O palco de teatro parece não ser o ambiente ideal para ter lições de negócios, mas foi atuando que o analista de sistemas Jean Martins Rito, 32 anos, encontrou as ferramentas para se tornar um futuro gestor. Para aperfeiçoar habilidades como liderança, os profissionais recorrem a cursos nada convencionais como dança de salão, ioga ou motociclismo no Autódromo de Interlagos.

"Tinha dificuldade para me expressar nas reuniões. O improviso do teatro me ajudou a pensar mais rápido e não apenas observar as pessoas na reunião. Sinto mais confiança para falar com meus diretores", afirma Rito. Ele fez o curso por indicação do chefe, que o achava muito formal no trabalho. Foi o Itaú Unibanco, empresa em que trabalha, que pagou a matrícula.

Para afastar as inseguranças do dia a dia, os alunos do curso de teatro da Fundação Armando Álvares Penteado encenam situações como liderança de equipe, demissão e apresentação de projetos ou situações que exigem raciocínio rápido. "São comuns casos de pessoas que têm dificuldade de comunicação com platéias. A meta é ser espontâneo e isso ajuda até nas entrevistas de trabalho", diz a professora de teatro da Faap Nany di Lima.

Nesses cursos os alunos são avaliados individualmente e recebem orientação conforme seus objetivos. A maioria limita as turmas a 20 pessoas, como no Teatro Tuca, da Pontifícia Universidade Católica, onde uma fonoaudióloga auxilia nos exercícios sobre técnicas de voz.

"Uma executiva financeira que trabalha com muitos homens reclamava da voz infantilizada e dificuldade de impor autoridade. Com exercícios de respiração abdominal e colocação de voz, a questão foi resolvida", acrescenta Nany.

Ela lembra de outra aluna que trabalha em um banco e tinha o objetivo de ser promovida para a matriz, em São Francisco, nos Estados Unidos. O trabalho de conclusão das oito semanas de curso dela foi encenar essa proposta para o chefe. "Dois meses depois recebi uma ligação dela direto dos EUA. O curso não foi o responsável, mas a ajudou ter segurança." 

QUALIDADE DE VIDA - Criatividade e bom astral são elementos importantes nos chefes de equipes. A sócia diretora da consultoria de recursos humanos DM Liderança, Adriana Chaves, ressalta que, além de elevar as habilidades de trabalho, as pessoas buscam mais qualidade de vida. "Esses cursos dão ao profissional ferramentas importantes para o ambiente corporativo. Aqueles com disposição de agregar novas experiências conseguem avançar na carreira."

A especialista diz que poucas empresas valorizam esse tipo de busca, mas é algo que chama atenção no currículo. Atividades voluntárias ou relacionadas a artes também são boas experiências.

Atividades ajudam a estreitar relacionamento no trabalho

Resolver problemas de relacionamento ou promover integração dos funcionários estão entre as propostas das aulas de dança de salão e do teatro. A diretora pedagógica da escola Milena Malzoni Dance Center, Fernanda Giuzio, explica que o contato entre os funcionários estimula a identificação e o trabalho em equipe. "Para os homens ajuda até na liderança, pois ele comanda a dama na dança. No caso das mulheres, auxilia na autoestima."

A ioga ajuda a manter a concentração, a flexibilidade e estimula o cérebro. A instrutora do Método De Rose Fernanda Redondo pontua que o desempenho dos profissionais que a praticam pode melhorar até 38%. O exercício é bem procurado por executivos do alto escalão.

O analista de sistemas Jean Martins Rito diz que o teatro colaborou para melhorar a forma como se expressa. "Minha área é muito técnica. O curso me ajudou a interagir melhor com meus superiores e as demais pessoas. Estou sendo preparado para assumir uma equipe, e se relacionar bem é essencial", diz.

No caso do gerente de desenvolvimento de sistemas da Mercedez-Benz, Luiz Borges, o curso de pilotagem de moto o inspira para cumprir os desafios na empresa da mesma forma em que corre na pista do Autódromo de Interlagos. "Aplico o conceito de velocidade das pistas ao meu trabalho."