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Estátuas andreenses estão abandonadas

Bustos sumiram ou foram depredados; para especialista, falta planejamento de gestores públicos

Por Daniel Tossato
Especial para o Diário
23/11/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Quantas vezes passamos pela cidade e vemos um busto ou uma estátua que presta homenagem a alguém e não nos damos conta de quem é a pessoa ou do que se trata a obra? A identificação fica ainda mais difícil quando os monumentos não estão em condições de ser admirados, por estar sujos, pichados e sem qualquer informação que os identifique. A equipe do Diário rodou por Santo André para visitar as homenagens eternizadas em obras de arte espalhadas pela cidade e o resultado não foi dos melhores.

A cidade conta com 24 obras do tipo, segundo o Anuário de Santo André, entre bustos, estátuas e placas que estão em várias localidades. Alguns permanecem protegidos por um teto em locais particulares, o que contribui para que a obra permaneça em boas condições de conservação. Outros, no entanto, estão expostos ao sol e à chuva e não têm a mesma sorte.
 

É o caso de uma das esculturas mais antigas do município, o busto de José Luiz Flaquer ou, como é mais conhecido, Senador Flaquer. A obra feita de bronze foi inaugurada em 1932 e, depois de algumas mudanças de posição, voltou para o local original, na Rua Coronel Oliveira Lima, no famoso Largo da Estátua.


Porém, quem passa pela região nos últimos tempos nota a falta do Senador. Isso porque no dia 7 a obra foi alvo de tentativa de furto, fato que levou a Prefeitura a registrar boletim de ocorrência. As secretarias de Obras e Cultura já orçaram projeto para reinstalação do busto, que aguarda a decisão no acervo do Museu de Santo André Dr. Octaviano Armando Gaiarsa.


Outra obra que também não está no local homenageava a glorificação da indústria e do trabalho, remetendo à industrialização da região, já que o trabalho data de 1947. Localizada na Praça Rui Barbosa, no bairro Santa Terezinha, há apenas a base, já que tanto a bigorna quanto a engrenagem feitas de bronze não se encontram mais por ali, nem a placa que trazia os dizeres explicativos do patrimônio.


DESCASO

Para a professora de planejamento e gestão de território da UFABC (Universidade Federal do ABC) Silvia Passarelli, esse tipo de situação ocorre porque não há planejamento para as obras que ficam expostas publicamente. “Falta controle da administração pública sobre esse tipo de situação. É muito triste que isso aconteça”, ressalta a professora. A afirmação de Silvia foi comprovada pelo fato de que até o fechamento desta edição, a Prefeitura não soube dizer o que aconteceu com o monumento que ficava na Praça Rui Barbosa.


A Praça Kennedy, na Vila Bastos, recebeu esse nome exatamente por contar com uma estátua do presidente norte-americano. Até 1967, data da inauguração da obra, o espaço se chamava Praça Belvedere, um exemplo de como a homenagem foi importante. No entanto, o presidente que olha fixamente para o horizonte enquanto tem o globo terrestre em um das mãos não parece estar nos seus melhores dias. Pichação e sujeira tomam a obra em sua totalidade, tanto o rosto da estátua quanto a placa de homenagem que deveria mostrar as inscrições ao homenageado, mas só traz rabiscos.


O Executivo garantiu que faz todo o acompanhamento e mapeamento das obras por meio de trabalho da Secretaria de Cultura, cabendo à Secretaria de Mobilidade Urbana, Obras e Serviços Públicos a manutenção e fiscalização dos bens.

População precisa valorizar memória local

Segundo a professora da UFABC (Universidade Federal do ABC) Silvia Passarelli, os bustos e estátuas exibidos nas cidades servem para destacar algum momento histórico ou uma pessoa que mereça ser sempre lembrada. “Algumas homenagens têm relação com acontecimentos nacionais ou mundiais. O mais importante é que a obra eterniza ou preserva um momento.”


A professora entende que falta planejamento dos gestores públicos para que os patrimônios sofram o mínimo de dano possível, mas que a sociedade também tem seu papel na conservação. “A Prefeitura tem que criar mecanismos de segurança para que depredações não ocorram.”


Para Silvia a administração tem que levar consciência à população, mostrando os valores culturais e históricos das obras. “É preciso elaborar uma política de valorização do patrimônio, um programa que eduque e leve o cidadão a conhecer e valorizar a cidade, seus bens e sua memória.”




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