Política Titulo Medicamentos
Contrato emergencial vira 'permanente' em Mauá

Prefeitura da cidade renova acordo para fornecimento
de remédio pelo dobro do valor firmado anteriormente

Por Paula Cabrera
Do Diário do Grande ABC
07/08/2009 | 07:26
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Um dia depois de anunciar a suspensão da licitação para aquisição de materiais médico-hospitalares por conta de impugnações e questionamentos contra o certame impetrados pelos concorrentes, a Prefeitura de Mauá divulgou ontem no Diário Oficial do Estado a renovação dos contratos emergenciais para fornecimentos de remédios.

Os acordos, fechados com as mesmas empresas que já prestam serviços à municipalidade, custarão R$ 5,6 milhões aos cofres públicos, o dobro dos contratos firmados anteriormente. Procurada por e-mail e telefone, a Prefeitura não se manifestou sobre o assunto.

Assim que assumiu a secretaria de Saúde em janeiro, o vice-prefeito Paulo Eugenio Pereira Júnior anunciou os acordos emergenciais no valor de R$ 2,8 milhões para garantir o abastecimento dos postos de saúde de Mauá pelo período de três meses. Na época, explicou que o prazo poderia ser estendido por mais três meses.

O especialista em Direito Público e presidente da comissão de fiscalização da qualidade do Serviço Público da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Aniz Kifouri Júnior, alega que, por tratar-se de contrato emergencial, já em sua segunda renovação, o prazo do contrato deveria ser estudado.

"A regra geral é que o período do contrato tem de ser suficiente para poder ser realizado um processo licitatório. Tem de fornecer prazo suficiente para atender aquele período específico de emergência enquanto se trabalha a licitação."

A falta de informações na publicação que justifiquem o tempo de contrato e os tipos de medicamentos comprados também foram contestados pelo especialista.

"Não posso afirmar o porquê do valor, o que justifica o dobro do pagamento. Isso poderia significar uma compra maior de medicamentos ou um prazo maior do contrato, o que não seria recomendado. As condições de compra, quantidade de medicamentos, tempo de contrato têm de estar na publicidade. Ainda que emergencial, o acordo não dispensa a publicidade completa, imposta pela lei de transparência, até para poder justificar depois a necessidade de se fechar um contrato sem licitação."

Aniz justifica que a possível renovação pelo período de seis meses pode implicar em dificuldades para aprovação das contas do prefeito Oswaldo Dias (PT) quando analisadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado). O Executivo completaria um ano sem realizar licitação para a compra de remédios. (veja reportagem ao lado).

"A compra de medicamentos normalmente é respeitada como emergencial, porque é um tipo de atendimento que não pode ser interrompido ou representará dificuldades à população, mas o contrato tem de depender do princípio da eficiência. Tem de ser respeitado por um período curto."

Ação similar rendeu multa de R$ 95 mil para Leonel Damo

O alto valor do novo contrato firmado pelo Executivo para o fornecimento de medicamentos e a falta de especificidade na publicação referente ao prazo do acordo pode resultar em punição ao prefeito de Mauá, Oswaldo Dias (PT), e ao secretário de Saúde e vice-prefeito, Paulo Eugenio Pereira Júnior.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) condenou recentemente o ex-prefeito Leonel Damo a pagar multa de R$ 95.100 por problema semelhante. Damo contratou em 2008 as empresas Tecsau Tecnologia em Saúde (R$ 1.619.366,50), Intercontinental Medical (R$ 392.445,03) e Quality Medical Comércio e Distribuidora de Medicamentos (R$ 469.307,68) para evitar o desabastecimento nos postos de saúde.

Entretanto, segundo os pareceres do tribunal, o ex-chefe do Executivo não comprovou a necessidade dos acordos para a compra de remédios sem realizar as licitações. Damo recebeu três multas referentes a cada um dos contratos.

Além de Damo, a secretária de Saúde à época da assinatura, Sandra Regina Vieira, foi condenada a pagar R$ 71.352.




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