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Helena Ranaldi: feliz por ser reprovada
Por Mariana Trigo
Da TV Press
28/09/2008 | 07:01
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Divulgação


A voz baixa e o comportamento contido de Helena Ranaldi estão sempre refletido em seus personagens. Mesmo os mais sensuais, como a determinada veterinária Cíntia, de Laços de Família, seu primeiro papel de destaque na TV. Com gestos delicados e modos de quem foi educada no exterior, a paulistana de 41 anos consegue permanecer elegante até mesmo com uma personagem dominada pelo desejo. Na pele da fogosa Dedina, a primeira-dama da pequena e fictícia Triunfo, de A Favorita, Helena saboreia pela primeira vez um papel que causa uma revoltante inquietação no público.

Desde Mulheres Apaixonadas, que está sendo reprisada, você não vivia uma personagem de tanto destaque na TV. Suas participações em Páginas da Vida e Senhora do Destino não chamaram atenção. Por quê?
HELENA RANALDI - Se o ator não tiver a sorte de ter personagens que tenham conflito, nada acontece. Em Páginas, estava no núcleo principal, gravava todos os dias, aparecia em várias cenas, mas a Márcia (de Páginas) não tinha história. O Manoel Carlos não desenvolveu uma trama para ela. Para mim, como atriz, ficou um buraco. Hoje, por exemplo, gravei apenas uma cena e foi um prazer absoluto porque minha personagem movimenta uma história. O destaque dos personagens é ter um conflito e despertar uma curiosidade no público. Precisa provocar uma reação, boa ou má. Já fiz papéis maravilhosos com o Maneco. Mas nem sempre trabalhamos com prazer.

O prazer é o que movimenta a sua personagem Dedina, que trai o marido Elias com o Damião. Que características você trabalhou no papel para viver esse triângulo?
HELENA RANALDI - Já havia assistido a diversos filmes que tratam desse tema. Sempre é uma situação delicada. Principalmente no caso de uma mulher que não quer viver aquilo. Eu a construí pelo desejo, que monitora a personagem. Ele é mais forte que ela. Essa atração física, de pele, manda nela. Não sei o que pode acontecer, se ela vai se apaixonar, amar esse cara. Sei que ela também tem um amor muito grande pelo marido. Ela está traindo o Elias, mas sofre, se sente culpada. Não é uma relação confortável para ela.

Como você avalia a personagem? No início estava previsto para ela também ser uma mulher ambiciosa.
HELENA RANALDI -Imaginei que a ambição dela seria bem maior. Se fosse assim, ela não estaria tendo um caso com um homem bronco que mora num barraco. Também não aceitaria morar numa casa sem empregados. Nada é muito problemático para ela. É uma mulher que veio de São Paulo, estudou, é formada, mas não tem uma ambição fora do normal, além dos padrões. A única coisa que foge ao seu controle é a atração pelo Damião. Mas ela só começou a ceder ao que ela sente pelo Damião quando o marido não ficava com ela.

Como tem sido a reação do público?
HELENA RANALDI - Tenho andado muito pouco nas ruas. Mas gravei semana passada no Retiro dos Artistas e várias senhoras e senhores vieram falar comigo: ‘Você não pode fazer isso com seu marido!'. (risos). Outro dia, o Thiago Rodrigues (que vive o Cassiano na história) falou: ‘Ah, não gosto de mulheres como a Dedina'. As pessoas ficam revoltadas. Não pela traição em si, mas por ela não falar, porque o marido é muito bacana. Eles têm uma relação legal. Não é um cara que merecia ser traído. O pior é que várias pessoas começam a saber e a falar mal dela na história. Mas não acho que ela faça isso por maldade.

Por que você nunca viveu uma vilã na TV?
HELENA RANALDI -Porque ainda não me deram. Eu adoraria. O que estou achando bacana com a Dedina é que, pela primeira vez, as pessoas estão me criticando. Sempre me elogiavam porque vivia constantemente personagens carismáticos, bonzinhos, de bom caráter, mulheres meigas. Todo mundo falava: ‘ah, gosto tanto de você' e ‘você é tão doce'. Agora gostaria de ter o outro lado também. Queria que me reprovassem.

Além de boazinhas, você sempre fez papéis muito urbanos na TV. Esse perfil ainda a estimula?
HELENA RANALDI -Sinto falta de fazer uma brejeira com pé no chão. A minha primeira personagem na TV era assim, a Stefânia (de A História de Ana Raio e Zé Trovão). Não sei porque, mas acho que as pessoas acreditam que eu sou sofisticada. Mesmo a Dedina, que é mais simples, é a primeira-dama da cidade.

A que você atribui isso?
HELENA RANALDI -Na TV somos estereotipados pelo biotipo, pela forma que você fala, como se comporta. Tem gente que tem sotaque e não adianta fazer um personagem urbano. É bom quando quebram com isso. Gostaria que me colocassem no mato para lavar roupa, acho que falta o risco na escalação da TV, propor outras coisas.

Você concorda que o Maneco foi quem criou essa imagem em você, desde que você viveu a Cíntia em Laços de Família, uma veterinária charmosa do Leblon?
HELENA RANALDI -Meus melhores papéis foram em tramas do Maneco. A Cíntia, a Lúcia Helena (de Presença de Anita) e a Raquel foram meus trabalhos mais marcantes. Mas nem sempre a gente trabalha com prazer. Despertar uma reação boa ou má no público depende do que o autor escreve para você. Mas tive muita sorte na vida desde o meu primeiro teste para ser atriz.




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