Economia Titulo
Indústria depende do avanço econômico
Priscila Dal Poggetto
Do Diário do Grande ABC
21/01/2007 | 21:25
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No país onde as malhas ferroviárias têm papel secundário no escoamento de mercadorias, praticamente todas as rotas traçadas pelas transportadoras são obrigadas a passar pelas quase 2 milhões de estradas, que interligam o Brasil. A sintonia entre produção e logística afeta diretamente o mercado brasileiro de caminhões, e acompanha a oscilação da economia.

O ano passado foi fraco para o segmento, que registrou queda de 5,1% nas vendas. O volume de 76,3 mil unidades vendidas apenas foi atingido porque a recuperação do agronegócio demandou mais veículos para transporte no segundo semestre.

O destaque ficou para o mês de dezembro. No comparativo mensal, o período mostrou aumento de 8,4% no licenciamento de caminhões novos, sobre novembro, com o total de 7,282 mil unidades. Já em relação a dezembro de 2005, o acréscimo foi de 9%. É com base no crescimento mês a mês – de julho até dezembro do ano passado – que o mercado aposta em 2007.

A Scania – que mantém fábrica em São Bernardo – registrou queda de 3,1% na venda de caminhões no ano passado, e já inicia 2007 com o lançamento de uma série especial de caminhões, a ‘Silver Line’.

Segundo a empresa, o público-alvo da nova série, limitada a 400 unidades, são motoristas autônomos e empresários que “procuram dar maior prestígio e identidade a suas frotas”.

O gerente-executivo de vendas de caminhões da montadora, Roberto Leoncini, fala sobre as expectativas da empresa para 2007 e analisa o processo de troca da frota brasileira de caminhões pesados – renovação considerada pela Anfavea, associação que representa os fabricantes do setor automotivo, como essencial para o crescimento econômico do país.

Segundo ele, se não houvesse a recuperação da indústria sucroalcooleira, de papel e do setor de mineração, os números não passariam de 18 mil unidades de caminhões pesados comercializados.

DIÁRIO – Até o primeiro semestre, o mercado de caminhões pesados, em especial, mostrou desempenho pífio. Qual setor da economia foi o principal colaborador para essa queda?

ROBERTO LEONCINI – No primeiro semestre foi a crise da soja, que gerou pessimismo de preço. Isso fez com que o mercado suspendesse investimentos. O mercado reflete as oscilações econômicas: renova a frota para reduzir custo operacional ou a amplia quando pede novos contratos. Porém, quando não tem um dos dois, postergam a renovação. O mercado só investe quando enxerga um cenário otimista.

DIÁRIO – O que estimulou o setor no segundo semestre?

LEONCINI – Dentro do agronegócio da cana-de-açúcar, foi preciso o uso de caminhões para fazer a colheita e o transporte de álcool e de açúcar. Além disso, a demanda de madeira para papel e celulose cresceu bastante. Com a expansão do segmento, as próprias papeleiras precisaram de mais veículos para transporte. Também tivemos bons resultados da mineração. A Vale do Rio Doce, assim como outras companhias, expandiram a produção. Nesse caso, é preciso de caminhões adequados para a extração mineral e para transportar suprimentos até a mina. Outro fator, também relevante, foram as exportações de automóveis, que demandaram mais cegonheiros e fornecedores de insumos. Toda a cadeia que trabalha com o just in time demanda caminhões.

 

DIÁRIO – Então o segmento funciona como um termômetro da economia?

LEONCINI – Sim. Quando você começa a ter definição do governo, a ser beneficiado com a safra agrícola, começa a perder o medo, Isso faz com que os transportadores comecem a se movimentar. A cadeia se renova e começa a aparecer os negócios. É um mercado que depende de boas notícias macroeconômicas.

DIÁRIO – Diante desse cenário quais são as perspectivas da Scania para o ano?

LEONCINI – Trabalharemos com a mesma proporção de 2006, que ficou muito perto de 2005, quando foram comercializadas 20,2 mil unidades na categoria caminhão pesado. Temos que pensar nessa proporção, apesar de eu achar que vai ter processo natural de renovação de frota nesse ano.

