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Mário Covas completa
dez anos no limite

Maior hospital público da região sustenta referência, mas
opera à beira da sobrecarga; avaliação é de superintendente

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
17/11/2011 | 07:00
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Há exatamente uma década o Hospital Estadual Mário Covas, localizado em Santo André, saía do papel com inauguração do governador Geraldo Alckmin (PSBD). Antes disso, a construção, que começou em 1978, foi interrompida inúmeras vezes por causa da constante troca de prefeitos e falta de repasses estadual e federal.

Hoje, realizando mensalmente 1.000 cirurgias, 1.300 internações e 15 mil consultas ambulatoriais, o hospital encontra-se no limite de sua capacidade. A avaliação é do superintendente Geraldo Reple Sobrinho, que administrou o hospital durante toda a década e deixará o cargo no fim de dezembro. O substituto será Desiré Carlos Callegari, atual diretor técnico e professor de Anestesiologia da Fundação do ABC, gestora do hospital.

O envelhecimento gradativo da população aliado ao aumento de 5% a 10% dos atendimentos anuais do hospital contribuíram para que surgisse a chamada demanda reprimida, não mensurada pelo superintendente, que significa a quantidade de pacientes que não conseguem vagas e atendimentos. Para Sobrinho, será muito difícil o hospital atender demanda maior que a atual. Em uma década, o hospital contabiliza 115 mil internações, 69 mil cirurgias e cerca de 2 milhões de exames.

"Estamos no limite. Mais procura colocaria o próprio atendimento em risco. Se ultrapassarmos poderemos ter problemas até na limpeza de leitos. Não conseguimos ocupar (com funcionários) 100% do hospital."

A solução para frear a sobrecarga está em afinar o discurso entre entre prefeitos da região e governo estadual com a discussão de prioridades de investimento e abertura de leitos.

PROBLEMAS

Durante os dez anos de gestão foi conquistado atendimento satisfatório às crianças que necessitam de cirurgia, de acordo com Sobrinho. Hoje, não há fila de espera para esse tipo de procedimento. No entanto, há dois relevantes gargalos: o acesso ao tratamento de pacientes oncológicos e vagas para cirurgias ortopédicas, que incluem colocação de próteses.

Para os pacientes oncológicos, principalmente em casos de câncer de mama, o problema não é conseguir a cirurgia, e sim dispor de tratamento. São feitas, em média, 700 quimioterapias mensais. "Não damos conta de tudo. Todas as cadeiras estão sempre ocupadas", diz o superintendente. Quando não há alternativas, esses pacientes são encaminhados aos hospitais da Capital. A central de regulação de vagas monitorada pelo Estado é responsável pela busca.

O investimento em medicina preventiva é uma das saídas para evitar o afogamento de hospitais que atendem casos de alta complexidade. Para isso, as prefeituras devem apostar na atenção básica. A ideia é evitar o agravamento de doenças que, se bem controladas, não levarão o doente à internação. "Quando os municípios tiverem com ampla cobertura nessa área começará a diminuir o fluxo até nas Unidades Básicas de Saúde. Acredito que, com o funcionamento de novos hospitais municipais, a partir do ano que vem teremos outra realidade."

Hoje, o orçamento é de R$ 120 milhões anuais. Durante os dez anos, pelo menos R$ 30 milhões foram gastos para aquisição de equipamentos. O hospital tem 1.760 funcionários, 349 leitos, 27 consultórios e 13 salas cirúrgicas.

Demanda de pacientes com convênio chega a 30%

Apesar de o Hospital Mário Covas ser público, a referência no atendimento de neurocirurgia, ortopedia, pediatria e cirurgias cardíacas, entre outros, também atrai pacientes que possuem convênio médico e poderiam buscar tratamento na rede privada. Esse montante significa 20% a 30% dos atendimentos realizados. "O Sistema Único de Saúde é universal e atende indiscriminadamente. Não podemos perguntar antes de realizar o procedimento", explicou o superintendente Geraldo Reple Sobrinho.

A destinação de 25% dos leitos de hospitais estaduais gerenciados por organizações sociais aos pacientes com convênio surgiu meses atrás, depois de lei aprovada na Assembleia Legislativa. Porém, liminar na Justiça expedida em agosto impediu a venda dos leitos. Na época, os gestores de Saúde da região consideraram a ideia uma "tragédia."

SOLENIDADE

Em comemoração aos dez anos do hospital, haverá cerimônia hoje, às 19h, no Anfiteatro Grande ABC, na própria unidade. São aguardadas autoridades estaduais e dos sete municípios.

Descentralização pode vir com novos hospitais

Com as inaugurações de pelo menos dois grandes hospitais previstas para 2012, em Ribeirão Pires e São Bernardo, a expectativa é que haja descentralização dos atendimentos de alta complexidade, apesar de que os departamentos dos novos hospitais entrarão em funcionamento paulatinamente.

A falta de referência para atendimento de casos graves levantou a discussão sobre a construção do terceiro hospital estadual, além do Mário Covas e do Serraria, em Diadema. Para o superintendente, é preciso esperar. "Antes de pensar nisso, é preciso analisar qual será a demanda após as inaugurações. Além disso, temos novos AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) e UPAs (Unidades de Pronto Atendimento). Um hospital não é erguido da noite para o dia. O Mário Covas demorou oito anos para funcionar em sua plenitude", disse Geraldo Reple Sobrinho.

BALANÇO

O superintendente faz balanço positivo de sua gestão. Apesar de avaliar que a situação ainda não é a ideal, acha que os usuários estão satisfeitos com o atendimento prestado e que a vinda de dois hospitais estaduais trouxe referência ao paciente do Grande ABC, que hoje não depende exclusivamente de hospitais da Capital. O índice de aprovação do Mário Covas passa de 90%. "Nossa prioridade sempre foi dar atendimento humanizado ao paciente e à família. Com a vinda dos hospitais estaduais melhorou o acesso ao tratamento e internações.

Além disso, todos os municípios investem pelo menos 20% do orçamento na Saúde. Caso contrário, a situação estaria muito pior."




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