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Polícia sem padrão

A "Operação Padrão", movimento de protesto dos delegados de polícia anunciado há um mês no Estado, é apenas mais um sintoma

Wilson Marini
22/04/2010 | 00:00
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A "Operação Padrão", movimento de protesto dos delegados de polícia anunciado há um mês no Estado, é apenas mais um sintoma dos problemas do governo estadual na área de segurança pública. A maioria das cidades do Interior Paulista vive nos últimos anos uma escalada da violência. Em algumas delas, o número de homicídios dobrou de um ano para outro. Cresceu a sensação de insegurança na população na proporção da descentralização dos presídios, feita de forma abrupta e sem investimentos na área de recursos humanos.
Cidades antes distantes geograficamente dos mapas do crime e com a segurança sob controle foram "contaminadas" pela proximidade de unidades prisionais encravadas em áreas urbanas e rurais, atraindo toda sorte de visitantes de outras regiões e estados. O Interior Paulista se tornou vítima de crimes cometidos por fugitivos e beneficiados por indulto em dias especiais.
Veja-se a situação de Franca. A cidade, que já está próxima a dois Centros de Detenção, em Serra Azul e Ribeirão Preto, entra de vez na "rota dos grandes presídios", segundo destacou esta semana o jornal "Comércio da Franca". Triste conquista. O presídio será entregue amanhã, em solenidade simples, com a presença de dois secretários, mas sem a pompa das inaugurações que costumam inflamar os discursos dos políticos, ainda mais em tempos de campanha eleitoral. Sabem eles que a medida é antipática e que haverá impacto negativo na cidade.

Faltam recursos
O governo priorizou a construção de novos presídios, mas não cuidou dos agentes públicos, o que explica o clima de insatisfação dos delegados. Desde setembro de 2009, eles pedem melhorias das condições de trabalho para que possam oferecer um serviço qualificado. A Secretaria de Segurança Publica responde que o "projeto cumpre trâmite legal pelas secretarias envolvidas na questão", explicação burocrática de quem está distante do contato do dia-a-dia com o público.
A maior queixa dos delegados é que faltam funcionários e recursos materiais para a Polícia Civil atuar satisfatoriamente. A chamada "Operação Padrão" consiste em seguir à risca as funções atribuídas ao cargo, o que significa na prática deixar de realizar atividades de escrivão, motorista e carcereiro. Segundo a presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, Marilda Personato Pinheiro, "a população sofre com os atrasos no atendimento." Marilda afirma que a mobilização dos delegados já tem a adesão de 80% dos delegados, cresce a cada dia e caminha para uma "paralisação geral". E lembra a greve de 59 dias deflagrada em 2008. Se isso ocorrer novamente, será desgaste para todos os lados.

"Casa dos Horrores"
O deputado Carlos Giannazi (PSOL, base eleitoral Capital) está indignado com a situação do Departamento de Perícias Médicas do Estado. Ele quer uma CPI para investigar a situação do órgão, chamado por ele de "Casa dos Horrores". Há quem viaje 700 quilômetros para conseguir agendar uma perícia médica. "É um atentado à dignidade humana", diz Giannazi. Faltam funcionários e materiais.

CPI da Gorjeta
Em meio a tantos problemas no Estado, como o crescimento da violência e a epidemia da dengue, a Assembléia Legislativa vai gastar tempo e dinheiro do contribuinte para investigar denúncias sobre a falta de repasse integral pelos empregadores das gorjetas concedidas a trabalhadores em bares e restaurantes. Mauro Bragato, do PSDB (base eleitoral, Presidente Prudente) foi indicado relator terça-feira. Maria Lúcia Amary (PSDB, base eleitoral Sorocaba) preside a CPI. Serão ouvidos sindicatos dos trabalhadores de Araraquara, Sorocaba, São Carlos, Campinas, Santos e São Paulo.

Bancoop
Ainda não deslanchou a investigação sobre a Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo) na Assembléia, caso potencialmente explosivo do ponto de vista eleitoral. O deputado Vicente Cândido (PT) pediu vistas aos 43 requerimentos da comissão, o que provocou novo adiamento da votação dos nomes a serem convocados, como o promotor José Carlos Blat e o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto. A pauta será tomada na terça-feira da próxima semana.




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