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Festa de gente grande
Por Rodolfo de Souza
04/07/2019 | 07:00
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 A festa parece que esteve boa. Agito de gente grande é mesmo assim, cheio de pompa, em lugar onde não tem vez chinelo de dedo e calcanhar rachado. Evento grandioso como esse, só em algumas ocasiões. Lembrou até a entrega do Oscar, que nós, pobres mortais, assistimos pela televisão, só imaginando como seria estar no lugar de uma estrela daquelas, cujo brilho chega a ofuscar até os holofotes. Astros que descem de carros caríssimos, pisam o macio tapete vermelho com sapatos caríssimos, e entram num teatro em que tudo cheira dinheiro.

E a reunião dos grandes do mundo, dias atrás, foi igual àquela, uma 'chiquesa' só.

Circulavam pelos salões homens garbosos com suas mulheres resplandecendo jovialidade e companheirismo servil. Embora não tão jovens, esbanjavam a beleza que a máquina pública se empenha em produzir, seja aqui ou em qualquer outra parte. Nem sou capaz de imaginar o perfume daquelas senhoras que sorriam um sorriso branco e cheio de frescor, igual se vê em anúncio de creme dental.

Diferente do prêmio do cinema, no entanto, aquele encontro juntou pessoas de muito poder, que ditam as regras em seus países e noutros também. Trata-se, pois, de indivíduos, que em tudo carregam a nossa aparência, embora saibamos, que uma assinatura de qualquer um deles é suficiente para selar o destino de muitos povos ao redor do planeta. Está, pois, em suas mãos a decisão de construir ou destruir.

Alguns sorriam para o pipocar de flashes. Um desfile de cinismo com cobertura via satélite para ser humano nenhum botar defeito, foi o que todos pudemos ver. Deixamos de lado, inclusive, os figurões das telas e dos gramados, para nos embebedarmos com a magnitude daquele encontro.

Repórteres afoitos em busca de uma palavra, um gesto, uma foto perfeita que ganhará a primeira página e, oxalá um prêmio para o profissional da imprensa, corriam pelos corredores e salões, promovendo o seu espetáculo particular.

E o mundo, de olho nas reportagens, aguardando, com alguma apreensão, bons negócios ou comentários indigestos, olhares que denunciam boa ou má vontade para com este ou aquele. São, afinal, governantes que ali estão para fechar negócios que rendam vantagens e mais vantagens para seus países. Se no caminho trombarem com grupos de nações nanicas no quesito grana, tanto melhor. Basta esfregar-lhes na cara um contrato qualquer e, pronto, o coitadinho, cheio de felicidade, corre e pede emprestado a Bic que certamente se esqueceu de levar, e o assina, cheio de furor mercadológico.

Depois, corre para o abraço junto aos seus, celebrando o feito que acaba de concretizar. Logicamente que não sabe muito bem o que assinou. Somente que assinou, e pronto. É mais do que suficiente, ora!

Por isso, alguns fizeram mesmo a festa. Festa em que se viu muito peito empolado de gente que tem cacife para ser metida. Logicamente que nem todos estiveram assim tão à vontade ali. Um exemplo é o tal sujeito que não goza de muito prestígio ou de prestígio nenhum, mas que compareceu só para ver se melhorava sua imagem, tentando permanecer ao lado de gente graúda. E ainda se meteu a assinar qualquer coisa como forma de ser observado e admirado por sua conduta de negociante astuto. Vãos esforços. Até na pose para a foto oficial, não se destacou como sonhara, e foi parar a um canto do palco, local onde normalmente se escondem os representantes miúdos.




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