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No tempo em que eu era útil

O amigo que há algum tempo eu não encontrava...

Por Carlos Ferrari
28/02/2013 | 00:00
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O amigo que há algum tempo eu não encontrava me disse tal coisa, que confesso ter me deixado perplexo, duas vezes. Uma pela naturalidade no tom de voz e a outra por trazer o adjetivo para si, um ser vivo dotado de sentimentos e inteligência. Disse ele: "no tempo em que eu era útil para aqueles que estão à frente da empresa, ganhava o mesmo, porém era mais chamado, mais ouvido, enfim, acho que era mais valorizado."

Conversamos bastante sobre o seu momento vivido. Em meio às nossas trocas de reflexões sobre o assunto, lembrei inclusive de alguns livros ou pequenos textos de autoajuda que invocam a necessidade das pessoas encontrarem meios ou atividades que as façam se sentir úteis.

O bate-papo, porém, nos levou também a entrar em uma outra dimensão relacionada à mesma temática, que creio que possa ser muito ‘bacana' mergulharmos juntos a partir de algumas provocações que trago nesse texto. Trata-se da pergunta: mas o que, então, faz com que determinada pessoa passe, de um momento a outro, a enxergar alguém útil como alguém inútil?

Notem que, trazendo essa questão, deixo de lado a possibilidade de nos rotularmos na perspectiva de graus de utilidade, até porque tenho a convicção que o ser humano não deve ser útil para quem quer que seja, mas pode sim, ser importante para tantos quanto possa e queira. 

Isso posto, também me parece claro que as pessoas podem ver no outro alguém a ser usado, e, logo, com essa leitura, estabelecem critérios para que, de um momento para o outro, possam transformar um colega de trabalho, um amigo, um amante, em figura supervalorizada, ou mesmo em sujeito descartável.

Traduzindo com exemplos, podemos dizer que o Zezinho pode ser útil ao Pedrinho, tomando por base critérios ou parâmetros como ganhos financeiros, acesso a outras pessoas importantes, espaços de poder, conhecimentos gerais e específicos, ou mesmo companhia para momentos de nada para fazer. Mas, por um outro olhar, podemos igualmente afirmar que Zezinho é importante para Maria, pois a faz sorrir, lembra-se dela em datas específicas e dias comuns, divide com ela seus momentos difíceis e importantes, conta com ela para superar desafios e compartilhar conquistas.

Então, podemos afirmar que ser percebido como útil por alguém, infelizmente, às vezes pode ser necessário, e nessas ocasiões é bom que tenhamos claro como somos vistos, mas, via de regra, no fim das contas, o rótulo atribuído acaba não sendo importante para nós.

Coisas podem ser úteis, pessoas devem ser importantes. Parafraseando Júlio César de Melo: "Não há pessoas úteis ou inúteis, escravos ou senhores, ricos ou pobres, fiéis ou pecadores, há apenas diferenças; tristes são aqueles que não compreendem isso e se julgam santos!"




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