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Giramundo preparara a obra final de Álvaro Apocalypse
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
20/09/2003 | 19:17
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  As marcas do apaixonado e competente trabalho de Álvaro Apocalypse estarão em Pinóquio, espetáculo em fase de produção do Giramundo Teatro de Bonecos, grupo mineiro ao qual o artista se dedicou desde a fundação, em 1970, até a data em que morreu (dia 6 deste mês, aos 66 anos). Ele não finalizou o espetáculo, mas o deixou encaminhado, com os croquis de mais de 30 personagens prontos.

“O Álvaro fazia vários desenhos de um mesmo personagem antes de chegar a um croqui final de cada um, e essa escolha de quais estudos serão utilizados para a criação dos bonecos de Pinóquio ele concluiu. Entre os bonecos, oito estão quase terminados. Ele também acompanhou todo esse trabalho. Deixou pronta ainda uma primeira versão da adaptação que fez do texto, na qual falou que trabalharia mais”, disse Ulisses Tavares, que faz parte da diretoria do Giramundo ao lado de Marcos Malafaia e de Beatriz e Adriana, filhas de Apocalypse.

Por conta da exposição Mundo Giramundo – A Cidade dos Bonecos, realizada no Sesc Santo André entre 7 de junho e 17 de agosto, Apocalypse falou diversas vezes ao Diário. Foram as últimas entrevistas concedidas pelo artista, o coração do Giramundo.

Em uma dessas conversas, no dia 31 de julho, falou que o Pinóquio do grupo pouco se assemelha à animação dos Estúdios Disney – lançada em 1940 – e está próximo do original do italiano Carlo Collodi (1826-1910). “O nosso é mais verdadeiro, não adocicado como o de Disney, que o fez simpático e bonzinho. Pinóquio, que só vira menino no final, é um boneco mal-intencionado. Tem um caráter dúbio e se mete em aventuras por egoísmo”.

Segundo Tavares, a idéia é fazer de Pinóquio uma celebração ao trabalho de Apocalypse. “Para isso, convidaremos pessoas importantes para a história do Giramundo, como a Madu (Maria do Carmo Vivacqua Martins, fundadora do Giramundo junto de Apocalypse e da mulher dele, Terezinha Veloso, morta em fevereiro)”.

“A realização de Pinóquio respeitará as idéias que Álvaro mantinha a respeito do espetáculo. Então, o objetivo é de que o grupo interfira o mínimo possível no que ele deixou preparado. Para prosseguir com a produção, vamos tomar pé do que o Álvaro vinha fazendo. Vasculharemos o que ele deixou”, disse Tavares.

A estréia do espetáculo estava programada para novembro, mas a data foi alterada por conta da morte de Apocalypse. Agora, deve ficar para o primeiro semestre de 2004. “Quando o Álvaro começou a ter problemas de saúde, paralisamos a produção de Pinóquio, o que devemos retomar em outubro depois que voltarmos da França. Lá, participaremos (dia 28 deste mês) do encerramento do Festival Mundial dos Teatros de Marionetes, em Charleville-Mèziéres”, afirmou Tavares. É o mais importante e tradicional evento do gênero em todo o mundo, realizado na cidade que é considerada a capital mundial do teatro de bonecos. Na ocasião, o grupo mostrará Os Orixás, a última produção para adultos deixada por Apocalypse.

A exposição Mundo Giramundo, atualmente em cartaz no Sesc de Catanduva (SP), permanecerá naquela unidade até 12 de outubro. Depois, parte dela segue para o Sesc de Araraquara, também no interior do Estado.

Em entrevista realizada em 12 de agosto, Apocalypse falou sobre a exposição. O Giramundo tem 27 espetáculos, para os quais criamos uns 700 bonecos. Na mostra, que conta toda a história do grupo, só faltam alguns deles, os quais não integram o evento por serem antigos e já não estarem em bom estado de conservação, o que muitas vezes acontece devido à fragilidade dos materiais usados na criação. Transportá-los talvez não fosse uma boa idéia”.




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