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Macuco tem obras adiadas novamente

Esta é a nona vez que o projeto de urbanização volta à gaveta; término era previsto para 2015

Por Flavia Kurotori
Do Diário do Grande ABC
09/09/2019 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


A novela das melhorias no Macuco-Chafick, conhecido como Morro do Macuco, no Jardim Zaíra, em Mauá, ganha mais um capítulo. Isso porque o projeto para urbanização de assentamento precário teve o prazo estendido em 12 meses pela nona vez, ou seja, a conclusão pode ocorrer até agosto de 2020, conforme publicação no Diário Oficial da última semana. A previsão inicial era que a análise fosse concluída em 2015.

Há um ano, quando o processo foi barrado pela oitava vez, a gestão de Alaíde Damo (MDB) justificou ao Diário que a área possui “maior dificuldade de realização dos serviços de campo, bem como demanda estudos e análises mais acurados com vistas a melhor solução de projeto para os assentamentos precários”. Desta vez, a Prefeitura do município informou, em nota, que “o produto a ser desenvolvido não foi concluído”, por isso o prazo foi prorrogado.

O comunicado também diz que, por causa das variáveis envolvidas, não há previsão para conclusão desta etapa, cujo orçamento, via PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), foi mantido em R$ 1,5 milhão. Vale lembrar que o contrato de R$ 79 milhões para urbanização e regularização fundiária foi firmado em 2013, à época da gestão de Donisete Braga (atual Pros).

Com a conclusão das obras, aproximadamente 11 mil famílias que vivem em área de risco serão beneficiadas. Os moradores relatam que há mais de 40 anos vivem com medo, sobretudo depois de janeiro de 2011, quando a chuva causou série de deslizamentos, deixando cinco mortos e 500 desalojados. Para eles, o recente adiamento reforça a falta de esperança nos avanços prometidos pela administração.

“Estamos sempre na mesma e a nossa esperança era que isso (as obras) já tivesse começado, mas os riscos continuam”, destaca Paulo Ferreira dos Santos, 69 anos, pastor e morador do local há 14 anos. Voluntário da Defesa Civil, se reúne com outras quatro pessoas toda vez que começa a chover. “Saímos olhando as áreas de risco para ver como estão e avisamos as famílias sobre quais documentos devem estar preparados se o pior acontecer”, conta.

Residente do Macuco há 40 anos, Maria Aparecida Cardoso, 47, desempregada, relata que, com as chuvas como a da última semana, ela e os vizinhos ficam preocupados. “Todo mundo tem medo que aconteça como em 2011. Nós já perdemos a esperança porque ninguém, nem prefeito nem vereador, faz nada aqui. É lamentável”, afirma. “Estou aqui a vida toda e nada mudou.”

Elaborado pela Geométrica Engenharia de Projetos Ltda, o projeto executivo para urbanização dos assentamentos precários faz parte da segunda fase de série de melhorias previstas para o Macuco-Chafick – contagem de famílias instaladas – e Jardim Oratório – aprimoramento do processo de urbanização –, além da contenção de trechos de encostas e melhorias ambientais. Procurada pelo Diário, a empresa disse que “para qualquer informação referente a este contrato, solicitamos a gentileza de contatar nosso cliente”.

Medo das famílias é perder seus lares
Segundo o pastor Paulo Ferreira dos Santos, 69 anos, um dos medos da população é ter que sair de casa e não ter para onde ir. “Além de perderem tudo o que construíram durante uma vida, eles (os moradores) temem precisar deixar suas casas e ficarem desamparados, principalmente porque o auxílio-moradia demora para sair e o valor não é suficiente para locar um imóvel”, explica. “Minha família tem mais de 20 pessoas. Onde vou conseguir uma casa para todos nós com cerca de R$ 300 do benefício?”, questiona.

Em sinergia, Maria Aparecida Cardoso, 47, desempregada, ressalta que algumas pessoas estão no aluguel desde 2011, época da fatalidade, aguardando a construção de moradias populares. “Elas estão no apuro. O valor (do aluguel) aumenta todos os anos, mas o auxílio-moradia, não. Tem outras pessoas que estão esperando há dez, 20 anos”, observa. “Eu fiquei na fila por um apartamento até 2017, mas tirei meu nome porque não adianta”, completa.

Para se ter ideia, Mauá tem deficit habitacional estimado em 39.367 residências, de acordo com o último levantamento do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, realizado em 2016. Desde então, a cidade não entregou nenhuma moradia, apenas tem projeto de 880 unidades no Jardim Oratório por meio do PAC – para isso, aguarda liberação do governo federal, conforme publicado pelo Diário em reportagem de julho.




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