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Aspectos psicológicos mexem com o bolso

Na hora de tomar a melhor decisão sobre dinheiro, traumas e emoções afetam a terceira idade

Por Andréa Ciaffone
do Diário do Grande ABC
02/09/2013 | 07:17
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Em 1976, Paulinho da Viola, então com 34 anos, escreveu<CF51> Pecado Capital</CF>, uma das músicas mais cantaroladas quando o assunto é administração das finanças. O músico, hoje com 70 anos, jamais poderia imaginar que os versos “Dinheiro na mão é vendaval, dinheiro na mão é solução, e solidão” acabariam virando uma espécie de mantra da sociedade brasileira.

“Especialmente para a geração que está com mais de 60 anos atualmente, a relação com dinheiro vem carregada de experiências difíceis, como os anos de hiperinflação e o confisco da poupança, e isso atrapalha o seu processo de tomada de decisões na vida econômica”, diz o professor doutor em psicologia social Daniel Branchini.</CW>

“Além disso, aspectos emocionais típicos da cultura brasileira, como o desejo de proteger os filhos e netos, interferem no julgamento das pessoas nas questões financeiras”, completa Branchini, que está lançando o livro Conquiste sua emancipação econômica pela Editora Mackenzie, e falou com exclusividade para o Diário.

VENDAVAL - O autor aponta que as gerações anteriores não tiveram a oportunidade de se planejar para o futuro, algo que só se tornou possível de 1994 para cá. “A insegurança financeira que a conjuntura econômica brasileira gerava provocou distorções na relação de toda uma geração com o dinheiro”, observa. “Por exemplo, causou uma dinâmica acelerada para o consumo. Algo compreensível em cenários de hiperinflação, quando a pessoa recebia o salário e ia correndo para o supermercado para o dinheiro não perder o valor e fazia estoque de mercadoria”, relembra.

O confisco da poupança e das aplicações pelo governo Fernando Collor de Mello, em 1990, também provocou efeitos devastadores na cabeça das pessoas. “Elas foram condicionadas pelas circunstâncias a agir de forma equivocada em relação ao dinheiro. Muitas acalentam a expectativa de que as coisas vão se resolver magicamente. Outras, resolvem ignorar fatos da realidade que colocam suas atitudes financeira em xeque. Há ainda os que acreditam que alguém vai aparecer lá na frente para ajudar”, enumera o psicólogo. Essa atitude equivale a acreditar na fada madrinha que vai transformar a abóbora em carruagem, quando na vida real o mais provável é que o carro do ano acabe se transformando em um abacaxi no médio prazo.

SOLUÇÃO - Outra atitude comum, porém prejudicial, apontada pelo professor, é decidir assuntos de grana de forma emocional. Uma das situações mais comuns em que essa confusão ocorre se relaciona aos empréstimos consignados. Como essa modalidade de crédito oferece juros bem mais baixos que os de mercado (em média 1,8% ao mês, enquanto o cartão de crédito chega em torno dos 9,3%), muitos idosos acabam contraindo empréstimos para ajudar familiares e acabam reduzindo ainda mais o seu orçamento, já achatado pela aposentadoria.

Segundo Associação dos Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, cerca de 256 mil aposentados e pensionistas estão endividados, o que equivale a 70% do total. Entre crédito consignado, cheque especial e cartões, a turma que já ‘pendurou as chuteiras’ acaba ficando com apenas 30% da sua renda para custear suas despesas.

“Entre os que tomam empréstimos para ajudar filhos e netos reina um desejo de se sentir útil, participando da vida familiar, ou mesmo uma dose de culpa por não ter criado alguém capaz de resolver suas questões financeiras sozinho. Esse é um quadro muito específico da nossa cultura, que mistura relações afetivas com as financeiras”, comenta.

SOLIDÃO - A depressão, problema que afeta cerca de 38% dos maiores de 60 anos na região, segundo estudo da Faculdade de Medicina do ABC realizado em 2008, também agrava a área econômica. “Os quadros depressivos acentuam o tipo de relação que a pessoa desenvolveu ao longo da sua vida com o dinheiro. Se era consumista, pode ficar descontrolado e se endividar. Se era avaro, pode começar a se privar desnecessariamente. Se era pródigo, pode agir de forma irresponsável”, observa. Para estes, se adapta melhor a canção de Tim Maia que diz “Não quero dinheiro, quero amor sincero, isso é que eu espero”.
 




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