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Crime se combate sem crime

Há quase 20 anos, quando a polícia matou 111 presos ao invadir a prisão do Carandiru, muita gente elogiou a

Por Carlos Brickmann
17/08/2011 | 00:00
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Há quase 20 anos, quando a polícia matou 111 presos ao invadir a prisão do Carandiru, muita gente elogiou a barbárie: "Lá não tinha santo. Os bandidos não estavam rezando". Este colunista não é santo, como boa parte de seus leitores; como boa parte de seus leitores, dificilmente será visto rezando. Não é por isso que deva ser morto ou maltratado. Como não devem ser humilhadas, nem tratadas fora do que manda a lei, pessoas apenas acusadas e que nem julgadas foram. E, se tivessem sido julgadas e condenadas, teriam de ser tratadas dentro da lei.

Ah, mas nos Estados Unidos todo mundo que é preso é algemado. Pode ser - e daí? Lá existe pena de morte, aqui não. A lei deles é uma, a nossa é outra. Não gosta da nossa? Lute para mudá-la. O que não se pode é permitir que delegados indisciplinados, sem comando, desafiem determinações do Supremo Tribunal Federal.

A avalanche de manifestações em favor de humilhar pessoas presas é assustadora. Confunde prisão para averiguação com condenação; considera que uma pessoa condenada deixa de ser gente. Está errado: entre os condenados há muita gente ruim, gente de má índole, gente perigosa, mas que continua sendo gente.

O argumento de que ninguém protesta contra humilhação a pobres é fraco. Isso não se corrige humilhando os outros, mas deixando de humilhar pobres. E, na história, os avanços sempre beneficiaram primeiro os poderosos. A Magna Carta britânica, mãe das liberdades atuais, é uma carta de privilégios de nobres. Só depois o povo foi beneficiado. O correto é incluir todos, em vez de a todos excluir.

DOIS LADOS MAUS - A humilhação a presos não é apenas uma questão de princípio (pois quem sai da lei para humilhar está a um passo de sair da lei para bater e torturar). É também uma questão de fato: a Justiça, por melhor que seja, não é infalível. Alguém foi preso pelo assassínio dos Irmãos Naves - que, anos depois, reapareceram vivos. Ninguém tinha dúvidas sobre o crime de traição cometido pelo capitão Dreyfus, na França - até que se descobriu a fraude que alimentava a acusação. Ninguém tinha dúvidas sobre a culpa de Tiradentes. Todos foram humilhados.

AS ORDENS DO CRIME - Vale a pena acompanhar as investigações sobre a morte da juiza Patrícia Accioly. Isso de divulgar os namoros que teve leva todo o jeito de desvio de foco.

VIDEOGAME NO SERVIÇO - A Boeing, fabricante dos caças F-18 Hornet que participam da concorrência para fornecer uma esquadrilha à Aeronáutica, colocou no Congresso um simulador de voo, para que os parlamentares possam brincar de pilotos de combate.

1 - Imagine que suas excelências consigam manusear o equipamento e simular um combate aéreo. Como saberão se o F-18 se saiu melhor que os concorrentes Grippen, da Suécia, e Rafale, da França?

2 - A FAB estudou os três modelos e emitiu sua opinião - opinião de quem entende, de quem vai usar os caças, de quem conhece as nossas necessidades de equipamento. Estarão suas excelências em condições, após brincar com o videogame da Boeing, de discutir a questão a sério com o pessoal da FAB?

 POR FALAR EM JATOS - A Vasp e a Transbrasil estão fora do mercado há muitos anos. Mas seus aviões, que aos poucos se transformaram em sucata, continuam ocupando espaço nos aeroportos. Agora, a Infraero anuncia que os aviões serão desmontados e retirados do aeroporto de Congonhas (SP). O trabalho começa na terça-feira, às 15h. Pergunta: por que não na segunda-feira, de manhã? Resposta: para permitir que excelências com agenda cheia estejam na cerimônia. O trabalho que espere.




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