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Mistérios cravados na noite da vila
Por Luís Felipe Soares
Especial para o Diário
20/04/2008 | 07:01
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A história por trás do roteiro de Sonho de Valsa é recheada de mistérios. No filme, uma mulher morre, seu espírito retorna e uma série de eventos sobrenaturais começa a ocorrer na Vila. “Paranapiacaba é uma cidade antiga e cheia de uma energia misteriosa”, diz Zélia Maria Paralego, monitora ambiental e cultural de Paranapiacaba.

Seus relatos foram uma das fontes para que os roteiristas do curta pudessem elaborar seu trabalho. Uma de suas histórias remete ao ano de 1989. Ela esperava seu marido, que apagava as luzes do antigo Clube União Lyra Serrano, quando sentiu um par de mãos a empurrando escada abaixo.

Anos mais tarde, em 1994, Zélia estava no mesmo local, mas em outra situação. “Eu estava no andar de cima quando um grupo de crianças não queria subir. Disse que elas poderiam vir se quisessem. Uma garotinha veio na ponta da escada e perguntou se eu não tinha medo da ‘moça’ que tomava conta do lugar”, conta ela que se diz ser uma “espécie de guardiã das histórias de Paranapiacaba”.

As lendas da região surgiram a partir de várias histórias que se unem. Os contos são baseados em fatos que, acrescidos de uma ou outra informação, levam a um lado mais fantasioso. Além destas, outras histórias de fantasmas existem, mas ninguém tem coragem de ir contra o que é dito.

Francisca de Araújo, 78 anos – 40 vividos na Vila – , conhecedora de todas as lendas de Paranapiacaba, também foi ouvida pelos idealizadores do filme. Ela narra como tudo ocorreu de uma maneira bem peculiar, cheia de ritmo, lembrando uma poesia. “As histórias atraem os turistas e divulgam a vila”, diz, fazendo questão de contar um outro acontecimento.

Ouvir suas narrativas carregadas de dramaticidade é de causar um certo arrepio, ainda mais no momento em que baixa a espessa neblina na serra e as ruas estão praticamente desertas.

Apesar de narrar lendas com tanto entusiasmo, Francisca se ressente pelo fato de a nova geração não acreditar nas lendas. O cineasta Beto Basant também lamenta a falta de interesse. “O tempo mudou tudo, inclusive a população. Conforme a cidade muda, as histórias vão se perdendo”, diz.

O mistério que cerca a vila ferroviária é um prato cheio para casos inexplicados e lendas. A produção aproveitou esse manancial. “Tive de criar uma ficção que encaixasse em um contexto as histórias que ouvimos e usamos”, afirma Besant. Muitos podem não acreditar nas lendas, mas é como Francisca faz questão de lembrar: “História é história, mas sempre tem uma ponta de verdade”.

(supervisão de Gislaine Gutierre)



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