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China usa novo Buda para salvar imagem do país
Do Diário do Grande ABC
17/01/2000 | 10:53
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Ao anunciar a entronizaçao de um novo ``Buda vivo', a China tenta salvar sua imagem depois da fuga de um dos principais representantes religiosos tibetanos para a India.

O anúncio foi feito neste domingo, em um breve texto da agência de notícias oficial Nova China, informando sobre a entronizaçao de um menino de 2 anos como a sétima reercanaçao do Rimpotché (Lama reencarnado) do mosteiro de Reting, ao Norte de Lhassa.

Segundo a agência, o novo ``Buda vivo', Soinam Puncog, nasceu na regiao de Lhari (Norte de Lhassa), em 13 de outubro de 1997. A cerimônia de entronizaçao do novo Rimpotché, cuja legitimidade é questionada pelo Dalai Lama, o principal chefe religioso tibetano que vive exilado na India, foi realizada no templo de Johkang em Lhassa, na presença das principais autoridades da cidade e da regiao autônoma do Tibete.

A Nova China enfatizou que o vice-presidente da regiao autônoma havia ``apresentado um certificado oficial do governo regional aprovando o Sétimo Reting', anunciado como ``uma das figuras mais importantes do budismo tibetano'. A agência também aludiu à ``tradiçao patriótica' de seus predecessores.

Seu predecesor imediato, o Sexto Rimpotché de Reting, falecido em 1997, foi uma figura do Tibete pró-comunista, o que nao o impediu de ser perseguido durante a Revoluçao Cultural (1966-76).

O mais famoso dos predecessores, o Quinto Rimpotché de Reting, desempenhou um papel de primeira ordem no Tibete depois do falecimento do 13º Dalai Lama em 1933, quando foi designado regente para administrar o país à espera da entronizaçao do atual Dalai Lama, em 1940.

Também foi professor do Dalai Lama, antes de ser detido em 1947 pelo governo tibetano por ``conluio' com a China. Morreu um mês mais tarde na prisao, quatro anos antes da chegada das tropas chinesas ao Tibete.

A entronizaçao do Sétimo Reting acontece quando o 17º Karmapa, único grande dirigente religioso tibetano reconhecido tanto por Pequim, como pelo Dalai Lama, criou a surpresa ao chegar à India no início de janeiro, depois de ter fugido da China.

Essa fuga tornou incômoda a situaçao de Pequim, onde se afirmou que o religioso viajou para procurar instrumentos de música tradicional e que formalmente nao desertou.

Os tibetanos no exílio temem que no futuro a China, afetada por esta fuga, possa utilizar o Rimpotché de Reting para ``legitimar' a opçao de um sucessor para o atual Dalai Lama.

Já antes da entronizaçao de domingo, o governo no exílio, com sede em Dharamsala, na India, havia questionado a legitimidade do Sétimo Rimpotché, enfatizando que o Dalai Lama em momento algum foi informado disso e que qualquer reencarnaçao devia ser ``aprovada por ele'.

A China contava com o Karmapa para dar crédito à idéia de uma versao ``patriótica' do budismo tibetano, nao vacilando em colocar em primeiro plano este menino de 14 anos para contra-atacar a influência do Dalai Lama, denunciado como um perigoso ``separatista'.

O conflito em torno à legitimidade dos Lamas já levou à designaçao de dois Panchen Lama em 1995 (o segundo personagem do budismo lamaista), um por Pequim e outro pelo Dalai Lama.




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