Os atos foram oficiais, agendas da Presidência: inauguração da UPA (Unidade de Pronto Atendimento 24 horas) da Vila União e entrega de apartamentos no Bairro Cooperativa. Mas o alvo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por São Bernardo ontem foram os tucanos José Serra, ex-governador de São Paulo e candidato ao Palácio do Planalto, e William Dib (leia reportagem abaixo), ex-prefeito e pleiteante a uma cadeira na Câmara Federal.

Lula criticou a presença de Serra na entrega das primeiras 600 ambulâncias do Samu (Serviço Móvel de Atendimento a Urgências), na cidade de Tatuí, em março, quando o tucano ainda estava no comando do Estado. O petista enfatizou que o governo estadual não havia dado nenhum centavo para a compra dos carros.

"E fez discurso como se colocasse muito dinheiro! Isso é porque eu sou um democrata e deixo eles falarem, mas, na verdade, você (ministro da Saúde, José Gomes Temporão) poderia ter me avisado antes, porque eu ia cobrar dele, eu ia cobrar dele no palanque: ‘Como é que você vem inaugurar uma coisa em que você não põe um centavo, não ajuda as prefeituras?'", salientou o presidente.

Sem citar o nome do presidenciável - principal concorrente da candidata do PT, Dilma Rousseff -, Lula continuou com os ataques, em típico clima eleitoral, apesar de também ter falado sobre os benefícios da UPA que estava entregando. "Eles (adversários) disseram o seguinte: ‘Nós não vamos fazer nada, porque nós não queremos trabalhar junto com o governo federal'. É pura ignorância."

O chefe da Nação observou ainda que, "quando isso acontece, quem paga o pato é o povo brasileiro, que votou em todos nós para resolvermos o problema da população e não para criar caso para a população".

O coro de ataques ao tucano, cujo grupo comanda o Estado de São Paulo há 16 anos, foi engrossado pelo prefeito Luiz Marinho (PT). A Prefeitura iniciou as obras do Hospital de Clínicas na semana passada e, segundo o petista, terá apenas verbas dos cofres federal e municipal. "Estamos pedindo para o Estado participar mais, mas não temos nenhum centavo."

Marinho destacou ainda que São Paulo é o único Estado do País que não contribui para a manutenção dos serviços do Samu. "Não há explicação. Há má vontade com as marcas do governo federal, como o ex-prefeito fazia aqui."

 
Presidente chama ex-prefeito William Dib de puxa-saco

Após inaugurar a UPA, as alfinetadas no ex-prefeito William Dib continuaram na entrega de dez prédios, com 224 apartamentos, do Conjunto Habitacional Três Marias. O presidente Lula chegou a chamar o antecessor de Marinho de "puxa-saco".

"Vocês imaginam a ignorância de um prefeito deixar R$ 71 milhões voltar para a Caixa Econômica Federal porque ‘eu não quero trabalhar com o Lula, porque ele é de outro partido político, e eu sou puxa-saco do governador de São Paulo, eu não posso estar junto com o Lula'", afirmou o presidente, referindo-se aos recursos financeiros que estavam parados na gestão Dib (2003 a 2008).

"O Marinho tratou de recuperar alguns projetos que já existiam na cidade e que o outro governo, por conta de eu ser de um partido diferente do dele, se dava ao luxo de não fazer nenhuma parceria com o governo federal. Na verdade era a maior demonstração de ignorância um prefeito não querer dinheiro do governo federal (...) É o absurdo do absurdo, porque isto aqui poderia estar pronto há quatro anos", continuou o presidente.

"Como o Dib ficou seis anos (na Prefeitura) e não trouxe nada, eu quero recuperar o tempo perdido", frisou Luiz Marinho. Até mesmo o vice-presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, deu suas cutucadas no ex-chefe do Executivo. "O que se via em São Bernardo há tempos atrás era o desprezo dos recursos federais."

MAURÍCIO SOARES
Ex-aliado de Dib e parceiro de primeira hora de Marinho, o ex-prefeito Maurício Soares (PT) roubou a cena na cerimônia de entrega dos apartamentos. Ele pediu exoneração da Prefeitura (exercia o cargo de assessor especial) no mês passado para trabalhar na campanha do filho, Maurício Soares Júnior (PDT), a deputado federal.

Mas, mesmo sem cargo ou função administrativa, teve lugar de destaque no palanque e, inclusive, entregou uma das chaves a um dos futuros moradores do conjunto habitacional.