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Pimenta nos olhos dos outros

No Brasil, em 2007, houve 409 mil grampos telefônicos legais. Nos Estados Unidos, no mesmo período, houve 2.208, informa o Correio Braziliense

Por Carlos Brickmann
14/09/2008 | 00:00
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No Brasil, em 2007, houve 409 mil grampos telefônicos legais. Nos Estados Unidos, no mesmo período, houve 2.208, informa o Correio Braziliense. Os dois mil e poucos grampos americanos abrangem crimes em geral, a Cosa Nostra, o terrorismo da Al Qaeda, a segurança de uma superpotência que tem muitos inimigos. Os 400 mil grampos brasileiros abrangem - bem, deixa pra lá.

Qual a opinião dos cidadãos brasileiros sobre a grampolândia? Não dá para avaliar com precisão; mas, a julgar pelo que divulgam os meios de comunicação, é preocupantemente favorável. Há charges dizendo que só rico tem medo de grampo, que o cidadão comum nada tem a sofrer com a quebra do sigilo bancário; há cartas segundo as quais quem não deve não teme. Há jornalistas dizendo que a defesa das liberdades individuais é algo que interessa apenas aos corruptos.

Nada disso é novidade: muita gente, no massacre de 111 presos no Carandiru, dizia que "ninguém estava rezando". Antes, diziam que quem não se metesse em política não teria problema com tortura. Aliás, os argumentos dos defensores de práticas ilegais para combater o crime organizado lembram o pessoal da tortura: "Vamos deixar de grampear um telefone se isso puder prevenir um sequestro?" O ex-ministro Jarbas Passarinho usou o mesmo exemplo para explicar a tortura.

Como dizia a líder revolucionária européia Rosa Luxemburgo, "a liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem pensa diferente de nós". Qual a vantagem de violar a lei para combater a violação da lei?

RIO E BRASIL
Mais grave que a da Bolívia é a situação do Rio, onde há áreas em que a autoridade estatal não é levada em conta. O Exército enviou tropas, mas apenas para garantir que se possa votar: discutir em quem votar é outra coisa. O presidente do TRE-RJ, desembargador Alberto Motta Moraes, disse a O Globo que a segurança do eleitor depende de cada um. "É só saber votar e manter-se calado". Como proteger quem se atreve a dizer em quem votou?

TV AJUDA, MAS NÃO GANHA
O candidato tucano à Prefeitura paulistana, Geraldo Alckmin, trocou de marqueteiro, pondo no programa de TV e nos anúncios a culpa por seu desempenho nas pesquisas. Mas o problema é outro: não está no marqueteiro, mas no partido, que não honrou uma aliança consolidada e, sem qualquer cálculo político, cedeu às ambições pessoais de Alckmin, não tendo, porém, condições sequer de estruturar sua campanha.

O DELEGADO E O PSOL
As primeiras declarações públicas do delegado Protógenes Queiroz, após o curso que realizou em Brasília, ocorreram em Goiânia, quando o Psol lançou um movimento de combate à corrupção no país. Curioso: a ex-senadora Heloísa Helena, fundadora do Psol, foi condenada em última instância a pagar impostos ainda do tempo em que foi deputada estadual. Heloísa não declarava ao Imposto de Renda as complementações salariais que recebia, como verba de gabinete ou ajuda de custo. Recorreu o quanto pôde, e perdeu. Deve pouco mais de R$ 800 mil aos cofres públicos. E nada disso foi mencionado no movimento de combate à corrupção criado pelo Psol.

LOUCURA À SOLTA
Não havia o que fazer: a 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal, com apoio do Ministério Público Federal, determinou a libertação de nove acusados de pertencer à tropa de choque do PCC, que comanda o crime organizado nas cadeias. Motivo: os nove estão presos há quatro anos e até agora nem a instrução do processo foi concluída. Nestes anos, não houve audiências, porque a Polícia paulista alegou seguidamente que não tinha efetivo para escoltar os réus até o fórum. Ninguém providenciou a escolta, ninguém estranhou a demora, o caso foi sendo empurrado com a barriga, até que não houve alternativa. Agora, claro, haverá o rigoroso inquérito de sempre para apurar responsabilidades.

LOS VECINOS
Conforme esta coluna havia antecipado há muito tempo, a situação na Bolívia se agravou dramaticamente. Os departamentos (Estados) mais ricos, habitados majoritariamente por descendentes de europeus e sem qualquer ligação com os descendentes de índios que habitam as montanhas, querem mais autonomia; o presidente Evo Morales, desde que subiu ao poder, tenta reduzir esta autonomia. O Brasil, com grande atraso, tentou mediar a crise, mas o presidente Evo Morales rejeitou a iniciativa. Para nós, a situação é séria - não apenas pelo gás que importamos, mas pela fronteira de 3.500 km com a Bolívia e pelas ameaças do venezuelano Hugo Chávez de intervir na luta. O Brasil fica bem no caminho.

ASSIM NÃO
O Brasil, atendendo a pedidos do presidente Evo Morales, iria mandar uma comissão de mediadores. Mas Evo desistiu pouco antes da decolagem do avião. Será maldade, porém, imaginar que ele desistiu ao saber que os mediadores eram Marco Aurélio Garcia (aquele do top-top) e Samuel Pinheiro Guimarães.




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