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Apreensão marca viagens para o Rio
Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
29/11/2010 | 07:10
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Policiais e fuzileiros navais armados e pintados para a guerra invadiram ontem o Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, no dia em que os confrontos entre traficantes e a polícia completou uma semana. Enquanto blindados da Marinha levavam o Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) para dentro da favela, a equipe feminina de vôlei do Macaé Sports estreava na Liga Feminina em São Bernardo, contra o BMG/São Bernardo.

Apesar da distância de 250 quilômetros entre Macaé e o Rio, jogadoras, técnico e supervisora do time falaram ao Diário sobre o caos na cidade sede das Olimpíadas de 2016. "O fato dos bandidos terem intimidado o poder público revolta. Lutar contra isso é o primeiro passo", disse a supervisora Elaine Paysan.

O treinador Alexandre Dantas Ferrante, que mora na capital fluminense, acredita no trabalho da polícia."É o começo para construir um cenário positivo."

O vôlei carioca sofreu as consequências do confronto: a decisão do campeonato estadual foi adiada e ainda não tem data para ocorrer. "Depois do adiamento, fiquei assustada, pois minha família mora em Laranjeiras, mas estou direto em Macaé. Torço para que a polícia tenha sucesso desta vez", disse a jogadora Monique Pavão.

Para a companheira de time Camilla Adão, o tráfico no Rio está em todas as comunidades. "O pior é que os jovens das classes A e B ajudam a fortalecer esse mercado. Mas estou confiante, acho que agora vai", ressaltou.

 

VIAJANTES

Enquanto as meninas do vôlei viajaram a trabalho para o Grande ABC, o assistente de instalação de Santo André Adriano Tomás Alfenas, 27 anos, aguardava o ônibus que o levaria do Terminal Rodoviário andreense para o Rio de Janeiro. "Estou nessa vida há três meses: trabalho no Rio e a cada 15 dias venho para cá ver a filhota e minha esposa."

Mas o andreense sente medo? "Ah, um pouco a gente sente, né? Tem muita polícia na rua, carros e ônibus queimados", descreveu.

O companheiro de trabalho de Alfenas, Marcos Luz de Siqueira, 37, é de São Miguel Paulista, na Capital, mas costuma embarcar em Santo André para não seguir viagem sozinho. "Tem dias que a gente não sai do hotel para jantar depois do trabalho porque dá medo. As ruas ficam desertas, tem toque de recolher", comentou. Na última sexta-feira, Alfenas e Siqueira foram impedidos de ir ao trabalho quando a Avenida Brasil, no bairro da Penha, foi fechada por veículos queimados por traficantes.

O ônibus que deixou a rodoviária ontem, às 15h30, seria recebido no Rio por uma escolta do Bope. O motorista William Dias, que faz o trajeto há dez anos, garante não ter medo de passar por áreas de confronto. "Se tiver escolta, melhor ainda."

 

FAMÍLIA

A família Lopes Paes é carioca e veio a Santo André neste fim de semana para participar de uma festa de casamento. O taxista Marcelo da Silva Paes, 37, reconhece que sua cidade está em guerra. "Moramos em Realengo, mas minha esposa trabalha em um shopping perto do Alemão. Estamos acostumados com essa vida no Rio. Sempre foi assim."

Cristiane Lopes não está tão tranquila quanto o marido. Ela impediu a filha Jéssica Lopes Paes, 12, de ir à escola durante a última semana. "Ela vai de condução e fico com medo", revelou. Ao menos 29 ônibus foram queimados por traficantes desde o início dos confrontos, há dez dias, segundo informações da Polícia Militar carioca.

Jéssica não sabe muito bem o que está acontecendo. "A gente não fala sobre isso porque ela não entenderia", explicou o pai. E quem entende tanta violência na cidade que a música diz ser maravilhosa




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