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Músico coleciona fliperamas

No Parque das Nações, Celso Zappa mantém máquinas que fizeram sucesso na década de 1980 e pretende abrir um centro cultural no bairro

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
23/09/2014 | 07:00
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No Parque das Nações, em Santo André, há uma casa que esconde diversões de décadas passadas. O músico e produtor cultural Celso Zappa, 48 anos, mantém várias máquinas de jogos em uma residência no bairro. Porém, elas não têm nada a ver com os videogames de hoje em dia. São as chamadas máquinas de fliperama, que ficaram famosas na década de 1980.

Segundo Zappa, a ideia de manter os equipamentos veio de paixão que começou na infância. “Quando eu era menino, a diversão da molecada era fliperama. No fim dos anos 1970, meus irmãos trabalhavam em fábricas que produziam as máquinas. Eles compravam para locar e eu ficava em casa jogando o dia inteiro. Mais tarde, meu primeiro emprego também foi em uma fábrica que produzia os jogos, ou seja, nunca fiquei sem um em casa”, disse.

Ele compra as máquinas de colecionadores, mas já chegou a adquirir de quem quis se desfazer do item como sucata. “No começo dos anos 1990, muitas pessoas começaram a vender as máquinas, até mesmo como sucata. No início dos anos 2000, principalmente por causa da internet, algumas pessoas que admiravam os jogos começaram a se reunir e, então, fui comprando vários equipamentos para a coleção.”

Por terem cerca de 30 anos, a maioria dos itens precisa passar por reparos. “Alguns demoram cerca de um ou dois anos para ser restaurados. É um hobby caro. Quando as máquinas chegam, estão cheias de cupins na estrutura de madeira e precisam de pintura nova. Pode custar de R$ 4.000 até R$ 10 mil”, afirmou.

Atualmente Zappa tem cerca de 15 máquinas, das quais seis estão na casa localizada no bairro, onde também mantém uma coleção com 1.200 discos de vinil e livros sobre a história da arte. Entre os planos para a casa, que atualmente abriga os ensaios da sua banda, está o de transformá-la em um centro cultural aberto para toda a comunidade.“Vai ser a Casa de Cultura Parque das Nações. Queremos abrir esse local com exposições e atrações. Já temos uma do cantor Paulo Sérgio programada, já que a viúva dele nos disponibilizou muitos itens pessoais. Coisa a gente tem, só estamos juntando o pessoal para organizar e tentando entrar em um projeto de apoio.”

Biblioteca tem leitores e funcionários fiéis

A Biblioteca Cecília Meirelles, localizada no Parque das Nações, foi fundada em 1967. Ela disponibiliza acervo com cerca de 25 mil exemplares. Suas funcionárias mais antigas, a bibliotecária Elizabete Aparecida Raineres, 52 anos, e a auxiliar de biblioteca Edeni Pereira Moraes, 34, vão se aposentar neste ano e já sentem saudades da rotina.

Elizabete, que trabalha no local há 15 anos, afirmou que apesar de o movimento ter diminuído por causa da internet, muitos ainda procuram a biblioteca. “Temos público fiel. São leitores antigos, que vêm toda semana pegar um exemplar. Para se ter noção, temos 10 mil sócios, mas nem todos estão ativos.”

Ela diz que escolheu a profissão por causa do apego à leitura. “Ultimamente não tenho tanto tempo para ler, mas foi por esse hábito que decidi estar aqui. Na biblioteca nenhum dia é igual. Às vezes está calmo, mas sempre tenho que ir à Prefeitura ou ver qual livro precisa, por exemplo”, afirma.

O espaço também mantém todo o acervo do Diário, desde o ano de 1964, quando o jornal ainda se chamava News Seller. “O pessoal vem consultar sempre, estudantes e pessoas de outras idades. Na maioria das vezes querem ver alguma matéria antiga sobre determinado assunto”, destaca Elizabete.

Enquanto espera a aposentadoria, Edeni já sente saudades dos livros e principalmente das pessoas. “Tenho uma vida aqui, afinal, trabalho há 34 anos e foi graças à biblioteca que criei meus filhos. A gente faz muitos amigos, já que é um espaço bem de bairro mesmo. Trocamos receitas de bolo, conversamos. Vou sentir saudades”, disse, emocionada.

