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Billings cedeu 100 tri de litros d’água a Alto Tietê

Obra de transposição foi concluída em 2015; especialistas citam prejuízos para o Grande ABC

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
20/01/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


A transposição entre os sistemas Rio Grande e Alto Tietê, realizada há pouco mais de três anos pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) já enviou 100 milhões de m³ de água da Represa Billings, no Grande ABC, para abastecer cidades daquela região – 100 trilhões de litros. O volume é equivalente à capacidade total do braço Rio Grande, que tem 112 milhões de m³ de água, e corresponde a 10% do armazenamento total da represa.

O Sistema Rio Grande produz 5,5 m³ por segundo de água para abastecer 1,2 milhão de moradores na região. Conforme a Sabesp, o braço da Billings operava com 84,8% de sua capacidade ontem.

O projeto retira água do braço Rio Pequeno, porção mais limpa da Represa Billings, envia para o braço Rio Grande e depois para o Córrego Taiaçupeba-Mirim, em Suzano – 22 quilômetros de dutos. De acordo com o superintendente de Produção de Água da Região Metropolitana, Marco Antonio Barros, desde que a obra foi inaugurada, em setembro de 2015, na maior parte do tempo o envio de água foi feito pela capacidade máxima, de 4 m³ por segundo. A obra custou cerca de R$ 130 milhões.

Barros destacou que a intervenção serviu de experiência para a obra de transposição no Rio Jaguari para o Reservatório Atibainha, no Sistema Cantareira, concluída em 2018. “Guardadas as especificidades topográficas, todos os sistemas se comunicam”, completou.

A Sabesp alega que a transferência não compromete o abastecimento no Grande ABC e que a empresa já se prepara para os períodos de estiagem. “Somados, os sistemas hoje operam em níveis semelhantes a 2018. No ano passado tivemos grande período sem chuvas e chegamos a níveis próximos aos da crise hídrica (2014), mas passamos sem percalços. Em 2019, com sistema mais robusto, aliado à queda geral no consumo pela população, não teremos dificuldades”, observou Barros.

No entanto, professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e especialista em recursos hídricos, Marta Marcondes afirmou que a obra causou assoreamento dos braços da Billings e do Ribeirão da Estiva, em Rio Grande da Serra, por onde passa parte da tubulação. “Já perdemos ao menos 800 metros de represa.”

Marta não se declarou contrária à transposição, mas destacou que são necessárias medidas que garantam a recarga dos reservatórios do Grande ABC, como ampliação da coleta e tratamento de esgoto e preservação das matas ciliares. “A Sabesp tem de pressionar as prefeituras a implantar planos municipais de saneamento. Não podemos aceitar grandes obras na região que retirem as matas e afetem as nascentes”, defendeu. Na região, apenas Diadema não conta com o documento, que traça diretrizes para a área, e somente São Caetano coleta e trata 100% do esgoto.

Para o professor do Departamento de Ciências Ambientais da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) Décio Semensatto, encarar os mananciais como simples reservatórios, sem considerar o ecossistema, é um erro. “A qualidade da água da Billings é pior do que a do Cantareira e, ao longo do tempo, poluentes podem ser transferidos”, destacou, lembrando que quanto mais contaminada a água, mais caro é o tratamento. “Em novo cenário de crise hídrica, a população da região pode ser obrigada a reduzir ainda mais o consumo”, concluiu.

A Sabesp informa que faz acompanhamento diário na Billings sobre seus volumes relativos. Conforme a empresa, as análises não demonstram perda da represa e não há indicação de assoreamento. A companhia alega ainda que a água captada na Billings não apresenta problema relacionado à sua qualidade.

Moradores de Mauá reclamam de desabastecimento

A comunidade do bairro Vila Vitória, em Mauá, sofre há meses com constante falta de água. Segundo a empresária Rosilene Dutra Martins, 40 anos, moradora da Rua Plewna, desde que a cidade passou por grave crise hídrica em 2015, o abastecimento é intermitente. “Tem semana que só temos água na madrugada. Já tive de levantar de madrugada para limpar a casa, porque sabia que durante o dia não teria como. Cheguei ao ponto de escolher qual serviço de casa será feito, se a louça ou a roupa que será lavada”, afirmou. Na semana passada, as residências de Rosilene e dos vizinhos chegaram a ficar quatro dias sem abastecimento. “Tenho saído para comer fora para não ter que sujar louça.”

A dona de casa Ilza Helena Aparecida Rocha, 48, reclamou que há dois dias tentava entrar em contato com a Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), empresa responsável pelo fornecimento, sem sucesso. “Se ao menos a gente tivesse previsão de quando volta, ou fôssemos informados sobre o que está acontecendo, seria melhor”, pontuou.

Questionada, a Sama justificou, em nota, que o problema da Rua Plewna é ocasionado por série de fatores, entre eles, consumo elevado e rede extensa, que passa pelos bairros Parque das Américas, Jardim Guapituba e Jardim Idel, antes de chegar ao local. O superintendente da Sama, Antonio Bertucci, garantiu que não houve interrupção de abastecimento e que as equipes realizaram direcionamentos para amenizar a situação, cuja normalização estava em andamento até o fechamento desta edição.

Ainda de acordo com a autarquia, será realizada obra para sanar essa questão, com a troca da rede atual por uma mais eficiente e moderna. As intervenções devem ter início em cerca de 30 dias e devem durar até três semanas. Segundo a nota, o próprio superintende vai conversar com a população da região nos próximos dias para explicar o que será feito e falar sobre os benefícios das intervenções. 




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