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Crescem vítimas do fumo na região

Em uma década aumentaram internações e
mortes relacionadas ao câncer de pulmão

Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
31/05/2017 | 07:15
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Celso Luiz/DGABC


A atenção nesta quarta-feira está voltada a um tema: o tabagismo, responsável por 90% das mortes por câncer de pulmão, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer). Embora esforços venham sendo feitos há tempos para desestimular o consumo de tabaco (que tem seu dia de combate mundial celebrado hoje), como a proibição de fumar em locais fechados e a publicação de imagens impactantes em embalagens de cigarros, cresce o número de casos da principal doença relacionada ao fumo, como observado em dez anos no Grande ABC. Segundo o DataSus (banco de dados do Ministério da Saúde), o câncer de pulmão foi o responsável por 252 internações em 2006 e 72 mortes. Em 2016, 284 moradores da região foram internados no sistema público de Saúde e 90 foram a óbito.

“Quem fuma tem de dez a 20 vezes mais chances de ter câncer de pulmão. O tabaco também é atribuído ao aumento de outros tipos de doença, como o câncer de bexiga, enfisema pulmonar, bronquite crônica, problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio, e derrame cerebral. Tudo isso falando de bate pronto, pois há muitos outros problemas relacionados (ao vício)”, salienta o professor responsável pela disciplina de Pneumologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Elie Fiss.

Mais de 50 doenças estão relacionadas ao tabaco. “O fumo passivo (fumaça inalada por pessoas não-fumantes) também pode causar essas doenças, com menor chance de quem fuma, mas pode ter suas complicações”, acrescenta o especialista que, do total de pacientes atendidos por ele, 40% possuem problemas consequentes do tabagismo.

Os últimos dados sobre a quantidade de fumantes na região datam de 2015. Foram levantados pelo Inpes (Instituto de Pesquisas Socioeconômicas) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e publicado pelo Diário há exatamente um ano. Naquela ocasião, o cigarro estava presente no cotidiano de 338 mil moradores das sete cidades maiores de 18 anos. A quantia representa 17,8% do total da população da faixa etária analisada. Em 2011, eram 20,7%. No ano passado, o tabagismo não foi abordado na pesquisa anual da universidade.

Os prejuízos do fumo à saúde têm explicação em dado alarmante: a fumaça do cigarro tem mais de 4.700 substâncias tóxicas. O alcatrão, por exemplo, é constituído de mais de 40 compostos cancerígenos. O impacto também ocorre na saúde financeira dos cofres públicos.

“O cigarro gera muita despesa ao sistema de Saúde, porque o número de internações por doenças relacionadas a ele é muito grande. São bilhões de reais gastos todo ano somente no SUS (Sistema Único de Saúde), sem contar o setor privado”, ressalta Fiss. Em 2015, a pesquisadora da Fiocruz Márcia Pinto publicou o artigo Estimativa da Carga do Tabagismo no Brasil: Mortalidade, Morbidade e Custos, por meio do qual apontou que o custo total para o sistema de Saúde atribuível ao tabagismo alcançou R$ 23,3 bilhões por ano.

“O Brasil progrediu no combate ao tabagismo, mas a luta continua, porque o tabaco é uma droga. E, como toda droga, o trabalho de combate deve ser contínuo. Governos, entidades, todo mundo têm de estar engajado e dar sua contribuição”, conclui Fiss.

Sistema público de Saúde oferece alternativas para problema

Equipamentos do Grande ABC auxiliam quem deseja parar o consumo do cigarro. Em Santo André, no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), há três grupos totalizando 90 participantes. Segundo a Prefeitura, em cada grupo de 30 pessoas, no máximo duas voltam a fumar. Para participar, basta ir ao Caps AD (Rua Gertrudes de Lima, 488, Centro), de segunda a sexta, das 7h às 18h30, fazer ficha e passar por acolhimento. Os chamamentos ocorrem conforme a abertura de novos grupos.

Ainda na cidade, há o Ambulatório de Assistência ao Tabagista da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), no campus universitário. Interessados devem procurar o local de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h30, com documento com foto, cartão do SUS e comprovante de residência em uma das sete cidades. Outra porta de entrada é o encaminhamento pelos municípios da região. Atualmente não há fila de espera. Informações podem ser obtidas pelo telefone 4993-7267.

Em São Bernardo, as 34 UBS (Unidades Básicas de Saúde) possuem grupo antitabagismo, com duração de três meses e atendimento de 20 a 25 pacientes por unidade. As pessoas que pararam de fumar são acompanhadas uma vez por mês pelo programa.

A Prefeitura de Ribeirão Pires informa que está verificando, com o governo do Estado, a adesão a programa que capacita equipes de atendimento na área. A previsão é que o treinamento ocorra no segundo semestre. As demais cidades não retornaram as informações.

Fumantes enfrentam queda de braço para conter vício

Com incontáveis males causados pelo tabaco, muitos fumantes travam briga diária contra eles mesmos na tentativa de abandonar o vício. A estudante de Administração Thaís Segatto, 25 anos, de Santo André, começou a fumar aos 18, por curiosidade. Não consome menos do que dez cigarros por dia e, nos últimos tempos, tem sentido seus efeitos com maior intensidade. “Estou com uma tosse que não passa há quatro semanas e tenho certeza que é porque fumo”, conta. O problema, no entanto, faz queda de braço com a satisfação que sente ao fazer uso do cigarro. “Não tem nada melhor que um cigarro quando se está nervoso, depois de almoçar. Apesar de achar egoísmo, não penso (em parar) a longo prazo”, declara.

A construtora Suzana Martini Ramos, 56, de São Bernardo, teve a primeira experiência com o cigarro ainda na adolescência, aos 15 anos, “época em que fumar era considerado chique”, recorda. Ela relata ter parado de fumar por diversas vezes, mas problemas emocionais e o convívio com o pai fumante venceu todos os esforços. “Enfrento problemas com minha mãe, que está acamada. Meu pai fuma e é difícil resistir quando estou ao lado dele. E acabo voltando.”

Fumante há 13 anos, o jornalista Fagner Moura, 31, de Diadema, já chegou a usar 40 cigarros diários. Ele diz ter conseguido diminuir a quantidade drasticamente, para cinco, mas confessa que ainda não se preparou para largar o vício totalmente. “Acredito que estou próximo a parar”, fala.

“Costumo recomendar para os fumantes que eles precisam perder o medo de ficar sem cigarro, pois nasceram sem fumar. O tabagismo é uma doença que, como qualquer outra, tem altos e baixos, mas não se pode desistir, porque os benefícios de parar são muitos”, explica o professor responsável pela disciplina de Pneumologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Elie Fiss.

O comerciante Flavio Silveira Sandreschi, 52, de Santo André, já parou de fumar por um ano e meio e culpa a ansiedade pela recaída. “Muitas vezes, fumo sem vontade. Preciso muito parar, pois sinto cansaço, falta de ar, tosse, e meu pai morreu devido ao cigarro, de doença pulmonar obstrutiva crônica”, relata ele, que promete persistência. “Continuarei tentando e, no próximo ano, darei entrevista contando como parei de fumar”, projeta.
 




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