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Sto.André vê ‘sumir’ 78 mi de litros de água

Volume relativo ao primeiro semestre foi desviado por fraudes, segundo dados do Semasa

Por Juliana Stern
Especial para o Diário
30/07/2018 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Fraudes no abastecimento foram responsáveis pelo desvio de aproximadamente 78 milhões de litros de água em Santo André no primeiro semestre deste ano. Até junho, 503 violações foram detectadas pelo Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), um aumento de 40% na comparação com o mesmo período do ano passado. 

Manipulação da ligação através da violação de lacres e cavaletes, fraudes em hidrômetros e ligações de água clandestinas foram responsáveis pelo resultado. O volume perdido nos últimos meses seria suficiente para abastecer 931 famílias de quatro pessoas por seis meses, considerando consumo de 14 mil litros mensais cada uma.

Além do desperdício em um cenário de falta, já que a Região Metropolitana de São Paulo completou na quinta-feira 100 dias sem chuvas, os equipamentos adulterados “também podem comprometer o abastecimento de uma região e, dependendo do caso, até provocar a contaminação da rede de água”, explicou a autarquia, em nota.

Durante o ano passado, 768 violações de ligação de água foram identificadas na cidade, representando aumento de 34% em relação a 2016. Segundo o Semasa, a regularização desses casos gerou economia de 180 milhões de litros de água, volume suficiente para abastecer 9.000 famílias por um mês.

O maior número de ocorrências é encontrado nas vilas Palmares e Valparaíso, em que intervenções não autorizadas nos cavaletes e lacres rompidos correspondem à maioria das violações, sendo 86% dos casos. Em seguida, hidrômetro fraudado e violação do corte na calçada representam 14%, sendo o 1% restante ligações clandestinas. Quando constatada a fraude no imóvel, o morador é notificado e tem 30 dias para se manifestar. Caso não faça a defesa, receberá multa de no mínimo R$ 3.852,70.

A notificação deve ser feita pelo fiscal na constatação da violação. Mas em casos em que o dono do imóvel não se encontra, ou se recusa a atender a fiscalização ou não assinar o auto de infração, o recado é publicado em jornal de grande circulação do município.

A equipe de reportagem do Diário esteve em três endereços em que foram identificadas violações. Um na Rua Correia Dias, no Centro, estava vazio, com placas de “aluga-se”, mas um dos lacres do ramal de água estava rompido. Outro, na Rua Araguaia, Vila Curuçá, estava interditado, pois será demolido para a construção de um prédio. O terceiro, na Rua Alcides de Queirós, no bairro Casa Branca, o proprietário é funcionário do Semasa, e pretendia apresentar defesa à acusação.

Funcionário do Semasa é acusado de burlar sistema

O assistente de manutenção do Semasa João Maria Tavares, 58 anos, foi acusado de furto de água após a fiscalização constatar que o lacre do ramal em seu imóvel, na Rua Alcides de Queirós, no bairro Casa Branca, estava rompido. Funcionário da autarquia há 20 anos, ele disse que o equipamento foi danificado por um de seus cães e que havia pedido conserto há dois meses.

Segundo ele, a “travessura do cãozinho acabou entortando o cano, que ficou vazando água”. Logo que percebeu o problema, Tavares ligou para a autarquia para pedir o conserto, por saber que não é autorizado a mexer nos lacres, que precisariam ser retirados para vedar o vazamento. 

Porém, no momento de pedir o conserto, foi informado de que havia mais 218 ordens de serviço na fila. “Como me conheciam pediram para eu esperar um pouco, porque tinha muitos pedidos na frente. Esperei, mas depois de dois meses não teve jeito”, disse Tavares.

Como a empresa não fazia o serviço, ele mesmo o fez: “Arrumei, porque odeio desperdício, mas tive que tirar o lacre para vedar o cano”, explica. “Mas tirei fotos e guardei o lacre para mostrar que tirei para consertar, não para roubar água.”

Procurado sobre esse caso, o Semasa informou que não havia ordem de serviço aberta para esse imóvel e que o problema foi constatado apenas no último dia 16, quando a fiscalização visitou o local porque consumo se apresentou muito baixo no último mês, 2 metros cúbicos. Residências com apenas um morador normalmente se consomem de 4 a 6 metros cúbicos. Tavares deve se manifestar sobre o caso em até 30 dias após a notificação, o que ainda não ocorreu.

Desde janeiro, foram realizadas 4.072 manutenções de cavalete/hidrômetro, média de 678 por mês.




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