Política Titulo Entrevista
‘O gráfico de arrecadação está descendente’
Por Felipe Siqueira
Especial para o Diário
14/08/2017 | 07:00
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão (PSDB) admite que a arrecadação municipal está em queda livre, seguindo a tendência da crise econômica, mas que a missão em seu segundo mandato é fazer com que a cidade consiga corresponder às necessidades da população em meio ao recuo nas receitas.
Em entrevista ao Diário para analisar os primeiros seis meses de sua segunda gestão, o tucano lembra que repasses federal e estadual, bem como emendas parlamentares, ficaram escassos depois das turbulências política e econômica e que a cidade sentiu na pele esse recuo dos aportes.
“Teve aumento de imposto, na conta de energia, a gente (Prefeitura) paga tudo isso. Administrar Prefeitura é igual casa, paga água, luz. (Estamos em um) Momento muito delicado. Temos que evitar os desperdícios”, cita Maranhão.
O chefe do Executivo detalha também a situação da Saúde municipal. Neste primeiro semestre, a UPA (Unidade Básica de Saúde) 24 horas ficou sem seu quadro médico completo por falta de pagamento de salários. Segundo o prefeito, há descompasso entre os valores gastos mensalmente e o auxílio de custeio federal.
“Aquela pessoa que tinha plano de saúde, que trabalhava, vem se socorrer conosco. Temos 30% do nosso atendimento para pessoas com plano de saúde. Digo que a Saúde a gente pensa no corretivo, de quando a pessoa está doente. Eu acho que o preventivo tem menos dor, desafoga as nossas unidades e é eficiente. Somos uma máquina, é mais fácil e menos doloroso trocar o óleo a cada dez mil quilômetros do que consertar o motor que fundiu”, compara.
Maranhão encerra a série de balanço do primeiro semestre dos prefeitos da região. O chefe do Executivo de Diadema, Lauro Michels (PV), foi convidado a falar sobre seu governo, mas declinou.


O sr. disse ao Diário, no início do segundo mandato, que este seria mais técnico que político. Qual é a principal diferença entre as gestões?

A principal diferença é que eu estou ficando mais velho (risos). A gente vai ficando mais maduro, menos ansioso. Eu digo que é igual ao jogador Romário (ex-seleção brasileira e, hoje, senador). (No fim da carreira) Ele não corria mais tanto, mas ele se posicionava melhor na área. Venho intensificando o método de trazer a palavra gestão. Procurar fazer projetos, colocar pessoas capacitadas para atender os compromissos políticos com a população. Foi neste sentido que fiz aquela fala.

Então, está sendo um governo, de fato, mais técnico?
Neste momento (sim). Venho de uma continuidade. (A intenção é) Colocar metas, prazo (na administração).

Como está sua relação com a Câmara de Vereadores neste segundo mandato?

Eu tenho um respeito muito grande pelo Poder Legislativo. Sei da importância que é para a cidade essa sinergia. Como é difícil relacionamento, não é? Até namorada, que tem relação de sentimentos amorosos, existe conflito, que dirá em uma administração, no convívio.

E com a oposição, como estão os entendimentos?

Alguns dos meus adversários até me fazem trabalhar melhor. Quando a crítica é construtiva, se tem buraco na rua (e vêm me comunicar), a gente fica feliz. (Sendo) Em prol da cidade (está bom). Todos (opositores) têm meu respeito, por serem legítimos. São representantes do povo.

Como o sr. analisou o pedido de impeachment protocolado no Legislativo?

Achei uma atitude um pouco extremista. Perdeu todo o sentido a partir do momento que eu vi que foram para um lado muito mais político, que, de fato, técnico. (Foi um processo) Que chegou sem fundamento nenhum, tanto que não deu em nada (foi reprovado; apenas três vereadores, dos 13 da Casa, votaram a favor da abertura das investigações). Só tenho a lamentar este fato. A pessoa foi eleita pela população, o eleitor acredita que está lá para fiscalizar, de fato, o Executivo, procurar leis que incentive (a cidade), mas que veja que está criando factóides. Foi triste ver que foi gasto tempo para ação de cunho político, que, de fato, em prol para a cidade. Não tinha motivo algum. Isso nos deixa triste, mandato ser utilizado desta forma.

Como o sr. administrou a tensão de ter tido como voto favorável ao impeachment um vereador que era para ser da sua base, como foi o caso de Akira (PSB), que o sr. cogitou, inclusive, ser seu secretário de Desenvolvimento Econômico?

A gente lida como sempre lidou. Respeitando a postura opositora dele e fortalecendo a minha base. Como eu fortaleço? Levando projetos que desenvolvam a cidade.

Como a crise econômica do País afetou Rio Grande da Serra?

O gráfico de arrecadação está descendente porque a nossa arrecadação está atrelada à economia. Ano passado, tivemos 40% de queda na arrecadação do IPTU. Se a pessoa não tem dinheiro para a casa, não paga o IPTU. Teve aumento de imposto, na conta de energia, a gente (Prefeitura) paga tudo isso. Administrar Prefeitura é igual casa, paga água, luz. (Estamos em um) Momento muito delicado. Temos que evitar os desperdícios.

