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Após alta, Ideb dos municípios da região aponta cenário de estagnação

Quatro cidades regridem no índice que avalia estudantes em matemática e língua portuguesa

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
16/09/2020 | 00:01
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O Grande ABC apresenta cenário de estagnação nas notas do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), divulgadas ontem pelo MEC (Ministério da Educação). O índice é calculado a cada dois anos com base na aprovação das escolas e do desempenho dos estudantes no Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), que mede os conhecimentos em língua portuguesa e matemática. O resultado varia de 0 a 10.

Ao contrário do que ocorreu entre 2015 e 2017, quando todas as cidades do Grande ABC evoluíram no fundamental 1 (1º ao 5º anos) nas escolas municipais, na atualização de ontem, referente a 2019, Santo André, Diadema e Ribeirão Pires regrediram 0,1 ponto, enquanto São Caetano recuou 0,2. São Bernardo se manteve com nota 6,9 e Mauá evoluiu 0,1. Escolas de Rio Grande da Serra do nível são estaduais. Em contrapartida, cinco cidades conseguiram bater meta estipulada de 2019: São Bernardo, São Caetano, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande (veja os dados ao lado).

Com relação aos anos finais, do ensino fundamental (do 6º ao 9º anos), apenas três cidades do Grande ABC têm escolas municipais: São Caetano e Ribeirão Pires recuaram 0,1, enquanto Mauá saltou de 4,3 para 5,5, batendo a meta de 5,0. No ensino médio, apenas São Caetano tem escolas do nível na região e viu a nota evoluir de 4,6 para 4,9, ou seja, acima da meta, que é de 4,8.

Doutor em educação, o professor Roger Marchesini observa a estabilização nos índices e avalia que o cenário no fundamental 1 é melhor, principalmente pela autonomia das cidades quanto ao planejamento educacional. “Cada município possui suas características e investimentos destinados às unidades de ensino, e cada um sabe dos problemas que enfrenta. São Caetano, por exemplo, historicamente investe muito em educação, como São Bernardo, mas a segunda lida com outros problemas, como ter regiões em áreas da represa (que dificulta o acesso) e locais periféricos, o que também afeta muito. Não são fatores determinantes, mas coadjuvantes”, aponta.

Coordenador do Observatório de Educação do Grande ABC da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Paulo Garcia detalha que, apesar da estagnação entre 2017 e 2019, houve crescimento gradual ao longo dos anos no ensino fundamental 1, tanto no Grande ABC quanto no País. Já no fundamental 2 o cenário é de estagnação, com “ligeiro aumento”. “Importante destacar que o levantamento não traduz a qualidade da educação na escola, mas sim uma fotografia da qualidade de português e matemática”, avalia. Para Garcia, os resultados são influenciados diretamente pelas questões socioeconômicas das famílias dos estudantes.

REFLEXOS
Diante da pandemia do novo coronavírus, os especialistas acreditam que para o próximo levantamento – em 2022, referente a 2021 –, os problemas enfrentados agora vão refletir nos índices. “Agora, os municípios precisam tentar minimizar os efeitos, pois os reflexos de hoje vamos perceber lá em 2022, principalmente nos alunos do ensino médio”, projeta Marchesini.

GRANDE ABC
As prefeituras da região destacam que, de forma geral, os resultados do Ideb foram satisfatórios e importantes para os avanços nas cidades. Apenas as administrações de Santo André e Diadema destacaram que os dados ainda estão em análise pelas secretarias de Educação. Rio Grande da Serra não respondeu à demanda até o fechamento desta edição. 

Estado alcança apenas uma das metas

O Estado de São Paulo alcançou a meta do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) apenas nos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º anos), mas não atingiu a pontuação esperada nos anos finais (6º ao 9º anos) nem no ensino médio. Além disso, viu aumentar a diferença entre as escolas públicas e privadas.

Nos anos iniciais, a nota do Estado subiu de 6,5, em 2017, para 6,6, em 2019, superando a meta de 6,3 e atrás apenas do Paraná (6,8) no ranking. Nos anos finais também houve evolução, de 4,8 para 5,2, mas a meta de 5,5 não foi atingida. Por fim, no ensino médio, o índice saltou de 3,8 para 4,3, longe do desejável, que era 4,9.

Em comparação com o setor privado, o índice se distanciou. Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, as escolas particulares ficaram com 7,6 contra 6,6 dos colégios públicos; nos anos finais o índice apontou 6,7 contra 5,2; por fim, no ensino médio, a diferença foi ainda maior, 6,1 contra 4,3.

O subsecretário de articulação regional da Secretaria da Educação, Henrique Pimentel Filho, acredita que muitas escolas que se destacaram no Ideb fazem parte do PEI (Programa de Ensino Integral). “São escolas que vêm apresentando grande evolução de um ano para o outro. Escolas que passaram de nota 3,6 para 5,2, por exemplo. É a maior expansão de programa da história do Estado”, comenta. O Grande ABC, atualmente, possui 35 escolas estaduais que aderiram ao programa de ensino integral, projeto que começou em agosto do ano passado.

O subsecretário destacou resultados expressivos das escolas do Grande ABC, como a Paulo VI, no Jardim Progresso, em Santo André, que obteve a nota 5,9 no ensino médio. No total, 25 unidades da região – de 122 – tiveram nota acima de 5 no ensino médio.

Pimentel lembra que elementos da escola de programa integral foram levados para as regulares, como as competências socioemocionais.

País registra evolução no ensino médio

Estagnado desde 2009, o ensino médio do Brasil teve o maior crescimento da história no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) registrado em 2019. Somando desempenho de escolas públicas e privadas, a nota subiu de 3,8 computada na última medição, em 2017, para 4,2, ainda assim longe da meta de 5,0. Por outro lado, o desempenho das crianças de 1º ao 5º ano do ensino fundamental desacelerou e aumentou só 0,1 – passando a 5,9, superior à meta, que é 5,7 –, menor avanço desde 2005, quando houve a primeira medição.

As escolas particulares mantiveram as notas nos dois ciclos do fundamental entre 2017 e 2019, com 7,1 do 1º ao 5ª ano e 6,4 nos anos finais, ambos distantes da meta – 7,4 e 7,1, respectivamente. Nos mesmos níveis, as escolas públicas subiram de 5,5 para 5,7 nos anos iniciais e de 4,4 a 4,6 nos anos finais. Entre os mais novos, a meta de 5,5 foi cumprida, já entre os mais velhos o objetivo, que era a nota 5,0, ficou distante.

Todos os Estados avançaram no Ideb do ensino médio público, segmento considerado o mais problemático no País pela dificuldade de atrair e manter o jovem na escola. Nos últimos anos, Estados passaram a investir em ensino integral para adolescentes. Já a reforma do ensino médio, aprovada em 2017 com o objetivo de modernizar e flexibilizar o currículo na etapa, ainda não foi colocada em prática e tem sido ignorada pelo governo Jair Bolsonaro (sem partido).

Os únicos Estados que bateram as metas no ensino médio na rede pública foram Pernambuco (4,4) e Goiás (4,7). O maior crescimento do Ideb no ensino médio foi do Paraná, que subiu de 3,7 para 4,4 e assumiu a terceira colocação no ranking, empatado com Pernambuco. Goiás tem a maior nota do País e Espírito Santos, com 4,6, a segunda. O pior rendimento é da Bahia, Amapá, Pára e Rio Grande do Norte, todas com 3,2.




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