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Roger Waters põe fim na saga 'The Wall', mas luta contra muros para palestinos
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13/11/2015 | 07:00
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Divulgação


Falar com Roger Waters é falar de política. Sujeito interessado em causas sociais e humanitárias, ele aceitou se religar ao Pink Floyd para uma apresentação histórica no Live 8 (evento criado para pressionar pelo perdão da dívida externa das nações mais pobres do mundo), em 2005, no primeiro reencontro dele no palco com os ex-companheiros de banda David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright em 24 anos.

Para ele, o conceito do disco The Wall, lançado em 1979, ainda é atual - e é motivo para trazer, à tona na entrevista, a forma como os imigrantes sírios estão sendo tratados, e negados, em diferentes países da Europa. "Não se pode construir um muro ao redor de toda a Europa", esbraveja.

Em julho, Waters pediu para que Caetano Veloso e Gilberto Gil não se apresentassem em Tel-Aviv, no fim daquele mês. Os baianos não lhe deram ouvido, mas, no último domingo, 8, Caetano Veloso assinou um texto, no jornal Folha de S. Paulo, com o título "Visitar Israel para não mais voltar a Israel". "Recebi um e-mail com o texto traduzido. O título era: ''Ótima notícia''. Vou enviar uma resposta a ele."

Para Waters a temática de The Wall, lançado há 36 anos, ainda permanece e isso o "entristece absurdamente". "Pense em uma situação hipotética. E se acontecesse uma guerra no Brasil e você não pudesse mais viver no seu país? Imagine que você conseguisse um jeito de ir até Portugal. Chega e diz para eles que todos estão se matando lá e que quer viver ali com eles. Afinal, foram os portugueses que começaram o Brasil. Eles têm responsabilidade de aceitar os brasileiros e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance. E não construir um muro para evitar que esses brasileiros cheguem a Portugal, entende?", desabafa.

Sírios

"Os europeus foram colonizadores por 300 anos. Reino Unido, Holanda, França, Portugal, Espanha. E depois deixaram esses lugares. Até hoje, interferem na política local. Os Estados Unidos também. Agora, é uma obrigação tomar conta dessas vítimas. A ideia de que os problemas podem ser evitados com cercas e muros vai criar um novo Muro da Cisjordânia. Isso não funcionou na Alemanha (o Muro de Berlim, durante a Guerra Fria). Não vai funcionar agora. Você não pode cercar a Europa com um muro. Não pode transformá-la numa fortaleza. Não se pode pensar nos imigrantes como inimigos. São seres humano e devem ser tratados assim".

Questionado se a música perdeu seu papel político e se está sozinho nessa luta, Waters responde que sim, "principalmente quando se marca uma posição com relação aos direitos dos palestinos". E complementa que, "existe um lobby muito forte de forças israelenses, particularmente nos Estados Unidos", que é onde o roqueiro vive. "Eu tive as participações nos programas de TV do Jimmy Fallon e da Charlie Rose canceladas. Não deram justificativas. Talvez não tenha nada a ver com a posição política. Existe um lobby muito grande de Israel. A indústria musical tem medo. Medo para cacete. Algumas pessoas já disseram que, se encamparem essa batalha, suas carreiras estarão arruinadas. Existe um clima de ameaça no ar."

Novo Disco

"Tenho mesmo um novo disco", afirma Waters sobre álbum que deve sair no ano que vem. "E já preparo uma nova turnê por arenas baseado nele. Com algum material antigo. É verdade, nosso tempo acabou."

Livro

"Estou escrevendo", diz o músico. "Tenho que escrever mais uma tonelada de páginas. Tenho apenas algumas ainda. É um daqueles projetos que preciso sentar em algum lugar calmo e escrever. Tchau (em português)."

Filme

The Wall é o projeto da vida de Roger Waters. Nenhum outro tomou tanto tempo quanto este disco, transformado em filme animado, transformando em show megalomaníaco, transformado em documentário.

A repetição de palavras proposital se dá na mesma intensidade com que Waters voltou ao álbum lançado com o Pink Floyd em 1979. Ao encerrar a turnê The Wall Live, Brasil, ele deu o primeiro passo para o fim desse capítulo. Agora, sai o filme Roger Waters The Wall, com direito a trilha sonora também à venda assinada por Nigel Godrich, um misto de documentário com registro da performance grandiosa, e encerra-se o ciclo.

Não deixa ser melancólico. Além da cruzada política, The Wall era a jornada de um homem atrás da sua ancestralidade e do vazio deixado pela morte precoce do pai - ele e o avô de Waters morreram em guerras mundiais. Lágrimas exibidas por Waters curam o luto e é hora de seguir em frente.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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