Setecidades Titulo Comunicação
Grande ABC ainda tem 12 mil orelhões à disposição

Número deve ser reduzido com proposta de
retirar 60% dos telefones públicos do País

Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
25/12/2014 | 07:07
Compartilhar notícia
Nario Barbosa/DGABC


Em época onde existem mais linhas de telefonia celular ativas que pessoas, os orelhões resistem bravamente. Na região, em outubro deste ano havia 12.075 aparelhos disponíveis, 23,4% a menos que há sete anos, quando foi divulgado o último levantamento no Grande ABC.

A situação, porém, não deve permanecer assim por muito tempo. Até amanhã, a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) disponibiliza em seu site – www.anatel.gov.br – consulta pública que aceita sugestões para a revisão do PGMU (Plano Geral de Metas para a Universalização) da telefonia fixa, o qual estabelece, entre outras coisas, as regras para instalação de TUPs (Telefones de Uso Público). Entre as propostas, está a redução dos atuais 763.023 orelhões existentes em todo o Brasil para 461.306, o equivalente a menos 60,4% do número atual. De acordo com a Anatel, o Estado de São Paulo possui 197.804 TUPs. Já linhas ativas na telefonia móvel eram 67,8 milhões até outubro, em população de 44,04 milhões de habitantes.

Dados da Anatel mostram que, em outubro de 2007, havia na região 15.765 aparelhos nas sete cidades, ante os 12.075 em outubro deste ano. Diadema tinha 2.458 TUPs, passando para 1.793. Em Mauá eram 2.436, caindo para 1.817. No município de Ribeirão Pires, 814 orelhões estavam distribuídos em várias localidades; agora são 769. Em Rio Grande da Serra, de 302 foi para 261. Santo André, que contava com 4.166 orelhões, tem atualmente 3.064 equipamentos; São Bernardo passou de 4.520 para 3.464 e, em São Caetano, dos 1.069, permaneceram 907.

Na revisão do PGMU, constam a permanência de todos os orelhões adaptados para pessoas com deficiência. Entre as mudanças previstas, está ainda o aumento da distância mínima de 300 para 600 metros entre os aparelhos e a obrigatoriedade de 50% estarem instalados em locais acessíveis ao público 24 horas por dia.

Informação mais recente divulgada pela Anatel, datada de maio de 2013, revelou que 81% dos terminais realizam até quatro chamadas por dia e 62%, até duas chamadas diárias. “No cenário atual, não se justifica a manutenção da planta atual de TUP, tendo em vista a queda da demanda”, argumenta a agência.

EMERGÊNCIAS - Mesmo com toda a praticidade do celular, às vezes, ele falta em algumas situações de emergência, fazendo com que o orelhão volte ao protagonismo. A operadora de caixa Girleni Lucas Teixeira, 35 anos, moradora do Parque das Américas, em Mauá, estava no Centro da cidade e precisava localizar a irmã, que esperava por ela. Os créditos de seu aparelho móvel, no entanto, haviam acabado. O jeito foi comprar um cartão telefônico e utilizar o orelhão. Embora a Praça 22 de Novembro tenha oito TUPs, ela teve dificuldade em fazer a ligação. “Já tentei ligar de três orelhões e estão fora de operação”, reclamou. Sobre a redução de aparelhos proposta pela Anatel, ela se mostrou contrária. “Já são raridade hoje, pelos bairros a gente quase nem vê mais. Se hoje já há problema de encontrar um que funcione, imagine diminuindo?”, indagou.

De acordo com a Telefônica/Vivo, responsável pelos orelhões em São Paulo, a empresa possui sistema remoto que detecta defeitos nos aparelhos e realiza vistorias periódicas e presenciais para verificação dos orelhões. “A empresa esclarece ainda que, todos os meses, volume expressivo de cúpulas, postes e aparelhos sofre atos de vandalismo, exigindo medidas adicionais para que os orelhões estejam à disposição do público”, acrescenta.

Para solicitar reparos, o usuário pode entrar em contato com a Central de Atendimento 103 15 (ligação gratuita) que funciona 24 horas, nos sete dias da semana.
Sem chip no celular, o operador de empilhadeira Joel da Silva Oliveira, 29 anos, morador do Jardim Rosina, em Mauá, também precisava saber onde a mãe o esperava na área central e o encontro só foi possível porque ligou para ela de um orelhão. “Celular é muito bom, mas nem sempre está disponível. Os orelhões são muito necessários, não acho uma boa reduzir.”

ESQUECIDO - Se nos centros comerciais os orelhões ainda não se tornaram invisíveis, em alguns lugares passam despercebidos. Em 2011, reportagem do Diário mostrava um bar na Vila Alpina, em Santo André, onde o proprietário, Carlos Uchoa, havia colocado um telefone público de mesa para atender a necessidade da freguesia. Na época, ele vendia cerca de 100 cartões telefônicos por mês.

Hoje, devido à falta de procura, não comercializa mais o produto. O aparelho permanece, mas esquecido. “Esse telefone praticamente só recebe ligação, é muito difícil alguém que faça uma chamada”, contou Raimundo Nonato Uchoa, 44 anos, irmão de Carlos. Apesar disso, ele defende a permanência dos orelhões. “Se a bateria do celular acaba ou a pessoas está em um lugar que não tem sinal, o orelhão é o que salva. Sem contar que ainda tem gente que não possui celular. O orelhão não pode acabar.”

Concluída a consulta pública realizada pela Anatel, haverá audiências públicas para discutir o resultado, em locais e datas a serem definidas. 

Aparelhos podem ser transformados em pontos de wi-fi

Uma ideia para os orelhões considerados ‘a mais’ é transformá-los em pontos de internet wi-fi (sem fio). No Brasil, algumas cidades já aderiram à iniciativa. A capital de Santa Catarina, Florianópolis, foi a primeira do País a contar com um orelhão com acesso gratuito à internet por rede sem fio.

O primeiro aparelho com essa tecnologia oferece acesso gratuito e ilimitado à internet para clientes da Oi, empresa concessionária do serviço na cidade. Os clientes de outras operadoras que tenham um dispositivo compatível com tecnologia wi-fi podem se conectar à internet gratuitamente por até 15 minutos diários, além de acesso ilimitado a sites do governo e da Justiça (.gov e .jus).

Para o presidente da consultoria especializada em telecomunicação Teleco, Eduardo Tude, é ideal que se busquem outros usos para o orelhão que não seja só o da telefonia fixa. “Se você pega a receita mensal por orelhão que três, quatro anos atrás dava em torno de R$ 40 por mês, hoje caiu para R$ 4, R$ 5 com o crescimento do celular pré-pago e com as chamadas on-net (entre usuários da mesma operadora) tendo um preço muito baixo. O uso do orelhão caiu muito e grande parte não se justificaria ter. Existe ainda muito vandalismo e, com a baixa utilização, há prejuízo muito grande para as empresas, então, em vez de gastar com o orelhão, é melhor gastar com o que traria benefícios para a sociedade.”

Mundo afora, o projeto vem se efetivando. A prefeitura de Nova York, nos Estados Unidos, pretende transformar os 7.300 telefones públicos da cidade em pontos de wi-fi. Cerca de 60 empresas foram convocadas para discutir formas de implementar a ação. Segundo o documento divulgado pelo departamento de tecnologia da informação e telecomunicações da cidade norte-americana, isso representaria receita anual de US$ 17,5 milhões, dinheiro que viria de publicidades física e digital nas cabines telefônicas. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;