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1,6 mil famílias do CDHU correm risco de despejo
Por Paula Nunes
Do Diário do Grande ABC
03/09/2006 | 21:15
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Cerca de 1,6 mil mutuários da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), 24,81% dos 6.917 que posssuem seus contratos ativos no Grande ABC, podem ser despejados de suas casas pela autarquia estadual. Isso porque eles não conseguem pagar suas prestações. Somente em Santo André, no conjunto habitacional do Jardim Santo André, local onde moram cerca de 75 mil pessoas, 300 estão respondendo a ordens de despejo. Segundo o presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Habitacional do bairro, Evandir Francisco dos Santos, neste ano, seis imóveis já passaram por reintegração de posse.

Quando isso acontece, as famílias acabam indo morar na casa de parentes. “É uma tristeza ver as pessoas sendo colocadas para fora.”

Das seis famílias removidas em fevereiro, uma conseguiu na Justiça voltar ao imóvel. O beneficiado foi o aposentado Luis Carlos Gomes, 56, que comprou a casa de um mutuário e passou a pagar as prestações do financiamento no nome do antigo proprietário. Teve de arcar com débitos de oito anos deixados pelo antigo morador. Quando conseguiu quitar a dívida, veio a remoção. “Provei que pagava as prestações direitinho e pude voltar”, conta. Agora, Gomes aguarda outra decisão da Justiça: a que garantirá a ele ser o titular do financiamento.

A prática de comprar os imóveis de mutuários registrados na CDHU com contrato de gaveta é comum, mas, oficialmente, não é permitido pela autarquia. O diretor administrativo financeiro da CDHU, Fernando Birro, diz que está na Assembléia Legislativa um projeto de lei que autoriza o reconhecimento dessas transações depois de dois anos de financiamento, desde que não exista atraso no pagamento das parcelas. Em um recente estudo de campo feito por Birro, quando o diretor analisou 5 mil casos de inadimplência em todo o Estado, a descoberta foi de que a maioria dos débitos eram referentes a esses contratos e que os atuais moradores não recebiam os carnês porque o financiamento não estava no nome deles.

Esse é o caso da comerciante Ana Luiza Indalecio Perez, 51. Quando adquiriu seu imóvel há 10 anos, as parcelas vinham nominativas ao antigo proprietário e chegaram a valer R$ 700. Quando atingiu este valor, em meados de 2002, Perez deixou de pagar. Desde então, não mais recebeu o carnê. “Vou ter que entrar na Justiça para conseguir transferir para o meu nome o imóvel e renegociar a dívida”, diz.

Também correndo o risco de perder a casa por conta do alto valor da prestação, a dona-de-casa Helga Lemke Bonani, 58, nem consegue dormir direito. O mutuário de quem comprou o imóvel negociou as parcelas em R$ 700. “Ele tinha um salário alto”, explica Bonani. Seu filho, agora o responsável pelo pagamento do financiamento, tem uma renda mensal média de R$ 580, o que inviabiliza o pagamento. “Já fomos negociar três vezes, mas eles não abaixam o valor porque o sobrado está no nome do antigo proprietário”, lamenta.



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