O cardeal espanhol Julián Herranz, especialista em assuntos jurídicos do Vaticano, disse neste domingo que o papa João Paulo II não renunciará ao seu cargo de chefe da Igreja Católica "porque não é o presidente de uma multinacional como a Coca-Cola ou a General Motors".

"A decisão de João Paulo II de continuar guiando o catolicismo é algo que a opinião pública não entende porque acredita que Igreja é uma multinacional, como a Coca-Cola ou a General Motors", declarou Herranz. "As pessoas se perguntam a razão de o papa não renunciar, como fazem os dirigentes de grandes companhias. Elas ignoram que existem duas missões no seio da Igreja: a canônica e a divina", continuou o cardeal, em uma entrevista ao jornal La Stampa.

"A missão canônica é um ato jurídico através do qual se confere uma obrigação ou um governo. A missão dos bispos é tipicamente canônica. Um bispo assume a direção de uma diocese, pois o papa assim quis", explicou. "Já para o papa a situação é diferente. O poder soberano do pontífice deriva de Cristo, e sua missão como seu representante na Terra é divina. O Santo Padre não deve responder ante qualquer ser humano, já que sua missão é divina", afirmou.

As precárias condições de saúde de João Paulo II, que foi hospitalizado duas vezes em menos de um mês, reativaram o debate sobre a possibilidade de que renuncie ao trono. Ele sempre rejeitou a idéia da renúncia e confirmou inúmeras vezes que permanecerá como chefe da Igreja católica até morrer.