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A história do homem-bomba

Imaginemos que, num país distante, um governo se sentisse pressionado pela revelação de que andava gastando muito dinheiro público em bobagem

Carlos Brickmann
14/05/2008 | 00:00
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Imaginemos que, num país distante, um governo se sentisse pressionado pela revelação de que andava gastando muito dinheiro público em bobagem. O governo resolveu se armar para a briga, provando que a oposição, quando estava no poder, também gastava em besteira. E mandou fazer um dossiê sobre isso.

Claro, este governo imaginário não tinha a menor intenção de usar o dossiê: isso faria vítimas dos dois lados. Mas a oposição imaginária precisava saber que o dossiê existia, para temê-lo. Então, um mensageiro escolhido entre os mais fiéis servidores do rei encaminhou cópia do dossiê a um líder da oposição.

Parece que a coisa foi mal combinada: a oposição resolveu usar o dossiê para abrir o tiroteio. Pior: pediu investigações sobre a autoria do dossiê. O governo, acuado, tentou mudar de assunto: em vez de apontar o autor, denunciou o mensageiro. Naquele país distante, ninguém gosta de quem transmite más notícias.

Mas parece que a coisa foi mal combinada de novo. O mensageiro, dizem, está furioso: não quer levar a culpa que não tem. E ameaça contar tudo o que sabe - o que inclui o autor, ou a autora, ou os autores, da ordem de fazer o dossiê.

Tudo depende, nesse país distante, da imaginária oposição. Se os opositores resolverem opor-se, e exigirem o nome do autor, ou da autora, da ordem de elaborar o dossiê, vão criar uma crise enorme. Uma belíssima oportunidade para que o mensageiro conte tudo o que sabe e dinamite quem não lhe deu apoio.

Isso, naturalmente, naquele país distante, cuja capital é uma ilha da fantasia.

O CULPADO DE SEMPRE
O caro leitor deve ter notado que, em tudo que acontece de esquisito no Brasil, dizem que o ex-ministro José Dirceu está por perto. Ou foi ele que armou, ou foi um aliado dele, ou foi alguém que certa vez telefonou por engano para uma tia dele. Mesmo quando se fala em Dilma e Erenice (a vice-Dilma), surge o nome do Zé Dirceu. Só que a situação agora esquentou: José Aparecido, o funcionário acusado de entregar o dossiê à assessoria do senador tucano Álvaro Dias, deve ser convocado para depor na CPI dos Cartões. Deve dizer que a culpa não é do Zé Dirceu. E, conforme as circunstâncias, pode contar até de quem é a culpa.

O BURACO DO METRÔ
A investigação foi iniciada por suíços e franceses; o Ministério Público de São Paulo entrou em seguida. A Alstom, multinacional de engenharia, é acusada de pagar propinas para obter contratos - entre eles um de US$ 45 milhões do Metrô paulistano, no período 1995-2003. Nesse período, o governo paulista, que controla a Companhia do Metrô, foi exercido por Mário Covas e Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. Há suspeitas também sobre contratos anteriores, na área de energia, a partir de 1990. Na época, o governador era Luís Antônio Fleury, então do PMDB, hoje no PTB. Importante: não há qualquer acusação contra ninguém, exceto a Alstom; mas, se a empresa pagou propina, certamente haverá quem a tenha recebido. O promotor encarregado do caso é Sílvio Marques.

ALÔ, MAMÃE!
Sem discussão: o juiz mandou prender o casal acusado de matar a menina Isabella e eles tinham de ser presos. Mas, para isso, seriam necessários 80 policiais, mais 15 carros com sirene ligada? Os dois se entregaram sem problemas (e poderiam criá-los, exigindo que os policiais, conforme a lei, esperassem a manhã para entrar no apartamento). Por que algemá-los e enfiá-los no porta-malas de um carro que, por coincidência, não tinha os vidros escurecidos? Tudo indica que não foi apenas uma prisão: foi um show, com o objetivo de humilhar os acusados, com direito a carro da TV ao lado da polícia e muita gente, atraída pela confusão, querendo linchamento. Alô, Corregedoria! É assim que se faz?




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