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Disparada do arroz diminui poder de compra em 8 anos

Em 2012, salário mínimo comprava 60 sacos do cereal e, hoje, 46, o que alterou o consumo

Por Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
20/09/2020 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


A alta no preço do arroz já provocou alterações nos hábitos alimentares da população do Grande ABC. Acompanhado do feijão, o prato faz parte do almoço e jantar da maioria dos brasileiros, mas com o preço do pacote de cinco quilos chegando a R$ 22 nas gôndolas dos supermercados da região, muitos preferem alterar o cardápio para economizar. O produto acaba tendo um peso maior nas famílias com menor renda, já que nos últimos oito anos o poder de compra do salário mínimo diminuiu.

De acordo com dados da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) o pacote de cinco quilos custava, em média, R$ 22,69 na última semana. Com o salário mínimo a R$ 1.045 é possível comprar 46 unidades, 13 a menos do que em 2012, por exemplo, quando o produto também sofreu alta por causa de um fator climático: as constantes secas prejudicaram a colheita. Na época, com salário mínimo de R$ 622 e o saco de arroz a R$ 10,46, dava para comprar 60 unidades.

A disparada dos preços desta vez é explicada pela diminuição de vendas dos países asiáticos e pelo aumento das vendas e produção para o exterior. O engenheiro agrônomo responsável pelo levantamento, Fábio Vezzá De Benedetto, apontou a oscilação do produto em comparação com o câmbio. “O arroz é uma commodity (bens classificados como matéria-prima e que têm o preço determinado pela oferta e procura internacional). Isso mostra que é menos acessível para nós, que ganhamos em real, e que tem uma relação direta com a desvalorização da moeda”, disse.

Com isso, a substituição do cereal vem sendo adotada na região. Para a pensionista Maria do Carmo de Oliveira, 61 anos, moradora do bairro Piraporinha, em Diadema, o então prato do dia a dia virou a estrela do almoço do fim de semana. “Eu estou substituindo por macarrão, legumes e saladas no dia a dia. Se antes eu fazia arroz quatro vezes na semana, agora é arroz só no fim de semana”, disse ela, que mora sozinha e tem como renda um salário mínimo. “Uma outra estratégia que estou usando é a canjiquinha, que temperadinha substitui bem o arroz. O jeito é economizar, porque a gente tem muita coisa para pagar, inclusive as contas de água e luz”, disse.

Para a moradora do bairro Serraria, na mesma cidade, Rosália dos Santos Vieira, 47, que é manicure e revendedora de cosméticos, a mudança no cardápio também aconteceu. Durante a pandemia, ela vendeu máscaras, mas com o marido e o filho, marceneiros que ficaram desempregados, e sem as clientes, o auxílio emergencial foi de muita ajuda. “Eu precisava inteirar para pagar o aluguel de R$ 750. Dependi até de doações. Mas o jeito foi aumentar a quantidade de saladas, legumes, sardinha e ovo. Além disso, pesquiso bastante antes de comprar.”

No Condomínio Maracanã, em Santo André, Marinalva Teixeira da Silva, 59, que está desempregada e faz parte do grupo dos ex-funcionários da Chocolates Pan que ainda não receberam as verbas rescisórias, também comentou a dificuldade. “O jeito é optar por marcas mais baratas e comer menos”, lamentou.

A presidente do MDDF (Movimento de Defesa dos Direitos de Moradores em Favelas), Josenilda Silva, que já arrecadou cestas básicas para 3.100 famílias na região do Parque João Ramalho, em Santo André, afirmou que nas últimas semanas as doações de arroz caíram pela metade. Com a diminuição do valor do auxílio emergencial, ela estima que a procura por ajuda aumente. “Houve uma diminuição do emprego formal e muitas pessoas estão empreendendo e vendendo lanches, por exemplo. Mas até quando vão conseguir se manter? Com o valor de R$ 300 não dá para fazer quase nada”, constatou.

Pesquisa aponta aumento de 56% no preço do grão na região

No início do ano, última semana de fevereiro, quando a pandemia ainda era uma ideia distante, o pacote de cinco quilos de arroz custava R$ 14,27 nos supermercados do Grande ABC. Da lista de itens básicos, o produto foi o que mais encareceu no período da pandemia e está 56% mais salgado, com média de R$ 22,31.

Os dados são de levantamento exclusivo da Zukkin Brasil, empresa de inteligência de preços e que atua em todo o Paísl com pesquisas de preços no varejo, para o Diário.

De acordo com o co-fundador da Zukkin, Ricardo Forte, o produto teve aumento de preços internacionalmente, o que foi repassado. “O arroz é um tipo de produto que o próprio varejista não ganha quase nada em cima, então, a gente pode garantir que não é uma questão de preços do supermercadista. É um repasse que aconteceu em toda a cadeia, desde o fornecedor”, afirmou.

“É um balcão de negócios bem flutuante, o varejista trabalha vendendo o produto e, se há um aumento, ele também tem os custos dele. É uma empresa que precisa pagar os funcionários e manter aluguel, e tudo isso está atrelado à precificação”, explicou Zukkin.

Além do arroz, houve aumento de 44% no preço do óleo de soja e de 42% na margarina. 




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