Rio Grande sente falta dos recursos estadual e federal?

Sem dúvida. Emendas parlamentares não estão saindo do papel. A gente lembra o volume que era no passado. As parcerias que fazíamos com o Estado, principalmente na questão de emendas, não tem nada acontecendo. Estamos vivendo, basicamente, de recursos próprios. Mas a gente não pode se lamentar. Estamos procurando terceiro setor, empresas (para poder custear novos projetos). Estamos procurando outros caminhos que não seja se lamentar.

O que aconteceu recentemente na UPA, sobre a falta de pagamentos a médicos, é um reflexo desta falta de recursos dos governos estadual e federal?
Sem dúvida. Vamos ter uma vistoria. A gente recebe R$ 100 mil do governo federal e a gente tem custeio de R$ 500 mil. Estamos tirando R$ 400 mil dos bolsos da Prefeitura. Hoje, 32% do nosso orçamento da nossa cidade é para a Saúde, pisando no freio. Toda pressão que a gente tem na Saúde é pela qualidade do nosso serviço. Isso (de não haver pagamento aos médicos que trabalham na UPA) foi coisa pontual.

Como está a situação da Saúde da cidade?

Aquela pessoa que tinha plano de saúde, que trabalhava, vem se socorrer conosco. Temos 30% do nosso atendimento para pessoas com plano de saúde. Vamos verificar como podemos solicitar estes recursos ao plano de saúde, que nos paguem. As pessoas fazem isso por ser mais rápido e cômodo ir às nossas unidades de Saúde do que muitas vezes ir para São Paulo, em hospitais de referência do plano de saúde. A função nossa é estar descentralizando o atendimento da UPA, mandando atendimentos para as UBSs dos bairros. Ela está sobrecarregada. Digo que a Saúde é pensada no corretivo, de quando a pessoa está doente. Eu acho que o preventivo tem menos dor, desafoga as nossas unidades e é eficiente. Somos uma máquina, é mais fácil e menos doloroso trocar o óleo a cada dez mil quilômetros do que consertar o motor que fundiu.

Com este cenário de falta de recursos para a cidade, como o fato de poder se tornar Município de Interesse Turístico pode ser interessante para Rio Grande da Serra?

Tem uma importância até para a autoestima da população, que é poder dizer que é uma cidade turística. A gente teria este recurso de R$ 700 mil. A nossa estrutura é tão pequena que qualquer ganho deste tem importância. Nosso orçamento equivale a R$ 900 por habitante. (Ser MIT) Nos obriga a criar projetos que valorizem a cidade e estamos caminhando para isso. O nosso desejo é incentivar o turismo. Temos potenciais turísticos, como a Capelinha de São Sebastião e a Pedreira. É um projeto para longo prazo. Estamos trabalhando para meados de maio do ano que vem. Precisamos ver questões de rede hoteleira, dependemos da rede privada. Fomentando o turismo (pode ser possível).

Como o sr. vê a questão de Rio Grande ter perspectiva de se tornar MIT enquanto a cidade vizinha Ribeirão corre o risco de perder o título de estância turística?

Eu tenho certeza que isso não vai acontecer. Ribeirão é merecedora deste título. Acredito na administração que está lá. Tem potencial muito grande, rede hoteleira. (Esta situação de possível perda do título de Estância) É fruto de má administração do passado. (Perder o título) Isto é ruim para toda a região.

O fato de Rio Grande ter proximidade com Ribeirão Pires, que já é estância turística, faz diferença sobre querer ser MIT?

Acredito no corredor turístico. Interligar Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e Paranapiacaba, de Santo André. Unidos podemos formar um produto melhor. Juntos se fortalecem. A partir do momento que as três cidades potencializam suas qualidades, seremos excelente produto, neste corredor.

A Câmara quer mudar sua sede de lugar, para ter mais acessibilidade. Como o sr. vê esta vontade?

Merece um lugar melhor. Quero ser parceiro do Legislativo, mas estou vendo qual o melhor caminho. Lá, no Creb (Centro de Referência da Educação Básica), tem dois serviços que não quero que sejam prejudicados, as aulas de robótica e biblioteca. Junto a isso tenho um desejo de ajudar a cidade a ter uma Câmara melhor, que é a Casa do povo. Acho prudente. Quero deixar esta marca em meu segundo mandato.

Mais ou menos neste período, o seu antecessor, Adler Kiko Teixeira (PSB), iniciou encaminhamento da candidatura do sr. à sucessão, em 2012. O sr. já tem em mente quem vai representar o grupo político em 2020?

Temos o maior e melhor grupo político da cidade. Teremos um excelente quadro para me suceder. Nós vamos fazer sucessor, porque Rio Grande já sofreu muito com más administrações.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;