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Fumantes tentam por três vezes antes de largar o cigarro

Média de sucesso dos tratamentos oferecidos no Grande ABC fica entre 40% e 60%

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
31/05/2014 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Deixar de fumar depende muito mais de vontade que de remédio. Porém, especialistas apontam que fumantes tentam, em média, largar o vício por três vezes antes de efetivamente apagar o último cigarro. No Dia Mundial sem Tabaco, comemorado hoje, os índices de sucesso dos tratamentos oferecidos pela rede de Saúde pública da região ficam entre 40% e 60%.

No Brasil, Pesquisa Internacional de Tabagismo conduzida pela Organização Pan-Americana da Saúde e divulgada ontem aponta que a elevação de impostos sobre o cigarro e o consequente aumento de preços é um forte indutor da redução do consumo de tabaco. De acordo com a análise, as taxas sobre cigarros no País subiram, por maço, 116% entre o fim de 2006 e o fim de 2013. Como consequência direta, a venda de cigarros sofreu queda de 32% no período. Já o número de fumantes diminuiu no período.

De acordo com a última pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), promovida pelo Ministério da Saúde, o número de fumantes acima de 18 anos caiu 28% nos últimos oito anos. O Vigitel 2013 registrou que 11,3% da população brasileira fumam, enquanto em 2006 o índice era de 15,7%.

“Há mais de 50 doenças associadas ao tabagismo, que prejudica diversos órgãos além do pulmão. As patologias cardiovasculares, inclusive, são maiores em números que as de pulmão”, explica o pneumologista do Ambulatório e Combate ao Tabagismo da Faculdade de Medicina do ABC, Adriano César Guazzelli.

No ambulatório, que fica no Hospital Estadual Mário Covas, em Santo André, são realizados encontros semanais de terapia de grupo acompanhada por psicóloga e incrementada com medicação para reposição de nicotina e controle da ansiedade. Segundo Guazzelli, o índice de sucesso deste modelo de tratamento, utilizado também na rede pública de Saúde de São Bernardo, está em torno de 60% no ambulatório. “Funciona porque a pessoa aprende com os erros e acertos do outro.”

Santo André oferece o tratamento também no Naps AD (Núcleo de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), que é credenciado pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer). A psicóloga Maria Aparecida Lacerda é a responsável pela coordenação dos grupos. “Trabalhamos os aspectos emocionais associados ao cigarro, juntamente com a reposição da nicotina durante cerca de dois meses.”

O artesão Ricardo César Miranda da Silva, 54 anos, é um dos que participam atualmente do grupo. Desde os 15 anos, Silva é dependente do cigarro e também do álcool. “Frequentei por muitos anos as reuniões do AA (Alcoólatras Anônimos) para me livrar do vício. Uso o mesmo princípio com o cigarro: um dia de cada vez sem fumar e conseguirei alcançar meu objetivo.”

O pedido da família foi um fator que pesou na decisão da dona de casa Aparecida Isabel Grigoletto, 62, de parar de fumar. “Minha filha tem 30 anos hoje e, desde pequena, pedia para que deixasse o cigarro. Ela e meu marido estão muito felizes com meu progresso”, garante.

Cigarro eletrônico preocupa médicos

A Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo promove alerta contra o uso do cigarro eletrônico como substituto do convencional. Conforme o presidente da entidade na região, o cardiologista Rogério Krakauer, estudos têm mostrado a presença de metais pesados nestes aparelhos, como estanho e sílica, além de substâncias tóxicas encontradas em líquidos anticongelamento. “Não há pesquisas que assegurem o uso.”

O cigarro eletrônico também pode levar as pessoas, principalmente jovens, ao uso do cigarro comum. “A presença da nicotina, apesar de em menor quantidade no modelo, induz ao vício.”

Para alertar moradores da região, será realizada palestra de conscientização amanhã, às 16h, na Paróquia Nossa Senhora do Paraíso (Rua Macaúba, 403 – bairro Paraíso), em Santo André. A participação é gratuita.

Krakauer destaca que o consumo do cigarro aumenta em até quatro vezes o risco de ter infarto e AVC (Acidente Vascular Cerebral), além de favorecer o desenvolvimento de câncer não apenas no pulmão, como em outros órgãos.

O especialista destaca que o tratamento multidisciplinar é essencial para abandonar o vício. “O cigarro se torna um hábito, uma bengala emocional. A pessoa precisa aprender a lidar com as frustrações e decepções da vida sem ele.”

Para garantir que não irá retornar ao vício, o cardiologista indica que, após o tratamento convencional, seja feito acompanhamento por dois anos com medicamentos para ansiedade. “Essa é uma das principais características de quem desenvolve o vício, portanto, também precisa ser tratada.”




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