DIÁRIO – O que o faz acreditar em tal renovação?

LEONCINI  - Essa renovação estava prevista para acontecer durante o ano passado. Então, se não aconteceu em 2006, as empresas transportadoras terão de investir. O prazo de vida dos veículos vem caindo.

DIÁRIO – E qual é o atual tempo de vida útil desse tipo de veículo?

LEONCINI – No caso desses utilizados pelas transportadoras são cinco anos, no máximo. Entretanto, para o mercado de veículos usados, esses caminhões são classificados como semi-novos. Ou seja, a renovação da frota depende do preço do caminhão usado, que oscila muito com a demanda de carga. Se não tem carga, a venda de caminhão usado cai. É bem a lei de oferta e procura.

DIÁRIO – Os investimentos das transportadoras seriam já para a primeira metade do ano?

LEONCINI – O início deste ano está meio nebuloso. Tudo indica que a renovação vai acontecer no primeiro semeste. No entanto, como eu disse, vai depender do preço do caminhção usado. Tem que pensar dentro do mercado em geral.

DIÁRIO – O senhor ressaltou as aquisições das empresas de logística. E no caso dos caminhoneiros independetes, o programa Procaminhoneiro, do BNDES, conseguirá ajudar na renovação da frota, que hoje tem 16 anos de uso, em média?

LEONCINI – O Procaminhoneiro sofre com as barreiras do crédito. É muito difícil para o caminhoneiro comprovar renda, o que serve como garantia para o banco financiador. Este é um paradigma a ser quebrado. Todos que estão envolvidos como programa tentam achar uma maneira, mas é complicado. Afinal, o valor do bem é alto e implica em riscos.

DIÁRIO – Em 2006, o programa foi implementado. Já houve resultados?

LEONCINI – O que foi feito no ano passado melhorou muito. Antes, não tinha nenhuma venda para caminhoneiro. De nenhuma unidade para 120 o resultado pode ser visto como positivo.

DIÁRIO – Então a Scania espera novas adesões neste ano?

LEONCINI – Sim. Todo o esforço do BNDES gera movimento positivo. A rede inteira da Scania está treinada para fazer os contratos. No ano passado, fizemos a venda de um terço das 120 unidades. Alguns dos nosso clientes já tinham características do programa. Avançamos, demos um passo bem rápido. Esta, participação do procaminhoneiro vai ser melhor, mas não tenho expectativa. Estamos preparados. Vai depender do cliente fazer a opção normal ou Procaminhoneiro.

DIÁRIO – A Scania pretende fabricar caminhões com preços mais baixos?

LEONCINI – Não, porque a gente trabalha com o sistema modular. Com isso, o cliente tem a alternativa de montar um caminhão de acordo com seu perfil. Existe o modelo básico, que respeita as exigências técnicas mínimas da Scania, e a pessoa opta pelos itens diferenciais. Se tirar o conforto, por exemplo, o preço fica menor.

DIÁRIO – Naturalmente, essas opções influenciam na revenda...

LEONCINI – Com certeza. Quando o cliente faz a opção ele tem de pensar no momento da revenda. Como o mercado entede que os caminhões Scania têm um padrão de qualidade, quanto mais itens são retirados o veículos desvaloriza demais. No mercado de pesados isso é mais sentido. Existem os modelos rodoviários e os fora-de-estrada, que são específicos para mineração, contrução e extração de madeira. São mercados distintos com necessidades diferentes. Por isso, exigimos um padrão mínimo.

DIÁRIO – Como foi o fechamento do balanço da Scania em 2006?

LEONCINI – Comercializamos 5,47 mil unidades, sendo que 876 foram caminhões fora-de-estrada e 4.171 rodoviários. Tivemos 25,7% de participação total no mercado. Somente na categoria 8X4, específico para mineração, tivemos 82% de participação no mercado. Apesar dos números, nos interessa muito mais ter market share dentro das aplicações. Como o mercado de pesados exige manutenção constante, investimos mais nos serviços de atendimento.



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