“O coração já está apertado porque cada leitor aqui é um amigo nosso”, declarou Elizabete.

Para quem deseja visitar o espaço, a biblioteca fica na Praça Valdemar Soares e funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h.

Igreja Senhor do Bonfim é famosa por encenação da Paixão de Cristo

A maior igreja católica de Santo André está localizada no Parque das Nações. Fundada em 1949, a Igreja Senhor do Bonfim tem o nome da famosa catedral da Bahia porque abriga uma réplica do mesmo crucifixo mantido no santuário do Nordeste.

“Quando os freis chegaram aqui, havia uma capela bem pobre, uma das mas pobres da cidade. Por isso ganhou o crucifixo que está no altar e é uma réplica da igreja na Bahia”, explicou o pároco frei Nestor Marin.

Há 15 anos os paroquianos realizam a encenação da Paixão de Cristo durante o feriado da Páscoa. Os preparativos para a festa de 2015 já começaram e, segundo o frei, a encenação vai reunir cerca de 140 pessoas, sendo 70 delas na atuação.

Além disso, também serão lançados um DVD com as principais cenas apresentadas e um CD com músicas utilizadas no espetáculo. “Além disso, a Paixão do ano que vem vai ser montada passando por diversos momentos de cada ano. Vai ser mais comprida e ter muito mais figurinos e cenários”, disse o frei.

A igreja também tem uma grande importância para os moradores do bairro. A dona de casa Maria Leonor Silveira, 79 anos, frequenta o local desde 1949. “Venho todos os domingos e é bom demais. É o lugar da comunidade louvar e adorar a Deus.”

A dona de casa Maria José Alencar, 56 anos, batizou todas as filhas lá. “Além disso, todas fizeram a primeira comunhão aqui. Sempre que preciso de paz, venho à igreja.”

Conforme o pároco, por causa da demanda da comunidade, a partir do ano que vem serão celebradas missas todos os dias, ao meio-dia. “Serão mais voltadas para quem quer dar uma pausa no expediente do trabalho. Elas são mais curtas também, terão cerca de meia hora.”

João arruma guarda-chuvas há 17 anos

Ao lado da Igreja do Bonfim, não tem quem não cumprimente seu João José da Silva, 66 anos. Ele está sempre com um sorriso no rosto e arrumando dezenas de guarda-chuvas, deixados aos seus cuidados pelos clientes.

Há 17 anos ele está no mesmo local, com a mesma barraca, consertando o equipamento que protege da chuva. “Acabei aprendendo isso sozinho, apertando umas varetinhas, porque, afinal, isso não se aprende em escola nenhuma, né? Acredito que seja um dom mesmo, e não é justo guardar só para mim, tenho que ajudar outras pessoas.”

Natural de Recife, seu João chegou em Santo André em 1977 e logo começou a trabalhar de metalúrgico nas indústrias da região, como a Cofap, em Santo André, e a CBC, em Ribeirão Pires. Quando se aposentou, não quis ficar parado.

“Acabei escolhendo esse ponto e decidi fazer o que sabia. Tudo o que ganho me dá um certo lucro e ajuda um pouco no meu orçamento.” Ele cobra, em média, R$ 5 pela maioria dos consertos que faz.

Apesar de o serviço ser bem maior em dias chuvosos, ele garante que tem trabalho durante o ano todo. “Não importa se você pagou R$ 10 ou R$ 100 no guarda-chuva, te garanto que ele vai dar algum problema. Pode ser no botão ou nas varetas que seguram o tecido. Com o meu trabalho, ajudo as pessoas a economizarem e não comprarem um objeto novo”, contou.

Atualmente ele está satisfeito com o que faz e disse que não pretende parar de consertar os guarda-chuvas enquanto estiver com saúde. “Primeiro que se sair daqui, o povo me mata porque todo mundo que mora ou trabalha nas proximidades é acostumado a deixar as sombrinhas comigo. Segundo que sou o meu próprio patrão. Sempre trabalhei para os outros, mas agora acabou. Todos os dias, a partir das 9h, estou aqui com a minha barraquinha”, garantiu o metalúrgico. 




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