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Enterro de garotos é marcado por forte comoção

Cerca de 200 pessoas foram ao Santa Lídia se despedir de jovens mortos no Tancão da Morte

Rafael Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
31/01/2014 | 07:00
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Mesmo sob forte calor, cerca de 200 pessoas lotaram na tarde de ontem o Cemitério Santa Lídia, em Mauá, para dar adeus, de forma comovente, aos cinco jovens que morreram afogados no Tancão da Morte, em Santo André.

Poucos presentes conseguiram interromper as lágrimas para dar declarações, em uma cerimônia que emocionou até as pessoas que não conheciam os meninos.

“A mamãe está aqui filho”, repetia, emocionada Andreia dos Santos Lima, mãe de Matheus Santos Dias de Souza, a mais nova das vítimas, 12 anos. “Ele cuidava de mim, quem vai fazer isso agora? Era só um menino, nunca fez nada para ninguém. Não consigo esquecer do rosto dele até agora.”

O velório ocorrera antes no Cemitério Vale dos Pinheirais e foi fechado à imprensa. A Prefeitura disponibilizou ônibus para transportar as pessoas até o Santa Lídia. Mesmo assim, grande carreata se formou no trajeto entre um ponto e outro, emocionando toda a cidade.

“Não tem mais o que falar gente. Peço só que me respeitem. Não consigo nem pensar no que dizer”, disse o pintor Roberto Carlos da Silva, 40, pai de Douglas Roberto Santana da Silva, o mais velho do grupo, de 17.

Os cinco garotos, conforme o pedido feito pelas famílias, foram enterrados juntos, em um mesmo jazigo. Os caixões eram levados e sepultados individualmente sob salva de palmas. Douglas e David Moura Martins, 15, foram enterrados com a bandeira do time pelo qual torciam, o Corinthians.

“Tenho certeza que isso o deixou mais feliz”, disse a prima de David Kátia Vieira, 21. “Ele era fanático, sonhava em poder jogar pelo time de coração.”

Anailton Ailton Severino da Silva e Henrique Pereira Lima, ambos de 15, foram os últimos a ser sepultados, e chegaram a ter o nome gritado pelos presentes.

Um dos momentos mais marcantes, no entanto, foi a homenagem feita por alunos das EEs Professora Sada Umeizawa e Padre Afonso Paschotte, onde os jovens estudavam. Bilhetes escritos por cada um dos colegas foram colados em cartolinas, deixadas no túmulo.
“Estaremos sempre juntos. Essa foi a forma de eternizar o que estamos sentindo”, disse Aline Santos, 15, amiga dos meninos. “É estranho como num dia você está jogando futebol com uma pessoa e no outro ela está morta”, disse Cauã Rodrigues, 16. (Colaboraram Camila Galvez e Natália Fernandjes)

‘Parei de contar quando tirei o 23º corpo’, relata vizinho

Vizinho do Parque Guaraciaba há 35 anos, o aposentado Laerte Moscheli, 71 anos, já se acostumou com tragédias no Tancão da Morte. “Já tirei muito cadáver de lá. Eu os pegava nas costas e trazia até um local de acesso mais fácil. Parei de contar quando resgatei o 23º corpo”, lembra o morador da Avenida Valentim Magalhães.

Desde 2005, o parque é fechado para visitação pública. O aposentado reconhece que a Guarda Civil Municipal faz rondas no local diariamente para impedir o acesso pela entrada principal. “Mas o problema é que a molecada entra pelo morro da Cidade São Jorge, ao lado do aterro”, relata.

Segundo Moscheli, a maioria das pessoas que se acidentam no lago artificial vem de outros bairros. “A turma não conhece a área, não sabe do perigo que está correndo e se joga.” Ele diz que, apesar de o passeio ser convidativo no verão, não deixa ninguém de sua família mergulhar lá.

Embora crianças e jovens tenham sido a maioria das vítimas encontradas, o aposentado lembra que já resgatou adultos mortos no tancão. “Estava demorando para acontecer de novo”, critica. A última vez que um cadáver havia sido visto por lá foi em 2012, quando uma mulher foi achada com as mãos amarradas e uma pedra presa aos pés.

Moscheli afirma que, apesar de já ter visto muitos mortos na lagoa, nunca havia presenciado tragédia com cinco vítimas fatais de uma só vez. Desde a década de 1990, pelo menos 38 pessoas já perderam a vida no local, que antes era utilizado para exploração de pedra e areia. (Fábio Munhoz) 




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