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Chegou a hora da fogueira

O caro leitor ainda lembra da CPI da Petrobras? Pois, ao que tudo indica, vai sempre lembrar-se de uma investigação que acabou sem nunca ocorrer

Por Carlos Brickmann
21/06/2009 | 00:00
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O caro leitor ainda lembra da CPI da Petrobras? Pois, ao que tudo indica, vai sempre lembrar-se de uma investigação que acabou sem nunca ocorrer. O governo ainda não indicou relator nem presidente; sem eles, a CPI não se instala. E está difícil: na quarta-feira, é São João. Na outra segunda, São Pedro. Nossos parlamentares, tão religiosos, não perderão a chance de participar da quadrilha.

O líder do governo, Romero Jucá, fala em instalar a CPI na terça-feira, 30. É um dia ótimo: julho começa na quinta, e é o mês do repouso parlamentar. Depois, só em agosto, e a discussão será outra, a troca de partidos em tempo de participar da eleição. E o assunto CPI estará morto. Mas há gente importante no bloco de apoio ao governo que acha mesmo isso inaceitável: o senador Gim Argello, do PTB de Brasília, tão fiel que faz até Jucá parecer um rebelde, garante que nada foi combinado e que não há data prevista para a instalação da CPI.

E Renan, que hoje comanda não apenas os governistas como todo o Senado? O senador Renan Calheiros tinha prometido que, até o fim desta semana que já terminou, conversaria com a oposição sobre a data da CPI. Mas viajou para Alagoas, onde há praia, fogueiras, danças e quadrilhas, sem conversar com ninguém. E também se esqueceu de informar quando é que volta a Brasília.

CPI? E quem quer verificar se há mesmo 60 mil contratos sem licitação assinados pela atual diretoria da Petrobras? Nem a oposição quer mexer muito nisso: de repente, sabe como é, aparece gente boa em lugar onde não deveria estar.

O BUSCA-PÉ
Rutger Heuer, leitor do blog de Luís Nassif (http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/), pergunta se, da mesma forma que Eduardo Jorge, chefe da Casa Civil de Fernando Henrique, o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, arquivada a denúncia contra ele, também pode se queixar de perseguição. Pode: a denúncia contra Palocci tinha uma única prova, uma planilha eletrônica da empresa Leão Leão, em que se mencionava o pagamento de R$ 30 mil a alguém identificado como Dr". Como Palocci é médico, os acusadores concluíram que "Dr" só podia ser ele, "doutor". Eta provinha fraca!

CAI, CAI, BALÃO
Líderes do governo e da oposição no Congresso marcaram reunião nesta terça para discutir a reforma tributária. Pode ser - mas, em primeiro lugar, quem estará em Brasília na terça, considerando-se que os parlamentares mais esforçados chegam na quarta? Justo nesta terça, véspera de São João? Para discutir um tema que envolve União, Estados, Municípios e iniciativa privada? Um tema tão complexo que se fala nele desde o governo Sarney e até agora não andou? Os norte-americanos chamam esta época política de silly season, tempo de bobagens. O ex-prefeito carioca César Maia diria que é tempo de factoides. Como não há notícias e os políticos não aguentam ficar fora de jornais e telejornais, criam fatos. Mas uma coisa é certa: deste mato é que não sai a reforma tributária.

SOLUÇÃO SEM FESTAS
A Copa do Mundo está marcada, há chances de que o Rio seja sede dos Jogos Olímpicos, mas o problema continua sem solução: a violência entre as torcidas. E, no entanto, a solução existe - só que é preciso esforçar-se para implementá-la. Um leitor assíduo desta coluna lembra que a Inglaterra teve problemas extremamente sérios com torcedores violentos, a ponto de prejudicar excursões internacionais de times britânicos. Hoje, está tudo tranquilo por lá. A Polícia investigou as brigas (coisa que aqui não se faz nem quando há mortes), filmou os distúrbios, identificou os torcedores violentos e levou-os à Justiça. Foram obrigados a, em dia de jogo de seu time, apresentar-se à delegacia duas horas antes do jogo e só sair duas horas depois. A violência foi controlada, desapareceu, e as restrições europeias aos times ingleses foram levantadas. É só fazer igual. Mas dá trabalho.

TUDO PENSO, NADA FALO
O presidente do Senado, José Sarney, anunciou nova sindicância para apurar denúncias sobre atos secretos. Sarney, como informou o presidente Lula, não é um homem comum: se ele diz que vai abrir uma rigorosa sindicância, ele vai abrir uma rigorosa sindicância. E Sarney, pertencente à Academia Brasileira de Letras, é veterano cultor da palavra. Certamente sabe que "rigorosa sindicância" não é a mesma coisa que "sindicância rigorosa".

O BALÃO VAI SUBINDO
E, já que falamos de palavras, vale lembrar o escritor, George Orwell: em 1984, ele cita a Novilíngua, usada pelos governantes para que o significado do que diziam fosse o oposto do habitual. Quando falavam em liberdade, era escravidão; quando a palavra era paz, queriam dizer guerra. O Senado acaba de dar uma demonstração do que é Novilíngua: para economizar dinheiro das prefeituras, mandou aumentar o número de vereadores.




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