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Várzea se une para salvar vidas

Times amadores da região deixam a rivalidade para dentro de campo e organizam ações

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
24/05/2020 | 23:59
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Celso Luiz/DGABC


No vocabulário popular, dizer que alguma situação é ‘de várzea’ significa que pode ser de qualidade duvidosa, mal feita ou inferior. Os tempos de pandemia do coronavírus têm transformado esses conceitos. Torcedores e seus respectivos times do futebol amador da região vêm dando show de solidariedade e mostrando grande organização, ajudando famílias em diversas comunidades.

Se dentro de campo muitas vezes o clima esquenta e cada um defende seu escudo com unhas e dentes, desta vez a comunidade do futebol amador se uniu para amparar a quem tanto necessita. Arrecadação de alimentos, cestas básicas e roupas para famílias que estão sofrendo as consequências da quarentena, além de entrega de marmitas para pessoas em condição de rua, são algumas das ações que dirigentes e torcedores das equipes buscam para minimizar o estrago da pandemia.

Em São Bernardo, por exemplo, Glauco Luis Diniz, presidente do atual campeão da Divisão Especial, o Unidos do Morro, convocou pessoas de diversos times da cidade (como Ypê, Nacional VV, Cafezal, Marabá, Ferrazópolis, Vila São José, Vila do Tanque e DER) em um grupo denominado “sem rivalidade, solidariedade” para ação de arrecadação nas respectivas comunidades de cada equipe. “Tem muita gente passando fome, a necessidade é muito grande. Até agora conseguimos agraciar mais de 500 pessoas”, disse o dirigente, que arrecadou mais de 1,5 tonelada de alimentos. “O foco do grupo é ajudar os mais necessitados e foi isso que agradou a todos”, explicou o presidente interino do Ferrazópolis, Bruno Pazzini.

Em Diadema, o Nacional FC, a partir de parceria com a Cufa (Central Única das Favelas) – em razão da participação da favela do Campanário na Taça das Favelas – pôde ajudar tanto famílias da própria comunidade quanto de outras próximas (como Inamar, Vila Mulford, Jardim Nações e Parque Reid) com cerca de 200 cestas básicas, 220 chesters congelados, 400 ovos, 900 frascos de álcool higienizador, aproximadamente 50 kits higiênicos e 300 máscaras. “Mesmo correndo risco nesse momento tão difícil, não vamos deixar de ajudar. Há pessoas que estão passando necessidade e quando conseguimos ajudá-las, as palavras de carinho só nos fortalecem. O modo com que elas nos olham, dá para ver a esperança nos olhos de que algo bom está chegando através de nós para ajudá-las. Nos faz acreditar que a solidariedade pode ser mais contagiosa que o vírus”, disse o presidente do Nacional, Jean Carlos. 

GOL DE PLACA

Destaque do líder Santo André na campanha do Paulistão deste ano, com cinco gols, o atacante Ronaldo decidiu atacar também fora do campo e colaborou com o União do Morro, do Parque Capuava. “Ele foi fundamental para nós neste trabalho (de arrecadação)”, exaltou o presidente do time, Otaviano Crispiniano da Rocha, o Tarzan. Foram distribuídas cerca de 5 toneladas de alimentos em comunidades no Capuava, Alzira Franco, Parque do Pedroso, São Mateus, Cidade Tiradentes e Sapopemba (as três últimas, na Capital). “Precisamos estar juntos para salvar vidas. Porque elas não têm preço. Estamos juntos nesse trabalho, vendo de perto o sofrimento de mães e pais de família que muitas vezes choram quando recebem uma cesta básica”, contou Tarzan.

Pentacampeão da Especial de Santo André, o EC Guaraciaba, por sua vez, arrecadou mais de 7 toneladas de alimentos, distribuídos em cestas emergenciais, sendo a maior parte na própria comunidade e no morro da Kibon. “A várzea sempre foi grande família, nunca foi só futebol. Os times sempre buscaram ajudar suas comunidades com ações sociais, neste momento não seria diferente: equipes e torcidas se unindo para que suas ações se tornem maiores”, confirmou Cristiano Augusto, diretor do clube.

MARMITA

Na última quinta-feira, o pessoal da Portuguesinha, na Vila América, em Santo André prepararam e entregaram 50 marmitas a moradores de rua. A ação tem sido semanal, bem como distribuição de cestas básicas, roupas e fraldas. “Nosso intuito é amenizar o sofrimento das famílias carentes e que dependentes de um emprego instável”, explicou a presidente Susana Lopes Queiroz.

Liga de Diadema se volta a jogadores, árbitros e outros

Enquanto os olhares da maioria das ações sociais que buscam arrecadar alimentos estão voltados para as comunidades, a várzea de Diadema resolveu fazer diferente. Iniciativa da Liga de Futebol Amador da cidade, em parceria com a Super Copa Pioneer, ajuda centenas de pessoas que dependem dos jogos de fim de semana tanto para o sustento da família, quanto para o complemento da renda. Nada menos do que 43 toneladas de alimentos foram doados por times, apoiadores, patrocinadores ou admiradores e serão destinados a jogadores, equipe de arbitragem e até pessoas envolvidas na realização das partidas, seja dentro ou fora de campo.

Atualmente, segundo informações da liga, 7.380 atletas estão registrados entre os 155 times filiados na entidade que gere a várzea da cidade. E eles estão divididos entre quatro divisões adultas masculino, feminino, master, veteraníssimo, sub-11, sub-13, sub-15 e sub-17. A intenção da ação era conseguir auxiliar todos estes filiados, mas agora a expectativa é poder ajudar o máximo de pessoas possível.

“É uma ação social muito interessante. Todo mundo vem fazendo ações para as comunidades, mas ninguém pensou nos jogadores amadores que estão parados, que vivem ganhando um dinheiro aqui, outro ali”, declarou o presidente da liga diademense, Laureto Lima. “Pensamos na arbitragem também, que roda sábado e domingo apitando jogos para sobreviver e com tudo isso (quarentena e interrupção de todos os campeonatos) estão desempregados. E, inclusive, as tiazinhas que vendem cachorro-quente na beira do campo para ganhar um trocado e levar o sustento para dentro de casa. E o restante vamos dividir entre as comunidades”, completou o dirigente, que exaltou o comprometimento de todos aqueles que se envolveram na organização, arrecadação e demais processos desta ação. “Juntamos forças e trabalhamos praticamente 24 horas por dia”, afirmou.

De acordo com o presidente da Super Copa Pioneer, Sérgio Pioneer, a meta inicial era conseguir pelo menos 10 toneladas de alimentos. “Vamos distribuir entre quem precisar nos times que estão na Super Copa Pioneer (que tem 84 filiados) e da Liga de Diadema. Muitos jogadores dependem do futebol para sobreviver e estão em situação complicada neste momento, além dos jornalistas, fotógrafos e designers que atuam no futebol de várzea. Vamos também ajudar os árbitros, independentemente de eles trabalharem na Super Copa Pioneer ou não. A nossa ajuda é para todos”, concluiu.

Ontem, uma live (transmissão ao vivo) com oito horas de duração fechou a ação social com a participação parceiros, dirigentes e amigos.

(Colaborou Maurício Silva) 




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