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Sonho de menino
Por Rodolfo de Souza
15/08/2019 | 07:00
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Todo ser humano sonha. Talvez porque carregue na cabeça um bocado de pensamentos o dia inteiro, e que se envolva numa miscelânea deles durante a noite. Deve ser isso. Eu, que pouco entendo do riscado, procuro não dar palpites. Fato é que, sempre que se deita para o merecido repouso da carcaça cheia do cansaço diário, toda gente se põe a sonhar. Às vezes, deleite, noutras, chateação. Muitos sonhos angustiantes também proporcionam alívio ao se perceber acordado o sujeito que dormia.

Pessoas que cultivam determinadas obsessões, estas também costumam encontrá-las em seus passeios pelos meandros da mente quando a madrugada chega. É assim que se sonha. Aporrinhações e alegrias, este é o mecanismo que move o entretenimento noturno que muitos afirmam ter um significado, e ousam ainda tecer conjecturas a respeito. Na verdade, ninguém sabe.

Diferente daquele, contudo, é o sonho que se sonha acordado. Nada rebuscado e de difícil entendimento como o outro, o diurno sempre remete a situações que gostaria de viver a pessoa, no mais íntimo dos seus anseios. Aliás, amaria passar a vida toda mergulhada num universo em que tudo acontece segundo seus desejos, os mais belos e, quase sempre, improváveis.

Meninos e meninas também são presas fáceis desses devaneios, por que não seriam? Sobretudo quando a adolescência começa a incomodar com sua presença sorrateira, momento em que os resquícios da infância teimam em sobreviver em meio à turbulência da maturidade que se avizinha. Sonham com o estrelato nos gramados ou nas telas. Sonham ainda com heróis e com games e outras modernidades. Além das guloseimas e presentes que também elevam o pensamento a grandes altitudes, claro.

E foi um sonho como esses que acabou por ganhar espaço aqui nesta singela reflexão. Um sonho que virou realidade, para, logo em seguida, se tornar sonho novamente.

O objeto de desejo do menino levantou voo, mal deixou a caixa. Ganhou as alturas e trouxe um misto de espanto e tristeza ao jovem e inconformado coração, que viu o drone fugir ao comando de terra para desaparecer no céu e, depois, cair no mato alto. Durou pouco a alegria.

Pai e filho correram, no afã de resgatar a pequena aeronave, mas era fim de tarde, e a noite caía, jogando por terra sombras e a esperança de Matheus rever o aparelho. E, para seu desespero, com a noite veio também o vento forte e, em seguida, a chuva.

Matheus acabara de ganhar aquilo que não era simplesmente um brinquedo, mas um aparelho feito para gente grande, ou jovens crescidos o suficiente para o entendimento e o manejo da engenhoca. Há muito que o equipamento habitava seus sonhos. E ele se materializou, tornou-se realidade de uma hora para outra! Mas tão rápido quanto veio, ele se foi.

Perdeu-se o drone e perdeu-se em lágrimas o garoto, que experimentava ali o amargo sabor da frustração. Não sabia, naquele instante de angústia, que só exercitava um percalço desta vida, que é recheada deles. Talvez tenha ido com muita sede ao pote, afinal. Ansiedade incontida diante da novidade.

De qualquer forma, o sonho que, por pouco tempo, deixou de ser sonho, voou para longe, voltou para o seu mundo a fim de se juntar aos seus iguais, e povoar mentes distraídas e sonhadoras.




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