Cultura & Lazer Titulo Música
Candidata a miss balanço
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
26/03/2010 | 07:00
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Clara Moreno cresceu ouvindo boa música. Filha da cantora Joyce e do violonista Nelson Ângelo, a intérprete carioca nascida em 1971 já testou o repertório clássico brasileiro de diversas maneiras. Dedicou-se, principalmente, à bossa nova e à música eletrônica. Agora, com "Miss Balanço" (Biscoito Fino, preço médio R$ 34,90), explora o samba e o suingue que, na década de 1970, teve entre seus principais expoentes Jorge Ben Jor e Wilson Simonal.

À frente da receita da bolachinha estão os maiores clássicos e compositores do período. De Ben Jor a Simonal, passando por Gilberto Gil, João Donato e Tito Madi, Clara visita ainda gente como Luiz Claudio, um compositor e cantor que estudou com o maestro Moacir Santos e acabou entrando para o ramo da arquitetura, e Orlandivo. Os violões e a co-produção ficam a cargo de Joyce, que, além de mestra em voz e letra, tem um violão afinadíssimo.

De recheio, a voz de Clara. Com um timbre particular, grave, mas suave, ela se ajusta ao balanço e prova que é capaz de ir muito além da bossa. E por isso transita, navegando suavemente, pelas 14 canções do álbum.

Nas faixas, brinca com a salsa, abrasileirando-a. Sai com um quase samba de breque e chega a outro mais tradicional. Moderniza as levadas e lança a cuíca a seguir.

Ao lado do piano de Tiago Costa, que já tocou com Maria Rita, protagoniza pelo menos três momentos especiais, em "Uala Ualalá" (Jorge Ben Jor), "Vai Devagarinho" (Orlandivo e Roberto Jorge) e "Jeito Bom de Sofrer" (Wilson Simonal e Jorge Luiz). O baixo acústico de Zé Alexandre de Carvalho soma o clima intimista, quase jazzístico, das canções.

O luxo só vem com a participação do compassado piano de João Donato, em "Que Besteira", uma das raras parcerias do instrumentista com Gilberto Gil. Novamente, nesse momento, baixo, piano e bateria endossam o acabamento refinado do trabalho.

Em "Balanço Zona Sul" (Tito Madi), a intérprete explora violão e sopros. A canção é como a prima menos famosa de "Garota de Ipanema" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Explora, fielmente, os maiores clichês da bossa, em ritmo, voz e tema.

"Deixa a Nega Gingar" (Luiz Claudio), que abre o disco, e "Bebete Vãobora" (Jorge Ben Jor), já dão o recado.

A primeira, em ritmo latino e a segunda, com um jogo de voz entre a cantora e o cantor Skowa, que são a ginga e o suingue em forma de música, fecham o quadro e endossam que balanço não é só ritmo, é renovar, e inovar, a bossa e o samba, o que temos de mais tradicional na música, mas sem descompassar a batida.




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