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Mauá quer entregar
Nardini ao Estado

Prefeito Oswaldo Dias admite não ter condições de administrar hospital e pretende devolvê-lo

William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
07/01/2009 | 07:00
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O prefeito de Mauá, Oswaldo Dias (PT), quer devolver o Hospital Doutor Radamés Nardini, símbolo da crise da Saúde na cidade, ao Estado. Nessa terça-feira, Oswaldo concedeu entrevista para mostrar a situação crítica em que encontrou o hospital, que é a mesma retirada pelo Diário em 29 de dezembro, com graves problemas estruturais, infiltrações, falta de material médico-hospitalar e ausência de profissionais.

A intenção de Oswaldo é semelhante a de seu antecessor, Leonel Damo (PV), que durante o mandato não teve sucesso na iniciativa. Uma "reforma funcional" é a tentativa para resolver parte do problema.

Oswaldo reconheceu que os elevados custos de manutenção impedem o município de arcar com a gestão do Nardini. A unidade vai consumir aproximadamente R$ 50 milhões durante o ano de 2009 - pouco menos do que a metade do gasto total na Saúde municipal.

O prefeito lembrou que o Nardini era estadual e que a municipalização foi um "ato eleitoreiro" do passado. "Pela complexidade dos atendimentos, é algo que custa caro", disse. O Nardini foi municipalizado em 1990, na gestão de Amaury Fioravante.

O secretário de Saúde e vice-prefeito, Paulo Eugênio, ressaltou que o futuro do hospital passa inevitavelmente pela interferência estadual. "Ou o Estado faz outro hospital ou assume o Nardini."

Como paliativo, Paulo Eugênio prometeu reformas funcionais urgentes, como colocação de fechaduras, janelas, tomadas e campainhas para se chamar enfermeiros. "Faremos um levantamento para averiguar o que será necessário. Sabíamos que haveria problemas, mas não tínhamos a dimensão do caos", explicou.

De fato, a Prefeitura ainda não tem a "dimensão do caos", nem sabe quanto será gasto inicialmente. Ontem, o secretário de Obras, Hélcio Antonio da Silva, participou da vistoria para levantar os custos. É tida como necessária uma reforma estrutural no futuro.

A multa de cerca de R$ 3,3 milhões imposta pela Justiça em 2007, em ação movida pelo Ministério Público pela situação calamitosa do hospital, tirou a calma do prefeito, que preferiu desqualificar a cobrança. Oswaldo ironizou o fato de a administração atual ser acionada por algo deixado pela anterior. Também sinalizou que não pretende transformar o valor em investimento. "De onde vamos reverter essa verba?" Reunião ainda neste mês com o MP deve definir a questão.

Remédios terão novo contrato emergencial

O secretário de Saúde de Mauá, Paulo Eugênio, marcou para sexta-feira o início do fim da crise de fornecimento dos medicamentos nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde). No último dia útil da semana, a Prefeitura espera receber os primeiros lotes de contrato emergencial que deverá ser assinado ainda hoje, e que terá duração de 90 dias, até o estabelecimento de outro definitivo.

Remédios simples como dipirona, AAS e diclofenaco de sódio desapareceram das farmácias municipais no segundo semestre de 2008, quando a Home Care (empresa acusada de fraudes em licitações públicas) deixou o município por falta de pagamento da Prefeitura. Agulhas e material médico-hospitalar também sumiram, e nem mesmo o contrato emergencial firmado com seis empresas pela antiga gestão - e estimado em R$ 4,5 milhões - foi capaz de suprir a demanda até 31 de dezembro, quando se encerrou.

Especialistas em gestão de Saúde afirmam que a falta de remédios em farmácias públicas é problema que demora até dois meses para ser resolvido, a partir do momento em que o abastecimento é retomado. Trata-se de algo que envolve a desconfiança da população, que faria estoque temendo nova ausência de produtos. "Para evitar isso, a receita será carimbada no momento em que a pessoa receber o que precisa. Teremos um controle", disse Paulo Eugênio.

O secretário afirmou também que pretende comprar remédios por valor até quatro vezes menor do que o estabelecido em contratos da antiga gestão.

Solução paliativa pode adiar construção de unidade estadual

O hospital estadual de Mauá virou coisa do futuro. Principal defensor da ideia, o deputado estadual Donisete Braga (PT) aponta a edificação de 100 leitos em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires (50 em cada), além da transferência da gestão do Hospital Doutor Radamés Nardini como paliativo para os problemas enfrentados na Saúde neste início de ano.

O deputado afirmou nessa terça-feira que reunião na próxima semana com a Secretaria de Estado da Saúde deve definir os rumos do projeto. O governo do Estado ficaria responsável pela construção dos leitos nas menores cidades do Grande ABC e, fora isso, destinaria para uma ONG (Organização Não-Governamental) ainda não definida, a administração do Nardini. "É uma informação de bastidores, uma alternativa à construção do hospital estadual, que não deve sair neste momento", explicou Braga.

A Secretaria de Estado da Saúde informou que não consta da agenda do secretário Luiz Roberto Barradas Barata nenhuma reunião com representantes do Grande ABC. Também não foi confirmado o plano exposto pelo deputado.

A construção de um pronto-socorro municipal ainda neste ano em Mauá é outra das promessas para desafogar o Nardini. Gerenciado por uma ONG, o hospital ficaria com casos de média e grave complexidade.




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