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Cinema independente: criativo, bom e barato
Por Vivian Whiteman
Da Redaçao
10/07/1999 | 15:07
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Baratos, criativos e, geralmente, realizados por jovens cineastas, os filmes independentes representam hoje uma parcela significativa da maior indústria cinematográfica do mundo, a norte-americana - além de terem voz ativa em países como India, Inglaterra e Ira.

As margens de Hollywood, esse tipo de cinema, que nao conta com grandes estratégias de marke-ting ou orçamentos milionários, conquistou seu espaço combatendo a mesmice do cinemao e até invade os rankings de bilheteria dos Estados Unidos, rivalizando com seus primos ricos.

Exemplos nao faltam, desde Pulp fiction até o inglês Ou tudo ou nada. Há ainda títulos mais recentes, como Bem-vindo à casa de bonecas, comédia marcada pelo humor nada digestivo de Todd Solondz, e o dinamarquês Festa de família, de Thomas Vintenberg. Este último foi realizado segundo as regras do manifesto Dogma 95 (que repudia o cinema de espetáculo e se assume marginal), custou menos de US$ 500 mil e está rodando o mundo com uma bagagem cheia de prêmios e elogios. Ambos podem ser vistos nesta semana, em mostra no Espaço Unibanco, em Sao Paulo.

Mas as parcerias de grandes estúdios com produtores independentes nem sempre dao certo. O exemplo mais recente é Kevin Smith, diretor da trilogia O balconista, Barrados no shopping e Procura-se Amy, que esteve envolvido numa briga com a Disney. A megacorporaçao comprou os direitos de Dogma (nao confundir com o manifesto), nova produçao do cineasta, mas recusou-se a distribuí-la.

Na fita, dois anjos (as estrelas Matt Damon e Ben Affleck) sao expulsos do céu por Deus (interpretado por Alanis Morissette), descem à Terra e barbarizam os locais por onde passam, deixando dezenas de corpos pelo caminho. A Igreja Católica publicou um documento de repúdio ao filme, e quis colocar a opiniao pública contra o ofensivo trabalho de Smith. A Disney, por sua vez, nao quis manchar a imagem de estúdio familiar e dispensou a fita, que deve ser lançada em outubro desse ano por uma distribuidora fora do esquemao.

Romaria - No Brasil, a questao dos independentes funciona de outra forma. Nao há uma indústria grande e milionária, e quase tudo o que consegue chegar às telas é fruto de uma verdadeira romaria dos cineastas. Por outro lado, jovens cineastas brasileiros surpreenderam o público local e estrangeiro com produçoes de alto nível e que, em geral, nao custaram mais de US$ 3 milhoes. Entre elas, Um céu de estrelas, de Tata Amaral, Os matadores, de Beto Brant, e Kenoma, de Eliane Caffé, que atualmente estao sendo exibidos na França.

Dependendo muito das leis federais de incentivo, o que gera um comprometimento arriscado, a tarefa de realizar um filme vem se tornando cada vez mais difícil. "As leis sao cômodas para o governo, que nao se preocupa em injetar dinheiro na indústria cinematográfica. Você pode até conseguir a aprovaçao de uso do dispositivo, mas obter patrocínio na iniciativa privada está quase impossível", comentou o cineasta Ugo Giorgetti, que procura parceiros para seu novo longa, Príncipe.

Giorgetti disse ainda que, apesar de a produçao de filmes baratos ser uma esperança de manter o cinema brasileiro de pé (seu Boleiros custou R$ 1,7 milhao), o problema é muito mais complicado. "Essa falta de dinheiro limita as possibilidades. Por exemplo, nao dá para fazer um épico com R$ 1 milhao. Além disso, tem a questao dos serviços no país, onde um aluguel de qualquer equipamento é caríssimo. Entao, nem sempre dá para enxugar tanto, é uma coisa meio ilusória", disse.

Já o estreante Luiz Villaça, em recente entrevista ao Diário, comentou que teve de se virar com o baixo orçamento de seu Por trás do pano (R$ 1,5 milhao) - mas, apesar disso, enxerga boas perspectivas. "Estamos nos recuperando da bomba que foi a era Collor e, devagar, as oportunidades vao se abrindo com os investidores, que ainda estao ressabiados", avaliou o diretor, que já se prepara para a captaçao de recursos para seu segundo filme.




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