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Trupe Ornitorrinco ganha livro
30/11/2009 | 07:12
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Do porão do Oficina com Strindberg e Brecht aos palcos de Nova York com Shakespeare. Ao completar 32 anos de existência, o Teatro do Ornitorrinco, fundado em 1977 pelo trio Cacá Rosset, Luiz Roberto Galízia e Maria Alice Vergueiro, tem sua trajetória revisitada no livro O Teatro do Ornitorrinco (Imprensa Oficial, 524 págs, R$ 185).

Trata-se de obra em grande formato, com vasto material iconográfico e documental - fotos, programas de peças, reproduções de críticas e reportagens publicados na imprensa do Brasil e do Exterior, desenhos de figurinos, croquis de cenografia e até ingressos e bilhetes escritos à mão pelo diretor Rosset.

Organizado por uma de suas principais atrizes, Christiane Tricerri, fiel representante do espírito irreverente que sempre marcou o Ornitorrinco, o volume refaz cuidadosamente, passo a passo, os caminhos da trupe, Traz depoimentos ao jornalista Guy Corrêa de dezenas de artistas ligados de forma perene ou transitória ao grupo, entre eles Cacá Rosset, Maria Alice Vergueiro, Christiane Tricerri, Rosi Campos, José Rubens Chachá, José de Anchieta, Eduardo Silva, Victor Nosek, Rubens Caribé, Tereza Freire e Mônica Monteiro.

Sem contar perfis que vêm à tona de artistas precocemente mortos, como Luis Antônio Martinez Corrêa, Chiquinho Brandão e o fundador Galízia.

O panorama dos palcos da época do surgimento da trupe, a década de 80, com seus experimentos formais; as primeiras experiências musicais no porão da trupe; o choque provocado por sua estética irreverente num período de abertura política bem mais lenta que o desejado; os escândalos provocados pela nudez até no exterior; e o processo democrático de criação.

Cacá Rosset é descrito por todos como alguém capaz de estimular e absorver a criatividade de toda sua equipe. Que o leitor não espere o distanciamento crítico dos analistas.

MEMÓRIA
São experiências lembradas com intensidade de memória viva e envolvimento de criadores apaixonados. A ação do tempo tem o efeito de filtrar para o leitor os episódios mais atraentes, ora por representarem saltos de qualidade, ora pelos problemas acarretados.

Quem acompanhou o grupo, desde os cabarés brechtianos no porão do Oficina, passando pelo estrondoso sucesso que foi a montagem do Ubu, de Jarry; O Doente Imaginário, de Molière, ou Sonho de Uma Noite de Verão, que estreou em Nova York, certamente vai reviver emoções experimentadas na plateia.

O público jamais era passivo nos espetáculos dirigidos por Rosset e interpretados com grande ousadia por seus atores. Sobre esse potencial de mobilizar a memória do espectador fala Hugo Possolo, diretor dos Parlapatões, em texto de apresentação, no qual conta ainda como conseguiu ser demitido do Ornitorrinco em seu primeiro dia de trabalho.

"As imagens (de Ubu), frações de segundo emocionantes desse livro, voltam-me subitamente", diz ele depois de afirmar que seu grupo não existiria sem a influência estética e filosófica da trupe capitaneada por Rosset. "Dei a sorte de estar na estreia de Ubu, um privilégio cravado na minha alma. A abertura da banda em levada rock'n roll e o Polochon, o porco de duas cabeças e nenhum rabo, anunciavam o que viria.




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