidos, Europa e Japao. Sozinho, ele esbanja criatividade e, em muitos momentos, chega a criar atmosferas claramente eruditas, tamanha a consistência de seu discurso pianístico. Sobretudo no CD com composiçoes próprias, no qual se destacam dois Prelúdios, três Children's Songs e Yellow Nimbus.

No CD Standards a inclusao de quatro temas de Monk, entre os 13 escolhidos, atesta a influência decisiva do autor de Round Midnight sobre Corea. Anote também ótimas versoes de It Could Happen To You e How Deep Is The Ocean.

Jazz Central Station: Global Jazz Poll Winners, dois CDs nacionais da Abril Music, formam uma excelente coletânea com os vencedores de concurso realizado em 1995 e 1996 pela famosa rádio norte-americana especializada em jazz. Sao duas seqüências estonteantes de performances excepcionais, a começar pelos homenageados com o Hall of Fame dos dois anos. Primeiro aparece Miles Davis, pelo lançamento da caixa com seis CDs Live at Plugged Nickel.

Ele comparece com uma versao divina de Seven Steps to Heaven. O segundo é John Coltrane, com A Love Supreme. Mas há de tudo, e só da melhor qualidade. Diana Krall, o saxofonista young lion Joshua Redman, o contrabaixista Christian McBride, Cassandra Wilson e até Tito latin jazz Puente.




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