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Comer com os olhos

Dentre tantas outras expressões que acabamos por ouvir...

Carlos Ferrari
19/09/2012 | 00:00
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Dentre tantas outras expressões que acabamos por ouvir ao longo da vida, essa é uma das que, para mim, nunca tiveram tanta importância, talvez pelo motivo óbvio de ser cego, mas também pela grande paixão que tenho pela gastronomia. Creio que mesmo enxergando, meu lado cinestésico, nesse sentido, sempre superaria o visual.

De toda forma, apaixonado que sou por observar o cotidiano, gosto por vezes de problematizar o simples aparente, para poder conversar botando uma pitada de complexidade em determinados detalhes desapercebidos. Que tal falarmos da alface? Tranquilize-se, pois não vou me atrever a transformar esse espaço em um cantinho de receitas culinárias. Apesar de gostar da coisa, só chego ali pelos lados da cozinha na condição de consumidor.

Há algum tempo levanto a questão para amigos, em meio a happy hours, ou mesmo naquele almoço curtinho que só dá tempo de petiscar: a estratégia de forrar um prato com folhas de alface para servir porções de qualquer coisa, que seja frita, faz com que alguém passe a querer comer aquilo com os olhos?

Se não for essa a justificativa, o desperdício da simpática verdura, ou melhor, o seu rebaixamento de alimento para artigo de decoração, é quase ‘caso de polícia'. Um dia, perguntei a um garçom sobre o assunto, e o cara disse que imaginava que isso se tratava de estratégia para que as folhas absorvessem o óleo, deixando assim o prato mais ‘saudável'. O rapaz ainda complementou que, além de tudo, se tratava de algo ambientalmente correto, pois se ao invés da alface fosse utilizado algum tipo de papel com poder de absorção, muitas árvores sofreriam com tal opção.

Outras teses a respeito do tema remetem à possibilidade de uma estratégia de ocupação do prato, fazendo assim com que se tenha no todo menos conteúdo, o que aumentaria o lucro do restaurante ou lanchonete. Tem também aqueles que dizem que além de bonito, fica bom de comer, e não perdoam as folhinhas mesmo encharcadas de gordura. 

O bom dessa conversa, no fim das contas, é a oportunidade que temos de pensar o mundo a partir de diversos olhares. Comemos com os olhos, enxergamos com o coração; agimos com o fígado, falamos com as mãos. Somos múltiplos por essência, e únicos por vocação.

Temos, em qualquer que seja o assunto, bom problema para discutir. Em qualquer que seja o prato, um sabor e um visual novo para descobrir. Enfim, temos na vida a chance enorme de viver, e devemos nos policiar constantemente para não esquecer disso. 




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