Memória Titulo História
Imigrantes, migrantes. Santo André, a terra prometida
Por Ademir Medici
20/09/2015 | 07:00
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Santo André, primeira metade do século passado. Uma cidade diferente da maioria das localidades de um Brasil ainda rural. No interior paulista, o café dava sinais de decadência. Observava-se o êxodo rural. Para Santo André eram atraídas as primeiras grandes levas de migrantes. A cidade começava a viver uma nova era, hoje de poucos testemunhos. Um deles é uma nova colaboradora de Memória, Elvira Piva, 95 anos completados semana passada.

A pequena Elvira acompanhou pais e irmãos na mudança de Araras a Santo André. De antepassados italianos – imigrantes – as novas gerações dos Piva se transformavam em migrantes.

Em Santo André já viviam três irmãos Piva – Ricardo, Valentim e Virgilio, com descendência na cidade até hoje. E são eles que convidam Luiz Piva e família a tentarem a sorte por aqui. Começava uma nova década, os anos 1930...

 

Frio. O sol demorava a aparecer

Depoimento: Elvira Piva

 

Em Araras, meu pai administrava uma fazenda de café. Então viemos. Fazia muito frio em Santo André. Uma temperatura horrível. Estranhei muito. Mais chovia do que fazia sol. O sol era difícil de aparecer.

Meu irmão mais velho tinha 14 anos. Adoeceu em Santo André. Faleceu. Desiludida, a família retorna ao interior. Vai se estabelecer em Bariri. Não quisemos mais saber do ABC.

Tempos depois, agora no interior, é o meu pai que falece. Júlia, minha mãe, decide mudar para Santo André para ficar perto dos parentes. Vamos morar numa das casas da vila operária da Ipiranguinha.

 

Os dois apitos da Ipiranguinha

A tecelagem Ipiranguinha estava no auge. Sua produção saia de fardos, um tecido rústico, diferente da casimira fina de outra indústria têxtil, a Kowarick. Empregava muitas mulheres. Elas eram a grande maioria e quase todas moravam ao lado da fábrica, na vilinha, nossas vizinhas.

Esperavam o último dos dois apitos. Todo mundo correndo para não perder a hora. As últimas não entravam. O portão era fechado. Os guardas não as deixavam entrar.

Minhas irmãs, mais velhas, trabalharam na Ipiranguinha. Eu era muito pequena para o trabalho.

Cheguei a estudar um ano no grupo escolar (hoje o prédio ocupado pelo Museu Dr. Octaviano Gaiarsa). Depois fui para o colégio das freiras para aprender trabalhos manuais, como o bordado. Então trabalhei na Rhodia Química. Seguia a pé pela Senador Flaquer, passava pelo Largo da Estátua, descia a Coronel Oliveira Lima ainda de terra para atravessar a estação.

 

O footing da Senador Flaquer

Nossa diversão era ir ao Cine Carlos Gomes. Seguia toda a mocidade. Às quartas-feiras, a Sessão das Moças, às sextas-feiras, a Sessão do Amendoim, dos homens.

Em frente ao Carlos Gomes havia o vai-e-vem (ou footing). Minha mãe segurava muito a gente. Quando comecei a trabalhar tinha uma colega que morava em frente à minha casa, na vilinha, a Marina. Passeava com ela. Fugia das mães para dar uma olhada pros namorados.

Comecei a namorar cedo com o Carlos Guidugli. Namorava na janela, ele do lado de fora, na calçada, até que pediu permissão para entrar em casa. Minha mãe consente, mas diz que o melhor seria mesmo o casório. Eu tinha 16 anos e fui morar na casa da sogra, na mesma Oliveira Lima que me via passar para ir trabalhar na Rhodia.

 

Continua

 

Diário há 30 anos

Sexta-feira, 20 de setembro de 1985 – ano 28, nº 5934

MANCHETE – Terremoto mata no México e ameaça diversas regiões.

SANTO ANDRÉ – Definido o traçado da linha do trólebus entre o viaduto Pedro Dell’Antonia e a Avenida Ramiro Colleoni.

INDÚSTRIA – Empregados da Scania aprovam novo horário de turno, a partir de 1º de outubro: 45 horas semanais.

 

Em 20 de setembro de...

1900 – Fundada a Sociedade Italiana de Mútuo Socorro Savóia, hoje Sociedade Cultural Ítalo-Brasileira de Santo André.

1915 – A guerra italo-austríaca. Do noticiário do Estadão:

‘conquista do bosque de Ferradura pelos italianos’.

1930 – O amador paulista Thierry C. de Rezende, da Capital, visita o Clube de Xadrez de Santo André para sessão de partidas simultâneas.

 

Hoje

Dia do Coletor de Lixo

Dia do Engenheiro Químico

Dia da Revolução Farroupilha

Dia do Gaúcho

Dia do Funcionário Público Municipal de São Paulo

Dia do Policial Civil

 

Santos do Dia

Na estampa, Santo André Kin Taegon (Coréia 1821 – 1846). Durante um trabalho missionário, foi preso pelas autoridades coreanas. Num gesto de coragem professou a fé em Cristo. Seu gesto custou-lhe a vida. André foi decapitado na cidade de Seul em 1846. Na mesma ocasião foram martirizados cento e três homens, mulheres, velhos e crianças, sacerdotes e leigos, ricos e pobres.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza

 

Paulo Chong Hasang

Francisco Maria

 

Municípios Paulistas

Hoje é o aniversário de Itapeva, elevado a município em 1769, e Ipauçu (1925, quando se separou de Santa Cruz do Rio Pardo).

Nazareno Luiz Carlos

(Dois Córregos, SP, 21-5-1929 – São Bernardo, 4-9-2015)

A família do Sr. Nazareno mudou-se para São Paulo quando ele era muito jovem. Fixou-se no bairro paulistano de Indianápolis. Trabalhou na carvoaria do pai. Arranjou emprego na empresa aérea Real, depois Varig-Cruzeiro. E por 31 anos foi jardineiro no Zoológico de São Paulo, onde se aposentou.

A música era uma de suas paixões. Tornou-se harpista e violinista. Integrou a orquestra da Congregação Cristã do Brasil. Na igreja, exerceu o Ministério do Ancião, o que o levou a inúmeras viagens pelo Brasil e América Latina.

Em 1957, já casado com dona Áurea, mudou-se para o bairro do Taboão, em São Bernardo, que estava sendo formado.

Sr. Nazareno teve uma vida simples.

Pessoa dócil e amável. Uma vida dedicada ao semelhante. Tinha sempre uma palavra de conforto e esperança ao outrem. Prova disso é que pelo menos 2.500 pessoas foram ao seu velório, no Jardim da Colina, onde está sepultado.

Ele deixa a esposa Áurea, companheira por mais de 64 anos, os filhos Gamaliel, Daniel, Samuel, Raquel, Isabel e Joel, mais 13 netos e nove bisnetos.




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