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Chico e tropicalistas homenageiam o maestro Duprat
Do Diário do Grande ABC
02/04/2000 | 15:48
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Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Rita Lee e Gal Costa têm um compromisso especial no mês de outubro. De 25 a 28 estarao juntos no palco da casa de espetáculos Via Funchal para homenagear os 50 anos de música do maestro Rogério Duprat. Haverá grande orquestra, de 80 músicos, em cena, mais as bandas de cada atraçao. Duprat regerá alguns números - os arranjos originais que escreveu para os Mutantes, para os discos tropicalistas dos baianos, para a música "Construçao", de Chico Buarque. Régis e Rudiá Duprat, irmao e sobrinho de Rogério, regerao a maior parte das peças.

Nascido no Rio, em 1932, formado em música em Sao Paulo, Rogério Duprat foi o grande orquestrador do tropicalismo. No disco-manifesto do movimento, "Panis et Circensis", dividiu os créditos com o maestro Júlio Medaglia. Duprat está na famosa foto da capa, à frente dos tropicalistas, sentado, de boné, segurando um penico como se fosse xícara de café.

A homenagem está sendo organizada em termos secretíssimos, talvez, entre outros motivos, pelo fato de o maestro nao gostar de publicidade. Até, durante algum tempo, viveu de jingles, música para publicidade. Mas seu itinerário já foi definido como liberto tanto de preconceitos quanto de egolatrias. Nao deixou jamais que sua imagem fosse explorada comercialmente. Por isso, mudou-se, há quase 30 anos, para um sítio, em Itapecerica da Serra. Hoje fabrica móveis, para consumo próprio. Eventualmente, escreve um arranjo. O último foi para Lulu Santos, em 1997 - para a música "Tempo/Espaço", do disco "Ligue lá'.

Rogério Duprat foi violoncelista da Sinfônica de Sao Paulo, ligou-se ao grupo Música Nova (Medaglia, Willie Correia, Damiano Cozzella), aos concretistas - nessa companhia, sentiu que estava em xeque a cultura do establishment e se preocupou que houvesse uma resposta brasileira às questoes decorrentes. No fim dos anos 60, acompanhado por Chico de Assis, resolveu contaminar um grupo de rock com música sertaneja e contemporânea, tecnologia, psicodelismo beatleniano. Foi como se deu o contato com os Mutantes. Adiante, apresentou o trio de Rita Lee e Arnado e Sérgio Baptista a Gilberto Gil, sugerindo que se unissem para tocar "Domingo no Parque".

Sua idéia nao era participar de, muito menos criar um movimento. O conceito resistente do tropicalismo - a fusao de tudo com tudo, o fim dos critérios de gosto - era, para ele, mais amplo. Queria o fim da idolatria. Para Duprat, a grande herança do movimento foi comportamental. E a possibilidade de que seus agentes ganhassem dinheiro (o que ocorreu com ele mesmo, como admite).

Herança - No entanto, a ligaçao do maestro com a música pop vem de antes. Ele chegou a fazer arranjo para "Vigésimo Andar", versao do rock 'Twenty Flight Rock', de Eddie Cochran - a gravaçao brasileira foi de Albert Pavao. E, depois dos Mutantes, trabalhou com nomes tao diferentes quanto o grupo O Terço e o conjunto Brazillian Octopus, que tinha no elenco Hermeto Paschoal.

Criou a Banda Tropicalista do Duprat, que chegou a gravar um disco, em 1968, com capa citando a do Sgt. Pepper's, dos Beatles, e participaçao dos Mutantes. Em 1970, para a gravadora Philips (hoje Universal), gravou o disco "Nhô Look", resultado de uma pesquisa sobre a música do interior de Sao Paulo. Em 1981, para a Eldorado, gravou a obra-prima "Anacleto de Medeiros', já relançada em CD.




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