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Rastros de ódio
Carlos Brickmann
Para o Diário do Grande ABC
16/11/2014 | 07:00
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Todos negarão o inegável, faz parte do jogo. Mas os desdobramentos da Operação Lava Jato confirmam a guerra entre Poder Executivo e Polícia Federal. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, acusa delegados da PF que estão no comando da operação de ter apoiado o candidato oposicionista Aécio Neves, do PSDB, e feito comentários depreciativos sobre líderes políticos do PT – embora em perfis fechados, a que só têm acesso os integrantes do grupo, embora sem uso de equipamento público. E mandou abrir sindicância sobre seu comportamento.

Bobagem: a Constituição garante a livre opinião e os delegados podem votar em quem quiserem, desde que isso não interfira em seu trabalho. Mas o governo acha que há má-vontade do pessoal da Lava Jato em relação a seus amigos e aliados. E já mobilizou suas tropas contra os federais: jornalistas, internautas, o mesmo grupo que martelou os adversários de Dilma durante a campanha, começaram ao mesmo tempo a bater nos novos adversários.

O objetivo é demonstrar a parcialidade dos delegados e, a partir daí, tentar anular a Lava Jato, ou de pelo menos parte dela. Outra possibilidade é identificar a ação dos delegados com golpismo e organizações paramilitares, como o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, que existiu há pouco mais de 40 anos. Há profissionais especializados em character assassination tentando montar dossiês não apenas dos delegados, mas também do juiz federal Sérgio Moro, que cuida do caso Lava Jato.
E há a luta por posições no novo mandato de Dilma. Mas essa é outra história.

Anula mas não anula
Vamos admitir que, por algum motivo, toda a Operação Lava Jato seja anulada e sepultada, que os detidos sejam soltos com os respectivos pedidos de desculpas, que o juiz Moro e os delegados da Polícia Federal sejam transferidos para posições em que deixem de causar incômodos. E daí? Daí, nada. Há investigações internacionais sobre a administração da Petrobras; e essas investigações, se concluírem pela existência de irregularidades, podem levar a consequências graves para a empresa e seus dirigentes. A Petrobras é negociada na Bolsa de Nova York. Quem compra seus papéis tem direito a dividendos e aposta na valorização do investimento. Se algum desvio for comprovado, os dividendos não terão atingido o valor que deveriam atingir; e a valorização dos papéis certamente não será a mesma. Isso pode levar à proibição de negociar na Bolsa nova-iorquina e a ações de investidores que se julgarem lesados. E lá não há MAV, o Movimento de Arregimentação Virtual petista, pressionando os adversários do governo.

O lance inicial
Nos países de primeiro mundo o controle da circulação de dinheiro é rígido, originalmente para dificultar o financiamento de organizações terroristas. Mas vai mais longe, para punir empresas que, em outros países, adotem práticas proibidas na matriz, como suborno, propina, etc. Por isso uma empresa da Holanda, a SBM Offshore, acaba de ser multada em US$ 240 milhões por pagar propinas em três países, o Brasil, a Guiné Equatorial e Angola (segundo a Procuradoria holandesa, os subornos no Brasil alcançaram US$ 139 milhões entre 2007 e 2011). A SBM Offshore, que confirmou os pagamentos e concordou com a multa, opera com plataformas de petróleo. No Brasil, aluga plataformas à Petrobras.

Os trens tucanos
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o procurador-geral de São Paulo, Márcio Elias Rosa, reuniram-se no dia 13 e escolheram os promotores que, no início de dezembro, viajam a Berna, na Suíça. Objetivo: obter provas contra empresas participantes do cartel dos trens metropolitanos paulistas e dos metrôs de Brasília e São Paulo. De acordo com denúncias da alemã Siemens, que sabe tudo porque esteve lá, o cartel operou entre 1998 e 2008, nos governos paulistas de Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra, todos do PSDB.

Não sabiam de nada
Há algum tempo, houve denúncias na internet a respeito do pagamento de propina pela SBM Offshore para obter contratos na Petrobras. O representante da SBM no Brasil, citado na denúncia, disse que as acusações eram “caluniosas” e “difamatórias”. A Petrobras investigou o caso. Em fevereiro deste ano, funcionários da empresa viajaram à Holanda, em busca de informações. Em março último, a Petrobras informou que não havia encontrado fatos ou documentos que evidenciassem pagamento de propina a seu pessoal. E aí o subornador confessou.

Envenenamento político
Apenas para dar uma ideia de como anda o clima de polarização partidária, o ótimo colunista Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio de Janeiro, registra um problema ocorrido na Rede Globo, durante a transmissão do jogo Atlético Mineiro 2 x Cruzeiro 0, em Belo Horizonte. Na guerra das torcidas, havia uma faixa com os dizeres “Dilma continua ganhando do Aécio aqui em Minas”. Explicando: Aécio torce para o Cruzeiro. E Dilma, embora não entenda sequer porque não dão uma bola para cada jogador, diz que é atleticana. Voltando: a folhas tantas, a faixa apareceu na TV. Um diretor da emissora determinou que a transmissão fosse despolitizada. Sem êxito: no fim, a faixa apareceu de novo. A discussão foi quente. 




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